quinta-feira, 6 de junho de 2019

Percepções

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Tudo o que acontece ao nosso redor passa pelo crivo constante de nossa parte, e nossos julgamentos podem ser corretos ou não acerca do que percebemos. Uma pessoa, ao sentir uma dor no peito, pode estar à beira de um infarto, e neste caso, sua percepção a livra da morte. Outra pessoa, entretanto, pode sentir uma dor no peito, e ao realizar exames médicos descobrir que não é nada grave, ou, até mesmo, nada.

Aos trinta e dois anos de idade, morando no Rio de Janeiro,  comecei a sentir uma dor incômoda no peito, e procurei o cardiologista que depois de fazer os procedimentos preventivos me deu a boa notícia de que não havia nada de errado com meu coração. Eu havia perdido dois amigos num curto espaço de tempo e havia somatizado minha dor. 

Jordan B. Peterson, terapeuta e filósofo, no seu livro “12 regras para a vida”, narra seu encontro com um paciente que foi de fato, perseguido por um esquilo, quando fazia um passeio pela floresta.

“O que você ouve na floresta, mas não consegue ver, pode ser um tigre. Pode ser até um bando de tigres, um mais faminto e cruel do que o outro, liderados por um crocodilo. Mas também pode não ser. Se você virar e olhar, talvez veja que é só um esquilo. Se você recusar a olhar, porém, será um dragão, e você não é um cavaleiro: é um rato confrontando um leão; um coelho paralisado pelo olhar de um lobo”.

A verdade é que, mesmo o que é terrível, frequentemente perde significância quando comparado ao que é terrível na imaginação. “A realidade ignorada se transforma na Grande Deusa do Caos, o grande e reptiliano Monstro do Desconhecido”.

Diante do possível engano, tente organizar seus sentimentos dando nome certo àquilo que lhe acontece. Nomear é perigoso ou libertador. Se nomearmos erroneamente podemos nos transformar em vítima daquilo que afirmamos a nosso respeito. Mas se nomearmos corretamente, a culpa, o medo e o passado podem ser redimidos quando usamos as palavras corretas.

É importante lembrar que nossos medos e fantasmas crescem melhor no escuro. Da mesma forma, o mal e o fungo se desenvolvem na penumbra, lugar onde a traça, a ferrugem, ratos e lacraias se escondem porque falta luminosidade. O sol afugenta o mal. A verdade nos liberta das trevas. Descobrir que o esquilo é apenas um esquilo, é altamente libertador. Saímos das trevas do medo, lançamos luz no imaginário e sombrio.

Percepções e julgamentos corretos, nos ajudam a entender quem realmente somos e assim, podemos identificar e simplificar as ameaças e reduzir a complexidade. Ajudam também a lidar com os outros e saber melhor como responder e se defender de relacionamentos e amores tóxicos.

Dê nome certo àquilo que você percebe, ou então, você será sempre presa da mórbida imaginação e da ameaça imaginária. Este é um caminho bem próximo da paranóia.

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