Cerca de 20 anos atrás, o psicólogo cognitivo, Daniel Simons, fez interessante pesquisa sobre a visão, investigando o que ele chamou de “cegueira por desatenção”, tentando demonstrar a dependência que a visão tem do foco e do valor que damos àquilo que consideramos mais importante, sem perceber todos aspectos e detalhes presentes no campo de visão.
A demonstração que o fez famoso foi algo inacreditável. Ele produziu um vídeo de dois times de basquete com três pessoas cada. Um time usava camisas brancas e outro, pretas. Aquelas seis pessoas preenchiam quase toda a tela do vídeo, portanto eram facilmente percebidas. Cada time tinha a própria bola, e a arremessavam na cesta ou jogavam para os companheiros de equipe. Com o vídeo pronto, Simons mostrou aos participantes pedindo que cada um contasse quantas vezes o time de camisas brancas lançava a bola entre eles, e a maioria ficou atenta e respondeu corretamente, e todos se sentiram bem por terem acertado. Foi então ai que o Dr. Simons perguntou: “Vocês viram o gorila?”
Os participantes acharam que se tratava de uma piada! Um gorila? Ninguém tinha visto! Mas quando o vídeo foi novamente apresentado, perceberam que após um minuto de jogo, um gorila entra bem no meio do campo, por alguns longos segundos, bate no peito daquela forma esteriotipada, bem visível, e agora todos percebem a cena bizarra de um orangotango no meio do jogo e que passara despercebido por todos eles.
Conclusão: Nós vemos o que queremos ver, e não necessariamente o que nos é apresentado. A verdade é que fazemos uma triagem quando olhamos as coisas. Fisiológica e neurologicamente, a maior parte de nossa visão é periférica e de baixa resolução. Direcionamos nossa visão para as coisas que focamos.
Por isto é tão fácil termos uma visão distorcida dos fatos. Pessoas traídas que se recusam a acreditar, porque não querem acreditar. Mães que não disciplinam os filhos por pequenos delitos, porque se recusam a crer que seus filhos criados com tanto amor possam ser ameaçadores ou perigosos. Ideologias que levam as pessoas a crerem naquilo que querem crer. Paranoicos que desenvolvem uma leitura de suspeição dos eventos e não conseguem acreditar em ninguém, porque todos parecem perigosos e suspeitos! Esquizofrênicos que se tornam vítimas de suas alucinações e delírios...
As pessoas se tornam cegas pelos seus desejos. Uma paixão torna a pessoa incapaz de ver os riscos de um relacionamento tóxico, a ambição impede o outro de ser solidário e íntegro. O preço que se paga por este foco excessivo, é a cegueira para todo o resto.
Certamente era deste risco de uma visão deformada e distorcida da vida e de Deus que Jesus estava se refere : “A lâmpada do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mt 6.22)
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