Mark Lilla, profunda estudiosa de Montaigne
escreveu: “Para a maior parte dos humanos, a curiosidade em relação às coisas
mais elevadas acontece com naturalidade; é a indiferença para com elas que
precisa ser aprendida”.
Se o pensamento de Lilla está correto, podemos
então afirmar que, o ateísmo, e não a fé, é antinatural. Antropologicamente
falando, o ser humano possui o senso inato de sacralidade, admiração, devoção,
espiritualidade e eternidade. Ele nasce com a propensão para a transcendência.
A Bíblia afirma que “Deus pôs a
eternidade no coração do homem”.
Isto é perceptível no fato de que todas as culturas
desenvolvem naturalmente uma ideia do Sagrado, ainda que de forma superficial
ou equivocada. “Desde as mais primitivas até às mais elaboradas, em todos os
rincões do planeta terra. Os povos animistas adoram a natureza. Outros
desenvolvem um senso de espíritos e entidades, sem que jamais tenham sido
influenciados por missionários ou religiosos. Em todas culturas há um senso de
algo maior”.
Para ser honesto, a única sociedade que insiste na
negação do conceito de uma divindade tem sido o secularismo moderno, que
sustenta que “as pessoas são entidades físicas sem alma, que os entes queridos
deixam de existir quando morrem, que as sensações de amor e beleza, não passam
de fatos neurológicos e químicos, que não existe certo ou errado fora do que
nós, em nossa mente, determinamos e escolhemos. (Tim Keller).
As pessoas creem em Deus porque o senso do sagrado
é intuitivo e natural, não porque lhes é ensinado. Na verdade, os pagãos
constroem seus nichos e altares e desenvolvem conceitos de divindades, muitas
vezes bizarros, porque são atraídos a um senso de mistério e sobrenaturalidade,
mas creem em Deus, não apenas pelo fato de sentirem algo emocional, mas porque
isto explica o que veem e experimentam.
O apóstolo Paulo fala dos pagãos (pessoas afastadas
do Deus verdadeiro), que possuem a “norma
da lei escrita em seus corações”, testemunhando-lhes também a consciência,
porque a sacralidade é claramente percebida por meio das coisas que foram
criadas, e a própria natureza fala e aponta para algo mais – Transcendência –
por isto, negar esta realidade não apenas escapa do processo natural
antropológico, mas nos torna culpados diante de Deus.
A alma humana percebe que a vida é mais do que um
ajuntamento de moléculas e átomos acidentais, mas adquire sentido na dimensão
eterna. Como bem afirmou o declaradamente ateu Jean-Paul Sartre: “Nenhum ponto
finito faz sentido se não estiver conectado a um ponto infinito”. A transcendência
e espiritualidade, e apenas isto, é capaz de dar sentido e significado a alma
humana.
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