C. John Sommerville, professor emérito de história
da Universidade da Flórida, desafiava seus alunos ao seguinte exercício de
ética: Se você encontrasse uma pessoa frágil carregando uma determinada quantia
de dinheiro, e ao analisar sua compleição física percebesse que seria fácil
roubar a bolsa e se evadir, por que você decidiria não fazer?
Duas são as respostas possíveis: uma cultura
pautada em honra e vergonha diz que não se deve fazer isto porque é algo vil e
você seria considerada uma pessoa desprezível e indigna de ser respeitada,
trazendo desonra para sua família. Não seria atitude de alguém forte e nobre.
Por mais que esta resposta pareça correta, ela
ainda esbarra num ponto: Tal ética está baseada na preocupação consigo mesmo, você
está pensando na sua família, sua honra e reputação. O centro de sua atenção é
você mesmo.
Outra resposta mais ampla poderia ser dada: Você
não a assalta porque imagina quão doloroso e traumático seria esta experiência,
além do mais, o dinheiro do assalto poderia ser o básico para sua subsistência.
Neste caso, a questão seria: “Se eu a roubasse, o que aconteceria àqueles que
dependem de seu recurso?”
Apesar das duas linhas de raciocínio impedirem você
de cometer tal crime, a primeira é uma ética baseada na reputação, enquanto a
segunda está preocupada com o outro.
Sommerville afirma: “Um sistema baseado na honra
mostra a ética de alguém que se preocupa consigo, enquanto um sistema baseado
no outro, revela uma ética mais profunda”. Esta é, na essência, o fundamento da
ética cristã.
O problema da ética voltada para “a reputação”, é
que, se os fatores de risco forem retirados, a pessoa certamente cometerá
crimes. O que a mantém integra não é o seu caráter, mas o medo da punição. Se
for possível cometer o erro e sair ileso, ela não hesitará em agir com
deslealdade.
Uma conhecida estória ilustra este ponto: O guarda
de trânsito detém o infrator que acabou de ultrapassar o sinal vermelho. Ao
abordá-lo lhe pergunta: “Você não viu o sinal vermelho?”. E ele respondeu: “O
sinal eu vi. Não vi foi o senhor!”.
O que impede a ética da reputação de infringir a
lei é o risco, e não a consciência. Quando a corrupção está instalada na
sociedade, o respeito à ordem só acontece por causa do medo da punição.
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A realidade endêmica da corrupção no Brasil pode
ser vista nesta perspectiva. O corrupto impede o ensino de melhor qualidade, o
lanche para as crianças da escola, professores em melhores condições de
trabalho. Cria ainda obstáculos para uma melhor qualidade na saúde e na
segurança da cidade. Não leva em conta a pessoa idosa e o pobre que precisam
ser assistidos por uma saúde melhor. O corrupto não considera o outro, mas
somente a si mesmo. Pouco lhe importa se a carne está adulterada, se o remédio
está vencido, se pessoas morrerão, se a cidade apodrecer sem recursos. Sua
ética não considera os outros, mas apenas a si. Trata-se, portanto, ainda de
uma distorção ética.
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