O canal Discovery Channel lança ainda
este mês um documentário sobre a importância da fé. Sua chamada é: “Feche seus
olhos, olhe para dentro. A resposta está dentro de você! Belief!”
Esta proposta pode ser atraente, mas
esbarra em alguns problemas:
Primeiro, este não é o tipo de
espiritualidade cristã. Olhar para dentro é uma das formas de contemplação e
meditação, mas corre o risco de se tornar um ensimesmamento. Embora os
solilóquio seja importante, e é válido a conversa com o próprio coração, a
alternativa cristã passa pela oração, que se dirige não para dentro de nós, mas
para um Deus além de nós. A fé cristã aponta para um Deus fora de nós,
Deus presente, mas que não é o inner-self, mas alguém fora de nós. Não
encontramos Deus olhando para dentro, mas para fora: “Deus habita num alto e
sublime trono, mas habita também com o contrito de espírito”. Confundir Deus
com o meu coração e minhas impressões é tão perigoso quanto confundir Deus com
a “mãe natureza”. Natureza é criação de Deus, não tem personalidade. É
criatura, não criador. Da mesma forma, se olharmos para dentro de nós,
dependendo da condição emocional e espiritual, teremos uma tendência maior à
depressão, desilusão e cinismo.
Outro problema de achar que a
resposta está dentro de nós, é que isto desemboca no subjetivismo.
Na belíssima música do Almir Sater e
Paulo Simões, “O Vento e o Tempo”, vemos como isto é fácil de acontecer. Ela
diz assim: “Por mais que tente, não entendo. Todo mundo enlouquecendo. Quem é
que está com a razão? E tanta gente ainda lendo. Velho e Novo testamento, sem
compreender a lição. Verdade é voz que vem de dentro, e mata a sede dos
sedentos, o pior entre os meus sentimentos, de mim foi levado enfim pelo
tempo”. Veja o que ele propõe: Verdade não está em um livro sagrado, mas “é voz
que vem de dentro”. O subjetivismo crê que a verdade está dentro de si, e não
fora. Não existe verdade objetiva, nem externa. A verdade é o que você propõe
ser verdade, e aquilo que você acredita ser verdade, torna-se verdade.
Portanto, nada é verdade, a não ser que eu afirme e creia ser verdade. A
verdade deixa de ter a definição de Sócrates que dizia que “a verdade é o que
é”, para se tornar “aquilo que creio que é verdade”.
Percebem como isto facilmente e torna
um pensamento mágico?
No entanto, 85% dos jovens atualmente
crêem que a verdade é aquilo que você crê ser verdade. Steve Jobs, fundador da
Apple, teve um câncer de pâncreas e morreu rapidamente porque se recusou a usar
os métodos tradicionais e preferiu fazer um tratamento à base de ervas que seus
gurus espirituais da Índia lhe forneciam. Sua recusa foi patética e arrogante,
mas ele acreditava que ele tinha a verdade, e por isto recusou a medicina.
“Belief” é um estilo de vida e uma
necessidade. Como precisamos crer. Jesus encorajou seus discípulos a crerem.
“Não se turbe o vosso coração, crede em Deus, crede também em mim, na casa de
meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu não lhes diria, pois vou
preparar-vos lugar”. A proposta de Jesus é que desenvolvêssemos uma fé, não em
nós mesmo, não auto-contemplativa e introjetada, mas uma fé que transcenderia o
nosso ser, e se encontraria em Deus. Crer não é um exercício de introspecção,
mas abertura das janelas da alma para um Deus transcendente.
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