terça-feira, 19 de abril de 2016

Abnegação

O dicionário define abnegação como uma ação caracterizada pelo desprendimento e altruísmo, em que a superação das tendências egoísticas da personalidade é conquistada em benefício de uma pessoa, causa ou princípio; dedicação extrema; altruísmo. Trata-se de renúncia ascética à própria vontade em função de anseios místicos ou princípios religiosos, ou um sacrifício voluntário dos próprios desejos, da própria vontade ou das tendências humanas naturais em nome de qualquer imperativo ético.
Sempre considerada uma virtude cristã, ultimamente tenho percebido que abnegação, na verdade, para muitos se parece negativa. Tenho alguém na família conhecida por todos como abnegada, e é fácil  perceber como sua filha se irrita quando ela abre mão de privilégios para socorrer e ajudar outros, eventualmente em prejuízo de si mesma. Para a filha, sua mãe é tola, subserviente, sem vontade própria e capacho. Antes de julgarmos o veredito da filha, pergunte a si mesmo: Não é assim que realmente pensamos?
Hoje ouvi dois relatos que revelam como abnegação é complicada.
Uma viúva casou-se com outro viúvo, e o relacionamento aparentemente era muito positivo, afinal, eles eram da mesma igreja, não eram tão idosos e os filhos demostraram apreciação pelo relacionamento dos dois, já que eram do mesmo nível social, tinham saúde, tempo e dinheiro para viajar, mas depois de oito anos, o marido descobriu um câncer de próstata, e ela pediu separação confidenciando a amigas próximas que já havia cuidado de seu pai, doente muitos anos, e não queria agora cuidar de outro velho.  
Uma jovem casada por sete anos, viu a saúde de seu marido decair severamente com graves crises psiquiátricas que o levaram a profunda depressão. Toda a família teve de se envolver para apoiar o triste quadro de saúde que ele enfrenta no momento. A mulher, porém, decidiu se separar, afirmando que só tem uma vida prá viver e que não se imagina casada com um homem doente pelo resto da vida. Afinal, “Eu não tenho direito de ser feliz?”

Percebem como abnegação é complicada? Qual seria sua resposta/reação a situações como estas: Condenaria? Concordaria? Aprovaria? Questionaria? Você diria como Marguerite Yourcenar: “Quanto amargor fermenta-se no fundo da doçura, quanto desespero esconde-se na abnegação e quanto ódio mistura-se ao amor”, ou optaria pela anônima declaração: “Quando o eu não é negado, ele é necessariamente adorado?” 

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