O dicionário
define abnegação como uma ação caracterizada pelo desprendimento e altruísmo,
em que a superação das tendências egoísticas da personalidade é conquistada em
benefício de uma pessoa, causa ou princípio; dedicação extrema; altruísmo. Trata-se
de renúncia ascética à própria vontade em função de anseios místicos ou
princípios religiosos, ou um sacrifício voluntário dos próprios desejos, da
própria vontade ou das tendências humanas naturais em nome de qualquer imperativo
ético.
Sempre considerada uma
virtude cristã, ultimamente tenho percebido que abnegação, na verdade, para
muitos se parece negativa. Tenho alguém na família conhecida por todos como
abnegada, e é fácil perceber como sua
filha se irrita quando ela abre mão de privilégios para socorrer e ajudar
outros, eventualmente em prejuízo de si mesma. Para a filha, sua mãe é tola,
subserviente, sem vontade própria e capacho. Antes de julgarmos o veredito da
filha, pergunte a si mesmo: Não é assim que realmente pensamos?
Hoje ouvi dois relatos que
revelam como abnegação é complicada.
Uma viúva casou-se com outro
viúvo, e o relacionamento aparentemente era muito positivo, afinal, eles eram
da mesma igreja, não eram tão idosos e os filhos demostraram apreciação pelo
relacionamento dos dois, já que eram do mesmo nível social, tinham saúde, tempo
e dinheiro para viajar, mas depois de oito anos, o marido descobriu um câncer de
próstata, e ela pediu separação confidenciando a amigas próximas que já havia
cuidado de seu pai, doente muitos anos, e não queria agora cuidar de outro
velho.
Uma jovem casada por sete
anos, viu a saúde de seu marido decair severamente com graves crises psiquiátricas
que o levaram a profunda depressão. Toda a família teve de se envolver para
apoiar o triste quadro de saúde que ele enfrenta no momento. A mulher, porém,
decidiu se separar, afirmando que só tem uma vida prá viver e que não se
imagina casada com um homem doente pelo resto da vida. Afinal, “Eu não tenho direito
de ser feliz?”
Percebem como abnegação é
complicada? Qual seria sua resposta/reação a situações como estas: Condenaria?
Concordaria? Aprovaria? Questionaria? Você diria como Marguerite Yourcenar: “Quanto
amargor fermenta-se no fundo da doçura, quanto desespero esconde-se na abnegação
e quanto ódio mistura-se ao amor”, ou optaria pela anônima declaração: “Quando
o eu não é negado, ele é necessariamente adorado?”
Nenhum comentário:
Postar um comentário