terça-feira, 24 de novembro de 2015

Sempre foi assim...


Aconteceu mais uma vez.
A intolerância religiosa novamente toma proporções absurdas. Assustado, incrédulo, indignado, foi assim que acompanhei as noticias vindas da França, depois dos atentados que ceifaram mais de uma centena de vidas, deixando outras dezenas de pessoas feridas, algumas com danos irreversíveis, com sequelas emocionais das quais jamais serão libertas, traumas, dramas, tramas, dores. Luto... vidas de jovens sendo ceifadas em nome de uma estúpida ala radical religiosa.
O primeiro pensamento meu foi o de resignar-me. Afinal, sempre foi assim... em nome de deuses, Alah, Yahweh, cruzadas, inquisições com ou sem fogueiras, mata-se, mutila-se, nega-se aquilo que se prega, desarticula-se o Sagrado, impregnando de ódio o que é amor, transformando em transgressão o que é Santo, fere-se, macula-se.  Transforma-se a divindade em aliado das trevas.
Sempre foi assim, mas eu não quero resignar-me. Eu quero protestar com toda veemência. Recuso-me a veicular ódio tão vil e covarde à Deus. Mesmo porque esta definição não cabe em Deus. Deuses assim são meus demônios, e não dá para confundir Deus com o inominável pé-de-cabra. Demônios não se transformam em divindades porque os nomeamos assim. Árvores são conhecidas pelos frutos.
Sempre foi assim, mas não quero me conformar, porque nunca deveria ser assim. Não se pode confundir Moloque com Yahweh; nem Exu com Cristo. Deus não é aliado do ódio, pois neste caso deixaria de ser Deus e passaria a ser uma mesquinha imagem de Baal ou Astarote. A aceitação calada e silente faz mal. “Deus vai julgar não apenas o ódio dos maus, mas o silêncio dos bons” (Martin Luther King Jr.
Quero aliar o conceito de Deus a shalom, não à privação; a fartura, não à carência; a fraternidade, não a conflitos; a unidade, não às desavenças; ao respeito, não à intolerância; ao amor, não ao ódio. Por isto, apesar de sempre ter sido assim, não é assim que sempre deveria ser.
Motivos mesquinhos se opõem à própria natureza do ser de Deus, definido como justo, santo, misericordioso, bondoso, amoroso, perdoador, tardio em irar-se. Não cabe a Deus, e sim aos homens que dele se afastam, o suposto direito de matar, roubar e destruir, de machucar e ferir. Tais atos, procedem sim, de corações que se desviaram tanto de Deus, e já perderam tanto a sensibilidade, que ainda são capazes de atribuir algum motivo positivo ao ódio indiscriminado e covarde.
Sei que histórias como estas lamentavelmente ainda continuarão a existir. Sempre foi assim, sempre será assim. Mas eu não quero resignar-me. Deixo aqui o meu protesto. 

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