Tem sido uma dura batalha erradicar o trabalho infantil do nosso país. A
luta contra esta realidade tem sua razão de ser: crianças tem sido privadas da
educação e lazer para ajudarem financeiramente seus pais, reforçando os parcos
recursos de casa, e perdem a sua infância.
No entanto, temos outra dura etapa para frente. Como lidar com a
exigente rotina dos filhos que, a partir da idade escolar, são submetidos a uma
jornada de atividades que chegam facilmente a 12 horas por dia? Nossos filhos
acordam as 6 hs e saem de casa às 7 hs, ficando na escola até as 13 hs. Depois
do almoço precisam de reforço escolar, natação, balé, música, inglês, e ainda
possuem outras atividades como tarefas de casa, estudo para provas, exames e
simulados.
Assim também é o mercado de trabalho. A competitividade dos nossos dias
começa cedo. Aos 22 anos muitos já passaram por estágios, estão fazendo
pós graduação, trabalhando, e quando chega ao 25 já estão à beira da estafa,
tomando remédios pesados para insônia. Recentemente um jovem de 30 anos me
afirmou jocosamente que está contando os dias para se aposentar...
O excesso de atividades, o barulho, as exigências acadêmicas e
profissionais, a correria diária, os prazos finais, facilmente exaurem nossa
energia. Estamos cansados e vazios. Os jovens já começam ganhando quase o mesmo
de seus pais, e desejam possuir com 35 anos aquilo que seus pais levaram a vida
inteira para conquistar, mas estão estafados.
Surge assim a “geração cogumelo”. Grandes cabeças e pequenos corações,
resolvidos profissionalmente mas vazios de alma. Aumenta o uso de
anti-ansiolíticos e precisamos cada vez mais de terapeutas. Certamente os pais
tem grande responsabilidade nestas questões.
Se perguntamos aos nossos filhos o que eles acham que esperamos deles:
Que sejam pessoas humanas e boas, bem sucedidas ou ricos, o que você acha que
responderiam? (para não se frustrar, espero que não lhes pergunte). Muito
provavelmente dirão que esperamos que sejam bem sucedidos.
Não há nada errado em se sentir cansado. O problema está na intensidade,
na frequência e na idade que ele tem surgido. Muitas coisas podem forçar os
limites, e antes que percebamos, a fadiga puxa nossos pés e caímos prostrados.
O perigo deste cansaço é que ele nos agarra e estrangula a esperança, a motivação,
o encorajamento e enfraquece nosso sistema imunológico e a saúde.
Algumas coisas são essenciais para o descanso interior.
Ao criar todas as coisas, Deus estabeleceu o sábado, que antes de ser
uma questão religiosa, é uma questão humana. Jesus afirmou que o sábado foi
criado por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. A vida passa por
ciclos, e o corpo precisa de refrigério e descanso. Quando Deus descansou das
suas obras, não o fez por causa de si mesmo, mas para nos ensinar que nossa
energia não é ilimitada. Precisamos recarregar as baterias, reorganizar a
mente, o físico e as emoções, a alma.
Precisamos de qualidade de tempo com pessoas que amamos. Boas risadas,
comida preparada para repartir com amigos, pão de queijo, vida compartilhada,
gera saúde e energia. Precisamos também de cuidar das emoções, viver
constantemente sobre pressão e ansiedade, debaixo de competição e com grandes
ambições pode drenar nossa energia.
Precisamos ainda cuidar da alma. Não somos seres mecânicos, imateriais e
coisificados. O sábado na Bíblia vem da língua hebraica shabath, (descanso),
mas tinha uma finalidade espiritual: adorar a Deus, agradecer o seu cuidado. Os
judeus procuravam as sinagogas ou iam ao templo nestes dias para aprofundar sua
vida com Deus e procurar sua intimidade. Para dias de tanto cansaço, o
refrigério divino é renovador.
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