Não é
fácil manter a vida num nível satisfatório de realização pessoal. Não raramente
somos consumidos por ansiedade e insegurança, porque a vida possui esta
capacidade de ser dinâmica, de desinstalar, de mudar a rota e a rotina. Por
isto Guimarães Rosa afirmou: “Viver é perigoso!”
Desânimo,
depressão, incertezas, dúvidas, angústias, medos reais e imaginários, estão
sempre ao redor, e não é preciso nenhuma teoria conspiratória para explicar
isto. Não raramente temos sensação de abandono, de solidão, de rejeição, de não
sermos amados, de que vão nos trair. O que difere a situação anormal da normal
nestes casos, é apenas a intensidade.
Manter a
vida num nível satisfatório é complexo.
Jesus,
dialeticamente, levanta uma questão: “Se o grão de trigo não morrer, fica ele
só; quem quiser preservar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida
por amor do meu nome, achá-la-á”. Para Jesus o segredo não estava na capacidade
de controle que temos sobre a vida, mas na capacidade de descansar. A
onipotência mostra-se insuficiente e frágil. Quem luta para ter o controle,
segue em direção à confusão e o engano.
Não temos
condições de articular o futuro nem de impedir que males nos sobrevenham.
Naturalmente precisamos ser cuidadosos e sábios. “prudência e caldo de galinha
nunca fizeram mal a ninguém”, mas a verdade é que a luta para manter todas as
coisas debaixo do controle mostra-se inútil, transformando-se em angústia,
ansiedade, neurose fóbica e obsessão.
Jesus
tenta ensinar isto aos discípulos: “Por isto vos digo: Não andeis ansiosos pela
vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber, nem pelo vosso corpo,
quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais que o alimento e o corpo mais
que as vestes? Observai as aves dos céu: Não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em
celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura não valeis vós
muito mais que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar
um côvado ao curso de sua vida?”. Estas palavras parecem soar como descaso com
a vida, mas não é esta a proposta de Cristo. Ele quer que coloquemos nossa
confiança não na nossa capacidade de controle e onipotência, mas na provisão e
cuidado de Deus.
Os
discípulos naqueles dias também tinham suas preocupações e estavam cheios de
incertezas. As pessoas morriam cedo, qualquer infecção mais grave sem
antibiótico, poderia ser fatal. Não havia sistema de aposentadoria nem leis
trabalhistas. Pessoas idosas e sem saúde enfrentavam muitas dificuldades. No
entanto, Jesus insiste em que elas ponham sua confiança no sustento que vem de
Deus.
Onipotentes
e controladores, tentamos manter todas as coisas sob nosso controle, mas a
verdade é que nenhuma garantia temos sobre o amanhã, a saúde, finanças ou a
vida. Seu seguro de vida não segura sua vida nem o protege. Precisamos
descansar, confiar no Pai Eterno, que cuidou de nós até hoje e vai continuar
cuidando.
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