Não
é fácil falar de estabilidade numa sociedade instável e incerta. Dentre os
conhecidos votos monásticos, os candidatos à reclusão tinham que fazer quatro
votos: Pobreza voluntária, castidade, obediência e estabilidade. Todos estes
votos parecem tão estranhos à nossa realidade. A pobreza voluntária é
confrontada com a ambição e o espírito capitalista. Castidade parece mais um
palavrão que uma virtude; a obediência é confrontada com a insubmissão e a
autonomia que parece valores tão caros hoje em dia. Estabilidade ?
Alguém sabe o que é isto???
Cabe
dentre os conceitos modernos a palavra fluidez, agilidade, transitoriedade,
movimento, liquidez – estabilidade nunca. Não é sem razão que os empregos são
tão instáveis, famílias são tão transitórias, o amor tão liquido... o que
ninguém considera é quanto a instabilidade pode ser danosa para nossas emoções.
Considere
o trabalhador. São poucos os que permanecem longo tempo e fazem carreira dentro
de uma empresa. Eles não acreditam que a empresa tenha preocupação com eles, e
eles também não se preocupam com a empresa.
Em
relação aos afetos, vivemos dias de amor líquido. Um amor plasmático,
transitório. “Ficamos” para não ter que realmente ficar. Criamos contratos para
não fazer alianças. Contratos possuem cláusulas de vantagens e riscos
calculados. Quem se arrisca a entrar num relacionamento sem que as regras, as
normas, as alíneas não estejam
claras? Alianças possuem sacralidade, conceito de Eterno, presença de Deus,
compromisso.
Filhos
vão ficando pelo caminho, sem entender as mudanças, por mais que se convencione
estar tudo dentro da normalidade. Hoje estão com o pai e a mãe; amanhã com o
pai e a amante; noutro dia com a mãe e o novo companheiro, e quando os pais não
se acertam ainda existe a possibilidade da casa do avô e da avó. Esta
transitoriedade pode ser perniciosa porque quebra os fundamentos essenciais da
psiquê que precisam de rituais e convenções. Recentemente um casal de amigos
queria levar o filho de 3 anos para a Disney. Considerei que a quebra de
rituais é muito boa pessoas adultas de férias, mas que crianças precisam de
horário, e para esta idade, a não ser o fato de que os pais se distanciam por
12 dias, estar na casa do avô com comida no horário certo, brincando na piscina
de plástico com os priminhos, é mais agradável do que o burburinho e agitação
de uma viagem.
A
instabilidade gera stress. Eventualmente as coisas sairão do controle e teremos
que lidar com elas, mas não ter regras nem valores, noções de tempo e espaço,
regularidade, rituais, hábitos corriqueiros e certa disciplina de horário e
alimentação podem trazer graves distúrbios de ansiedade, angústia e até
depressão.
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