No
artigo anterior analisamos os riscos da dessacralização do Sagrado, agora
queremos considerar o inverso: o risco de sacralizar o profano.
Sacralizar
o profano é considerar divino o que não é. É chamar bem de mal, mal de bem; amargo
de doce e doce de amargo; fazer da escuridão, luz e da luz, escuridão como
advertiu o profeta Isaias. Nada pode ser tão pós-moderno que esta dialética
perversa. O relativismo moral e espiritual insiste em ser o que não é, e não
ser o que é, desembocando inexoravelmente na perversa síntese hegeliana e
malthusiana.
Deus
disse a Pedro. “Não consideres impuro aquilo que eu já purifiquei”. Hoje o
alerta precisa ser inverso: Não sacralize aquilo que é errado, não encontre
nomes bonitos para coisas feias, não transforme o não-natural naquilo que é
natural, não confunda Deus com o diabo, nem tente tratar o diabo como Deus.
O
marketing tem facilidade para distorcer percepções e valorizar o que é inútil.
Transformar conceitos verdadeiros em mentiras é uma prerrogativa luciférica. É
assim desde o Éden. “É certo que não morrereis.
Deus não está bem intencionado, Ele
mente. Ele sabe que, no dia em que comerem do fruto, sereis como ele,
conhecedores do bem e do mal. Podem pecar que não há conseqüência”. Satanás
engana. Faz parecer bom o que é mal, inverte valores e desvirtua a pureza. Não
sacralize atos perversos e nem tente dar uma roupagem divina ao diabo. Não
transforme a ética depravada em comportamento amoroso e legítimo.
Não
só pessoas seculares fazem isto. Religiosos tem mania e obsessão por esta
inversão. Dão caráter santo ao que não é santo. Tentam vender o poder de Deus
envasado em invólucros de águas bentas, águas sagradas do Rio Jordão ou
lencinhos ungidos de auto denominados apóstolos. Transformam madeiras
envelhecidas em relíquias terapêuticas, associam eventos comuns a realidades
sobrenaturais, sacralizam locais e estruturas dando um caráter santo àquilo que
é essencialmente neutro. Fazem romarias para transformar lugares comuns em
templos sagrados e lugares da presença e manifestação de Deus, iludindo e
confundindo sinceros, desesperados e ingênuos fiéis com maquiagens e roupagens
eclesiásticas.
Atribuir
caráter místico e esotérico àquilo que é comum é tão vazio e sem efeito como tentar
transformar uma pessoa em monge porque vestiu o hábito. Não adianta atribuir
sacralidade na esperança de que Deus aprove o gesto. Arão, irmão de Moisés,
pediu ouro das pessoas que vieram do Egito para fazer um bezerro de ouro, e
declarou que aquele objeto sagrado agora era divino. Não funcionou. O bezerro
de ouro era um ídolo, e Moisés o destruiu ao descer da montanha onde recebeu as
tábuas da Lei.
Não
se sacraliza o profano. Uma ética profana, uma conduta inadequada, um gesto
espiritualizado, ainda que venha numa justificativa filosófica e sofismática
não muda a realidade daquilo que é essencialmente mal. Pessoas incautas e
ingênuas podem até se render a esta roupagem supostamente divina e
reverenciá-la, mas atribuir beleza e sacralidade ao mal, nunca foi sensato.
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