Vem chegando novamente a primavera, estação das chuvas e das
flores. Poucas coisas são tão desejadas por nós que vivemos estes dias secos
todos os anos, que vão de Maio a Agosto. As árvores, a grama e toda natureza,
também anseiam por esta bendita chuva.
Nesta expectativa da primavera, passando pelas ruas de Anápolis,
fico criando sonhos, elaborando utopias, imaginando possibilidades. Nossa
cidade é realmente privilegiada pelo clima e povo que possui, mas é
historicamente mal cuidada, não apenas pelos poderes públicos, mas pelos seus
próprios cidadãos. E no meio destes desajustes, fico criando utopias. Eis
algumas delas:
Já imaginaram o Rio das Antas, totalmente urbanizado, com pistas
de caminhada nas suas margens, onde as crianças pudessem brincar e as pessoas
andassem, sem ter que se deparar com lixos que se amontoam nas suas margens?
Fico pensando ainda na margem do riacho que sai do Lago JK, cortando a cidade,
se todo ele tivesse gramas e quiosques, tocados pela iniciativa privada, que
gerariam impostos para a cidade, lucro para seus comerciantes e lazer para seus
cidadãos, ao invés de restos de construção?
Fico imaginando uma cidade na qual os proprietários dos lotes e
casas, teriam a obrigação de construir uma calçada padronizada pela cidade,
permitindo que os transeuntes caminhassem em segurança nas suas ruas, sem medo
de atropelamento, e que os lotes baldios teriam muros de 80 cm de altura e calçadas,
como já existem em várias cidades do interior de Minas Gerais, e que os donos
seriam responsáveis pela sua limpeza por força de lei?
O que aconteceria se, nesta utopia, os arquitetos projetassem
suas obras, não com grandes muros em frente às casas, mas com grades e modernos
vidros que demonstrassem a beleza dos jardins escondidos por detrás de nossas
casas?
Chico Buarque, na música “Pedro Pedreiro” descreve a luta diária
de um operário carregado de esperança que as coisas possam melhorar, e na sua
esperança, aguarda em vão, uma sorte, um norte, um bilhete premiado da loteria,
algo maior que o mar, mas sua utopia nunca se concretiza, afinal, “prá que
sonhar se dá o desespero de esperar demais?”
Prefiro, então, refletir filosoficamente na utopia como a
descreveu Rubem Alves. Utopia é um não-topos, isto é, algo que não possui uma
geografia definida, que ainda não é encontrado, e não necessariamente o que não
pode acontecer. Profetas, filósofos, artistas, músicos e poetas não negam a
realidade bruta da vida, mas desejam imaginar uma nova realidade, ainda não
presente, mas que pode ser estabelecida.
Pregadores também falam de novos céus e nova terra, falam de uma
vida nova em Cristo, anunciam esperança aos perdidos, consolo aos cansados,
restauração aos quebrados, possibilidades no caos. Eles precisam “crer contra a
esperança”. A utopia dos céus e das promessas de Deus, me fazem sonhar com esta
cidade possível, onde lotes baldios se transformem em jardins, logradouros em
lugar de descanso, beiras dos rios em lugar de lazer.
A primavera me desafia à utopia.
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