Na semana
passada o trágico caso Suzane Von
Richthofen teve mais um dramático lance. Após ser beneficiada pela progressão
ao semi-aberto, por ter cumprido 1/3 de sua pena, e por ter bom comportamento, ela
disse que não queria deixar a Penitenciária Feminina 1 de Tremembé (SP), onde
cumpre pena de 39 anos e 6 meses, em regime fechado, pelo assassinato dos pais,
no ano de 2002.
Em carta
enviada à direção do presídio, Suzane disse que pretende esperar a instalação
de uma ala de semi-aberto no local, o que só deve ocorrer em seis meses, e que
é sua intenção continuar trabalhando na Funap, pois necessita da remissão de
pena (de um dia de pena para cada dois trabalhados) e do salário das
atividades.
Diante
disto tudo, fica a pergunta: O que, realmente, a levou a rejeitar o beneficio
que lhe daria certa liberdade?
Várias
razões podem estar envolvidas, desde uma estratégia legal planejada pelo
advogado, até motivos emocionais.
Suzane
pode ter recusado a sair com medo de revanche ou vingança, temendo represálias
familiares ou sociais. Pode ter se recusado ainda, porque depois de 12 anos na
cadeia, sente-se insegura e sem o treinamento adequado para lutar pelo seu
salário fora da cela, ter que trabalhar e garantir sua própria sobrevivência,
ainda mais tendo que superar o enorme estigma de ter sido cúmplice no
assassinato de seus próprios pais.
Existe
ainda outra possibilidade. Suzane pode estar com medo da liberdade em si. No filme, “O sonho da
liberdade”, estrelado por Morgan Freeman, um dos presos se recusa a sair da
prisão depois de cumprir a pena. Ele declara que não conseguiria mais viver do
lado de fora pois estava bem adaptado à prisão, e por já ter se tornado “vítima
da instituição, não queria a liberdade que lhe era oferecida. Ser livre era
mais angustiante que viver como preso o resto de sua vida.
Nem sempre
as pessoas querem ou sabem lidar com a liberdade, alguns de fato a temem, encontram
dificuldade em serem pessoas livres. A liberdade torna-se ameaçadora. Por isto
preferem a prisão e se submetem aos seus algozes. É muito comum encontrar
prisioneiros das drogas, de sistemas religiosos escravizantes, de governos
totalitários e de entidades espirituais que se sentem ameaçados quando pensam
em se libertar. Acham que não podem viver sem esta estrutura de poder e
tirania.
Por isto é
bom considerar que existe um tipo de prisão muito mais sério que uma cadeia. Ela
encarcera psicologicamente as pessoas, deixando-a submissas e indulgentes aos abusadores,
não são capazes de esboçar qualquer reação. Um caso extremo é a Síndrome de
Estocolmo, no qual pessoas seqüestradas se apaixonam por seus algozes.
Na
sociedade moderna é possível encontrar mulheres abusadas por maridos
inescrupulosos, filhas e filhos tiranizados que sofrem abusos e que não conseguem
romper os grilhões Alguns dependentes das drogas, pornografia e do álcool, não
conseguem imaginar como seria viver livre, porque a possibilidade da liberdade,
em si, já é uma tortura.
Outros
optam pelo auto-encarceramento, por causa da culpa. É um mecanismo de auto punição.
Sentem-se culpadas e incapazes de viverem em liberdade. São
almas cativas de seus exatores e tiranos, aprisionadas pela culpa.
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