Todo ser humano possui, no nível mais profundo do coração, anseio por uma vida idealizada, em contraposição à vida vivenciada. Como a banda U2 afirmou: “Eu ainda não encontrei o que estou procurando”. Frequentemente este sentimento quase não é percebido, e fica de certa forma escondido no nosso ser mais profundo, mas novamente brota no fundo do nosso ser, como sintetizou Pascal: “Nós nunca vivemos, mas esperamos viver”. O nosso mais profundo desejo é experimentar e viver este estilo de vida perdido.
De tempos em tempos, esta questão brota
com intensidade. C. S.Lewis afirmou que “Nosso problema não é desejar muito,
mas desejar tão pouco”. T. S. Elliot indagou: “Onde está a vida que perdi
tentando encontrá-la?” Este desejo mais profundo do nosso ser não é
completamente satisfeito e nunca morre. Nossa verdadeira identidade e razão de
ser encontra-se exatamente neste ponto.
Recentemente assisti o filme “Sem
limite”, no qual os personagens descobrem uma droga sintética, que pode potencializar
o homem e levá-lo a experimentar a vida no mais profundo nível. Quando
ingerida, a pessoa se torna realizada, tem enorme sensação de bem estar, é capaz
de fazer engenhosos cálculos e antecipar situações de risco, o problema é que ela
vai matando aqueles que a ingerem. Quando terminamos o filme ficamos nos
perguntando: “Seríamos capazes de tomar uma droga, mesmo sabendo que ela pode
nos matar, por causa da intensidade de vida que ela nos proporciona?”
Este desejo secreto de plenitude vem da necessidade
de significado e propósito, que pode facilmente ser corrompido. Muitos, em
busca deste sentido, buscam os braços de outras pessoas, fazem uso de substâncias químicas, pornografia e vícios, se perdendo
na confusão de desejos. Queremos satisfações imediatas. O desejo de encontrar
respostas é legítimo, as soluções quase sempre são destrutivas e traiçoeiras. A
fantasia se confunde com a realidade, o sonho vira pesadelo. Respostas fáceis à
complexas questões são simplistas e destrutivas.
Geraldo May afirma: “Quando o desejo é
muito intenso para suportar, frequentemente congelamos os pensamentos e
buscamos atividades tentando ignorar sua consciência. É possível escapar destes
desejos por anos, mesmo décadas, mas não é possível erradicá-lo inteiramente.
Ele continua atingindo sonhos e esperanças, principalmente quando nos tornamos menos
defensivos”.
Jesus antecipou este desejo secreto no
coração dos homens ao afirmar: “Eu vim para que tenham vida, e tenham em
abundância”. Se Jesus fala de “abundante vida”, podemos inferir que existe uma
“vida miserável”. O estilo de vida de muitos nos leva a esta conclusão. Há
muita miséria na alma humana, muita solidão e angústia, depressão e doença,
fobia e ansiedade. “Onde está a vida que perdi tentando encontrá-la”.
A proposta de Jesus atualiza-se hoje. Ele
oferece a vida que atende a este mais profundo desejo da natureza humana, e que
é capaz de nos tornar plenos. C. S. Lewis afirma que este desejo secreto da
alma é tão intenso que pode ser chamado de nostalgia, romantismo e adolescência.
Talvez por ser algo tão essencial e grandioso, preferimos negá-lo, mas Jesus
fez inteiramente o contrário: Ele afirmou que esta vida existe e que poderia
dá-la a nós. Seria demais pedir que ele tocasse este mais profundo desejo e nos
doasse esta vida em abundância?
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