quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Paraíso Perdido



Quando meu filho trabalhava no Panamá, tive a oportunidade de lhe fazer uma visita e passear pela região. Num destes giros, fizemos uma fascinante viagem e visitamos a pequena ilha Tuba Senika, no Mar do Caribe, uma região com centenas de ilhas paradisíacas da região, com areias brancas e águas mornas, todas elas administradas pelos índios da etnia Kuna.
Se existe um paraíso, este lugar é uma de suas filiais. Uma pequena área de 8.000 mt2, cercada de pés de coco (as únicas árvores que crescem no lugar), com as cabanas fincadas nas areias, águas quentes com enorme variedade de peixe, ideal para a prática de snorkel onde o tempo demorava passar, e além de comer e beber, nadávamos, líamos e dormíamos na rede por causa do calor e porque não existia qualquer pernilongo para nos roubar o sono. Minha esposa e nora disseram que poderiam viver ali pelo resto de suas vidas, apesar de toda beleza eu não fui tão conclusivo assim...
No meio deste paraíso, logo percebemos alguma coisa estranha. Havia uma tela separando a ilha. Ela destoava do ambiente sereno, deslumbrante e mágico, além de ter um péssimo gosto estético. Nossa curiosidade se aguçou. Qual era o sentido daquela cerca? Daquele protótipo do “muro de Berlim”? Desta inusitada separação semelhantes às cercas entre as fronteiras dos EUA e México, que separam os ricos dos pobres?
A pequena ilha originalmente fora uma herança dada aos dois irmãos, que se desentenderam e incapazes de fazer um acordo a dividiram pelo meio. O paraíso estava ali, mas não era ali. De repente descobrimos os efeitos do egoísmo, do individualismo e da luta pelo poder numa pequena escala. O paraíso se perdera antes de mais nada no coração dos homens. O mal se alojou definitivamente no coração da raça humana. Mesmo quando o ambiente revela um pedaço do céu, ainda encontraremos ali o ódio, a separação, a competição e a luta. Podemos estar muito perto do céu, mas ainda vivendo no inferno.
As Escrituras Sagradas nos ensinam que Jesus veio exatamente reconciliar todas as coisas em si mesmo. Ele nos reconciliou com Deus, cujo abismo se formou por causa de nossa autonomia e teonomia (termo cunhado por Henry Nouwen); Ele veio nos unir uns aos outros, reconciliando raças, irmãos separados pelo egoísmo e narcisismo, ajudando-nos a perdoar e a ser perdoado; Ele veio para nos reconciliar com a natureza, que por milênios tem sido explorada pela ganância desmedida e o anseio por lucros a qualquer custo. Finalmente, veio nos reconciliar conosco mesmo, perdidos e confusos nas nossas vaidades e futilidades, buscando irrefletidamente por sentido e propósito, andando por becos escuros da existência sem saber exatamente onde queremos chegar.

Jesus veio reconstruir o paraíso perdido. Este é o propósito do Natal.

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