Quando
meu filho trabalhava no Panamá, tive a oportunidade de lhe fazer uma visita e passear
pela região. Num destes giros, fizemos uma fascinante viagem e visitamos a
pequena ilha Tuba Senika, no Mar do
Caribe, uma região com centenas de ilhas paradisíacas da região, com areias
brancas e águas mornas, todas elas administradas pelos índios da etnia Kuna.
Se
existe um paraíso, este lugar é uma de suas filiais. Uma pequena área de 8.000
mt2, cercada de pés de coco (as únicas árvores que crescem no lugar), com as
cabanas fincadas nas areias, águas quentes com enorme variedade de peixe, ideal
para a prática de snorkel onde o
tempo demorava passar, e além de comer e beber, nadávamos, líamos e dormíamos
na rede por causa do calor e porque não existia qualquer pernilongo para nos
roubar o sono. Minha esposa e nora disseram que poderiam viver ali pelo resto
de suas vidas, apesar de toda beleza eu não fui tão conclusivo assim...
No
meio deste paraíso, logo percebemos alguma coisa estranha. Havia uma tela
separando a ilha. Ela destoava do ambiente sereno, deslumbrante e mágico, além de
ter um péssimo gosto estético. Nossa curiosidade se aguçou. Qual era o sentido
daquela cerca? Daquele protótipo do “muro de Berlim”? Desta inusitada separação
semelhantes às cercas entre as fronteiras dos EUA e México, que separam os
ricos dos pobres?
A
pequena ilha originalmente fora uma herança dada aos dois irmãos, que se
desentenderam e incapazes de fazer um acordo a dividiram pelo meio. O paraíso
estava ali, mas não era ali. De repente descobrimos os efeitos do egoísmo, do
individualismo e da luta pelo poder numa pequena escala. O paraíso se perdera
antes de mais nada no coração dos homens. O mal se alojou definitivamente no coração
da raça humana. Mesmo quando o ambiente revela um pedaço do céu, ainda encontraremos
ali o ódio, a separação, a competição e a luta. Podemos estar muito perto do céu,
mas ainda vivendo no inferno.
As
Escrituras Sagradas nos ensinam que Jesus veio exatamente reconciliar todas as coisas
em si mesmo. Ele nos reconciliou com Deus, cujo abismo se formou por causa de
nossa autonomia e teonomia (termo cunhado por Henry Nouwen); Ele veio nos unir
uns aos outros, reconciliando raças, irmãos separados pelo egoísmo e narcisismo,
ajudando-nos a perdoar e a ser perdoado; Ele veio para nos reconciliar com a
natureza, que por milênios tem sido explorada pela ganância desmedida e o
anseio por lucros a qualquer custo. Finalmente, veio nos reconciliar conosco
mesmo, perdidos e confusos nas nossas vaidades e futilidades, buscando
irrefletidamente por sentido e propósito, andando por becos escuros da existência
sem saber exatamente onde queremos chegar.
Jesus
veio reconstruir o paraíso perdido. Este é o propósito do Natal.
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