Ela
é uma típica mulher de classe média brasileira: 34 anos, três filhos para
criar, tentando dar a educação mais apropriada, cumprindo uma jornada de 40
horas semanais como administradora de uma empresa de rápido crescimento e
passando por todos os mecanismos de fuga, culpa, desafios, na árdua tarefa de equilibrar
as exigências domésticas com a proeminente carreira. O que ela não poderia
imaginar é que seus pais, depois de 38 anos de casado, resolveriam se divorciar.
A
separação deles naturalmente não se deu num vácuo, mas foi resultado do
desgaste e dos embates diários que ultimamente vinham travando em casa: luta
pelo poder, acusações, indiferença... O distanciamento era visível e as
irritações mútuas, constantes. Os eventos mais corriqueiros se transformavam em
grandes disputas. As críticas eram cada vez mais corriqueiras, raramente
sorriam juntos, andavam de mãos dadas ou se beijavam. Devagar, foram
construindo um universo paralelo, vivendo sob o mesmo teto, mas separados
emocionalmente. Ainda assim, ninguém acreditava que um dia viessem a se
separar, e todos tinham esperança de que acertariam as diferenças e retomariam
a caminhada num nível um pouco mais civilizado, infelizmente o divórcio se
concretizou de forma dolorida.
Foi
muito estranho verificar o quanto o divórcio se tornou traumático para a
família. Apesar de ser uma mulher madura, estar casada e ter três filhos para
cuidar, no dia imediato à separação, ela percebeu que as coisas seriam bem mais
complicadas do que ela imaginava. Os pais ficaram desorientados, apesar de
terem tomado juntos a decisão, e para ela, que tinha o hábito de levar
diariamente os filhos à casa dos avós, agora percebera que este lugar não mais
existia. De repente, viu que seus filhos estavam com um terrível humor, e ela,
profundamente entristecida, sem que associasse diretamente a separação dos pais
à sua tristeza. Sentiu-se só, teve raiva dos pais, amargurou-se e finalmente
entendeu que o divórcio não era traumático apenas para filhos pequenos, mas
afeta profundamente a emoção de pessoas adultas, já que altera toda a estrutura
familiar.
Ela
descobriu que as duas pessoas em quem buscava conforto e segurança, agora não
eram mais bons ouvintes pelas dificuldades que eles mesmos enfrentavam para a
readaptação ao novo estilo de vida. Os diálogos caminhavam quase sempre para a
questão da separação dos dois, e ela que sonhara em ver os filhos crescendo ao
lado dos avós, não sabia mais que atitude tomar. Amigos antigos, agora ao
convidarem para uma festa de aniversario, tinham que optar a quem chamariam. A
perda da família original não fazia
sentido e ela se sentiu terrivelmente só.
Atualmente
as coisas estão mais assentadas em sua mente, e as emoções mais organizadas,
afinal de contas, a vida deve continuar, de um jeito ou de outro, mas para esta
mulher ficou a nítida impressão que, de fato, não existe divórcio amigável e
sem conflitos, principalmente quando filhos e netos estão envolvidos.
Concordo plenamente sobre a matéria publicada...
ResponderExcluirA dor da separação e o inicio de uma nova vida é muito difícil, os envolvidos se perdem tentando até inconscientemente provar um pro outro que pode ser feliz sem o conjuge e um turbilhão de sentimentos negativos te fazem esmorecer e trilhar caminhos que em nada agradam a Deus... gerando depressão, stres, evasão da vida social, confinamento... principalmente no caso de separação e divorcio por motivo de adultério...
Pelo que entendi essa sensação de perda se agravou mais porque ela mesma já havia experimentado isso no próprio casamento.Ás vezes acontece com a gente, mas nunca queremos que aconteça com os mais chegados, no caso dela, os pais que até então eram um referencial de solidez.
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