Depois
do atentado ocorrido em Boston, uma das perguntas mais freqüentes que ouço é a
seguinte: “O que poderia ter motivado aqueles rapazes a tal ato terrorista?” E
a única resposta plausível que posso encontrar é Ideologia.
Por
ideologia entendo um conjunto de interpretações da vida e da realidade. Tal
experiência se dá através da educação, espiritualidade, vivência familiar ou
social, ou ambas.
Todos
buscamos uma ideologia e referências que norteiem a vida. Diante de seu
desespero existencial, Cazuza clamava: “Ideologia, eu quero uma prá viver”.
Todos construímos uma hermenêutica da vida, que orienta nossas decisões,
atitudes, crenças e comportamentos. O problema é quando esta ideologia sofre
uma espécie de deformação metodológica.
Se
acharmos que os negros, adolescentes, católicos, protestantes, muçulmanos,
homossexuais, mulheres ou homens, direita ou esquerda, são a causa de todos os
males da humanidade, eles se tornam nossos opositores, e precisam ser
destruídos. Se a ideologia possui um conteúdo teológico, torna-se ainda pior.
Basta estudar um pouco das guerras chamadas santas na Idade Média entre
cristãos e muçulmanos, e mais recentemente entre católicos e protestantes na
Irlanda, para entendermos como uma ideologia pode levar um ser humano a
situações extremas.
Os
irmãos responsabilizados pelos atentados em Boston vieram para os Estados
Unidos ainda adolescentes, mas com o germe do ódio plantado em seus corações.
Saíram do seu país por causa da impossibilidade de viver ali devido aos conflitos
étnicos, e buscaram asilo político nos Estados Unidos, que lhes deram acesso a
boas escolas como a Latin School em Cambridge, vizinha da igreja que pastoreei
nos Estados Unidos, e ultimamente, o mais jovem, de 19 anos, que estudava numa
universidade do governo, com uma brilhante carreira pela frente, se preparando
para o longo e caro curso de medicina, com subsídios federais. No entanto, os
americanos eram a causa de todos os males, e por aí se justificaria a agressão
gratuita contra crianças, e mutilações de pessoas que estavam ali apenas para
presenciar um evento esportivo, nada mais!
Das
deformações ideológicas surge o ódio racial, de cores e religiões. O outro
torna-se inimigo mortal, é infiel, precisa ser extinto. Na visão dos movimentos
islâmicos mais radicais, morrer numa guerra santa, matando infiéis, leva a
pessoa diretamente para o paraíso, onde virgens o esperam para satisfazê-lo.
Portanto, para uma mente doentia, a lógica se encaixa de forma perfeita.
O
mesmo ódio também se reflete entre nós, quando resistimos e deixamos de acolher
o outro, apenas por causa das divergências, religiosas, espirituais ou política
que adota. O outro é inimigo! Precisa morrer e deve ser odiado!
Particularmente
tenho ficado com receio da intolerância dos “intolerados”, da violência dos
“violentados”, e do ódio dos “odiados”, que justificam todo seu comportamento e
agressão porque o outro não concorda com sua forma de interpretar a vida e
rejeita o seu código de conduta como moralmente aceitável. Não precisamos de unanimidade
de pensamento, mas precisamos de respeito às diferenças, para que não
justifiquemos nossas atitudes com substratos de vitimismo.
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