Nesta semana, acompanhado de um amigo, fomos a Inhumas para realizar o funeral de D. Célia, conhecida odontóloga da cidade, mãe de Marília, que havia perdido seu filho de forma trágica num acidente a 15 dias atrás, entrou em coma e também não resistiu aos ferimentos.
Fui convidado a trazer uma palavra de esperança no meio de tanta dor. O que podemos pensar ou dizer em horas tão aflitivas?
Lembrei-me de uma palavra dita pelo profeta Jeremias, no meio de um desabafo quando sua cidade foi destruída pelos inimigos: “Quero trazer à memória, o que me pode dar esperança, as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não tem fim, renovam-se a cada manhã, grande é a sua fidelidade” (Lam 3.23,24).
Quero trazer à memória....
Jeremias sentiu na pele a trágica experiência da perda, sendo testemunha da invasão dos caldeus em Jerusalém. Viu corpos no chão, a fumaça dos prédios em chamas provocadas pelos invasores, o choro das crianças desorientadas no meio das ruas procurando seus pais que foram exterminados. Viu o templo, centro de sua adoração e fé, completamente destruído e saqueado, gente querida brutalmente assassinada. A situação era catastrófica, e até mesmo para um otimista era difícil enxergar qualquer vislumbre de esperança.
Nesta hora, tenta lembrar algo que pudesse dar sentido ao caos, organizar o vácuo de sua alma, e a única coisa que conseguiu foi encontrar em Deus resposta ao seu mundo desestruturado: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos”. Ele afirma que tais memórias foram as únicas que se tornaram exeqüíveis, dando algum sentido e coerência ao seu vazio existencial e histórico.
O que pode nos sustentar diante do trágico e do caótico? A quem recorrer? O que pensar? Buscar força em nossa auto estima? Impossível! Pensar na leitura romântica da realidade ou na bondade inerente da raça humana? Tentar formular explicações ambíguas e contraditórias de nossas equações mentais? Nada disto é suficiente.
Nestas horas precisamos meditar nos mistérios de Deus e vislumbrar a supra história, que vai para além de nossa história comum e banal, afinal, como diz Riobaldo, personagem de Grande Sertão, Veredas (Guimarães Rosa): “Há que se encontrar um norteado para esta doideira que é a vida”. Só o mistério de Deus, pode lançar luz à nossa dor, transcender limites de nossas perplexidades e especulações. Só seu consolo pode visitar a nossa orfandade e nos manter firmes diante de tão profundas perturbações.
jornal contexto 04 jan 2011
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