A presença do mal no mundo cria questões filosóficas angustiantes e perturbadoras. C. S. Lewis, conhecido escritor e professor em Oxford, falecido em 1963 afirma que existem duas abordagens complicadoras quando tratamos deste tema: A Primeira é negarmos o mal. A segunda, ficarmos obcecados pelo mal. Tanto a negação quanto a obsessão são complicadoras porque na primeira, nega-se a discussão e faz-se de conta que o mal não existe. Na segunda, cria-se uma neurose que tenta analisar a vida apenas pela perspectiva do sobrenatural, retirando das pessoas a compreensão mais ampla da responsabilidade moral. O diabo torna-se culpado de todas as fraquezas, contradições, ambigüidades e malandragens.
Para aqueles que professam os credos judaico-cristãos, é importante notar que ele aparece reiteradas vezes nos escritos do Velho e do Novo Testamento. Satã é tido como responsável por uma infinidade de doenças humanas, enviando aflições e perturbações à humanidade, trazendo distúrbios mentais e surge sempre como um espírito oposto a Deus, distanciando o homem de Deus e de seus propósitos. Uma boa referência bibliográfica para este tema é o livro, O Mal, o lado sombrio da realidade, de John A. Sanford, publicado pela edicões Paulinas.
Tanto na perspectiva das Escrituras quanto na experiência cotidiana, o Mal tem sido sempre uma força tirânica. Muitos têm sido presos de forma inconsciente desta força simbólica e/ou real, e vivem sufocados por um não sei quê de angústias e medos. Para alguns já não se trata mais de uma impressão, mas de fato de uma opressão. O mal tem sido experimentado de forma aguda no viver diário. Estes fatos não nos são desconhecidos.
Scott Peck, no livro O Povo da Mentira, afirma que o mal é o oposto da vida, e chama a atenção para o fato de que na língua inglesa, curiosamente, evil (mal), é oposto de live (to live: viver). Evil é vida escrita de trás para a frente, vista pelo inverso. O mal é oposto à vida. Ele confronta e esvazia a capacidade de viver, e isto está de acordo com o pensamento de Jesus que diz que "o diabo veio para matar, roubar e destruir, mas eu vim para que tenham vida, e vida em abundância".
Muitos têm sido escravizados por conceitos e pela realidade do mal. São forças espirituais e simbólicas que vão além do cotidiano. Fui procurado por médicos de um hospital psiquiatra que pediam para que eu desse parte do meu tempo para lidar com pessoas que precisavam de um tipo especifico de tratamento que ia além da análise, terapia e remédios que eram aplicados. Queriam alguém que lidasse com pessoas pelo ângulo espiritual. Peck, psiquiatra citado acima, admitia que ele mesmo buscou grupos de exorcistas para lidar com coisas que iam para além do cotidiano e do ordinário.
Não viver demonizando o comportamento humano, nem viver ignorando os fenômenos torna-se sabedoria para nossas vidas. Ainda mais importante, porém, é buscarmos solução integrada para que não mais estejamos escravizados de forças e conceitos que podem nos impedir de sermos menos do que aquilo que Deus queria para nós. Jesus lidou algumas vezes com endominhados, mas não via demônios em toda parte. Também não fazia de conta que não existiam. João, seu apóstolo, definiu o ministério de Jesus de duas formas: Primeiro afirmou que Deus é amor (1 Jo 4.16), e depois disse: "Para isto se manifestou o Filho de Deus: Para destruir as obras do diabo" (1 Jo 3.8). Podemos concluir que o amor de Jesus e a compreensão de sua aceitação incondicional por nós, e seu ministério que confronta o mal, são elementos altamente libertadores para aqueles que ainda vivem sob a tirania do Mal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário