segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Justiceiros sociais

 


Voltamos à época das cruzadas. As famosas expedições militares e religiosas organizadas pela Igreja na Europa Medieval, entre os séculos XI e XIII, com o objetivo de reconquistar a Terra Santa, que estava sob domínio muçulmano, um fenômeno histórico complexo e multifacetado que na sua essência, incentivava as “guerras santas”, com o uso de força militar. Elas ocorreram por mais de um século, alimentando o fanatismo religioso, deixando um legado de ódio e intolerância, gerando um ciclo de violência e vingança.

As novas cruzadas vestem-se de uma roupagem do bem, da luta contra o preconceito e defesa das minorias e dos direitos humanos, algo realmente justo, mas infelizmente estão sequestrando tais movimentos para pregar o ódio e fazer propaganda política. Muitos destes guerreiros da Justiça Social, são fanáticos que se comportam como seita em “movimentos identitários” espalhando ódio e transformando os outros em inimigos. Nos EUA, ele é muito forte, em especial nas universidades. Dialogar com tais pessoal é impossível.

Raphael Tsavkko Garcia, fez uma análise jornalística muito interessante sobre este assunto. Para ele, trata-se da “geração cry baby”, ou “mimimi”, que busca “lugares seguros” e não aceita nada que os contradiga ou “ofenda”, e infelizmente quase tudo os ofende. Qualquer tentativa de diálogo encontra um muro de chavões e palavras de ordem vazias, como “lugar de fala”, “protagonismo”, “apropriação cultural”. Mesmo em ambientes universitários que deveriam ser espaços de diálogo torna-se impossível o contraditório e qualquer ideia não identificada com os “justiceiros” será impedida.

Assim ocorre uma ditadura do saber. Os inimigos serão “enxotados” e quanto menos se discutir, melhor. Os aliados são divinizados. A discussão está em torno de pessoas, discordantes, não em torno de ideias. Cria-se um gueto do conhecimento. De um radicalismo pulamos a outro. Um branco racista não é problemático apenas por ser racista, o é por ser branco. O homem machista, da mesma forma, não é problema por ser machista apenas, mas por ser homem. A vivência social se transforma em guetos. Se você não for do grupo, você é inimigo. Na tentativa (correta) de criticar padrões, propõem novos padrões com o objetivo de se estabelecer a “nova” norma. que pretende se transformar em uma coluna do bem e se tornar a regra do coletivo iluminado.

Diante desta cruzada moderna, os ataques aumentam e amplia-se o abismo. O padre Fabio de Mello cometeu o erro de usar o gênero incorreto para se referir a uma travesti. Foi apedrejado e virou inimigo jurado de ativistas fanatizados mais preocupados em atacá-lo por um erro ínfimo diante da grandeza de sua atitude e do poder que ele tem enquanto aliado de uma luta. Os casos de ataques e agressões se multiplicam, afinal, “todo homem é estuprador em potencial, todo branco é racista e todo hétero é homofóbico.” Os justiceiros são incapazes de lidar com a realidade. Ai daquele que cometer um erro “politicamente incorreto” que os ofenda.

Precisamos defender os grupos vulneráveis, e lutar pelos direitos humanos. Devemos discutir os direitos de minorias, mas não precisamos dos “haters”, demonstrando ódio ou hostilidade excessiva em relação a outras pessoas, ideias ou coisas, principalmente na internet expressando suas opiniões de forma negativa, agressiva e muitas vezes ofensiva, causando sofrimento ou humilhando seus alvos. Pregadores do ódio prontos a execrar os que pensam de forma diferente.

“Posso não concordar com o que você pensa, mas defendo até o último instante o direito de você pensar.”  Esta frase atribuída a Voltaire, significa que mesmo na discordância das ideias é fundamental entender que a liberdade de pensamento e de expressão são consideradas direitos fundamentais e essenciais para o desenvolvimento de uma sociedade livre e democrática e a base da democracia, A liberdade de expressão é um dos pilares da democracia, permitindo que os cidadãos participem ativamente da vida política e social.

 

Epigenética



Epigenética é um campo da biologia que estuda as mudanças hereditárias no funcionamento dos genes que não envolvem alterações na sequência do DNA. Em outras palavras, é como se fosse uma camada extra de informações sobre nossos genes, que influenciam como eles são "lidos" e utilizados pelas nossas células.

Para entender melhor, imagine o DNA como um livro de receitas: a sequência de ingredientes forma as receitas para produzir o produto esperado. A epigenética seria como marcadores ou notas escritas nas margens desse livro, indicando quais receitas devem ser usadas e com qual intensidade.

As marcas epigenéticas são adicionadas ao DNA ou às proteínas associadas a ele, e podem ser influenciadas por diversos fatores, como Ambiente, exposição a substâncias tóxicas, dieta, estresse. Estilo de vida, exercício físico, sono e hábitos alimentares. Exposição a substâncias químicas e o stress crônico e até mesmo doenças como o câncer, estão relacionadas a alterações epigenéticas.

Por isto a epigenética está acima da genética. Ela demonstra que não somos seres “pré-determinados”. Nossos genes não são um destino fixo. É importante ressaltar que a epigenética não altera a sequência de bases nitrogenadas do DNA, o "código genético" propriamente dito, mas pode adicionar "marcas" químicas ao DNA. Epigenética não significa que podemos "escrever" nosso próprio DNA. No entanto, mostra que temos um papel ativo na nossa saúde e bem-estar, e que nossas escolhas de estilo de vida podem ter um impacto duradouro em nossa saúde e na saúde das próximas gerações.

A epigenética, apesar de ser um tema complexo, pode ser explicada de forma clara e acessível para pessoas que não possuem conhecimentos aprofundados em biologia.

Por exemplo, compare o DNA a uma planta e o jardineiro. A semente contém todas as informações genéticas para a planta crescer, mas a forma como ela cresce depende do ambiente: a quantidade de sol, água, nutrientes e cuidados que ela recebe. A epigenética seria como o jardineiro que cuida da planta, influenciando como ela se desenvolve.

A violência, seja ela física, psicológica ou social, pode desencadear uma série de respostas biológicas no organismo, incluindo alterações epigenéticas. Essas alterações são como "marcadores" químicos que se ligam ao DNA e podem influenciar a forma como os genes são expressos.

Da mesma forma a religião e epigenética possuem uma conexão intrigante que cruza os domínios da espiritualidade e da biologia. Práticas espirituais e estilo de vida podem afetar diretamente a vida de uma pessoa, como orações, leitura de textos sagrados, jejum e restrições alimentares. Participar de comunidades religiosas proporciona forte sistema de pertencimento que pode ter impactos positivos na saúde mental fomentando esperança e otimismo, trazendo sentido e propósito na vida, motivando comportamentos saudáveis e reduzindo o estresse.

Duas frases de Skinner são muito importantes para esta reflexão:

“Não considere nenhuma prática como imutável. Mude e esteja pronto a mudar novamente. Não aceite verdade eterna. Experimente.” (Skinner, 1948) “Triunfar sobre a natureza e sobre si mesmo, sim. Mas sobre os outros nunca.” (Skinner, 1968)

 

 

A desafiadora tarefa de dar graças “em tudo.”

 


Eu era ainda um estudante na PUC-Rio quando uma colega perdeu seu filho de apenas dois anos num trágico acidente. O incidente atingiu em cheio toda turma chocada com a notícia. Perplexidade, emoções estremecidas, lágrimas, vozes embargadas pela dor. Um turbilhão de ideias vinha a nossa mente e os questionamentos, teológicos e indagações estavam presentes. Nossa fé e espiritualidade estavam sendo testadas no nível mais profundo. Como organizar a dor deste momento? Como lidar com as ambiguidades e paradoxos? Tudo era muito pesado.

Lembrando deste incidente, sou confrontado com a inquietante ordem de “dar graças em tudo.” A Bíblia não está dizendo que devemos dar graças “por tudo”, mas “em tudo”. Dar graças a Deus em tudo sugere gratidão em todas as circunstâncias, independentemente da natureza dos eventos, ainda que não estejamos felizes por aquilo que está nos acontecendo. É a capacidade de encontrar motivos para agradecer, mesmo em meio às dificuldades e sofrimentos. Dar graças “por tudo" coloca o foco nas coisas em si, enquanto "dar graças em tudo" coloca o foco em Deus. Dar graças “em tudo" aponta para o fato de que Deus pode transformar qualquer situação para o bem.

Dar graças em tudo não é um comportamento estoico de negar a dor. Nem mesmo fazer o jogo do contente, não significa negar as dificuldades ou fingir que tudo está sempre bem. Não é manter uma atitude utópica e ilusória de dizer que “não há dor.” A negação da dor não resolve a dor em si e pode ainda se tornar mais dramático pois podemos introjetar o sofrimento e adoecermos física e emocionalmente. A teologia cristã não afirma: “quem tem Jesus gosta de cantar, está sempre sorrindo mesmo quando não dá!” Diante da morte do amigo Lázaro, Jesus chorou. Ele não ignorou a dor.

"Em tudo dai graças" é um convite à gratidão constante, mesmo diante de situações desafiadoras. É um reconhecimento de que Deus está presente em todas as circunstâncias, mesmo quando não conseguimos compreender seus planos, e que Ele opera para o nosso bem. É uma atitude de fé e esperança que nos ajuda a viver uma vida mais plena de significado. Não é fácil dar sempre graças. Agradecer pelas coisas boas, um aumento de salário, uma conquista é fácil, mas agradecer sempre é desafiador. Basta olhar a realidade do nosso coração. Temos uma forte tendência à reclamação e murmuração, não à gratidão.

Não preciso dizer: “Que coisa maravilhosa, sofri um acidente de carro.”  ou “obrigado Senhor pela tragédia!”  Não se trata de masoquismo cristão. Não há nenhum prazer no sofrimento enquanto sofrimento. Mas podemos dizer: “Senhor, apesar da minha dor, eu sei que o Senhor me ama. Este momento de minha vida está muito difícil, e os fatos têm causado muita tristeza ao meu coração, mas eu te agradeço porque sei que, na sua sabedoria, o Senhor vai usar isto para tua glória e para o meu bem”. Neste caso, não estamos felizes com a dor, mas nos sentimos seguros no meio da dor porque sabemos que há um Pai amoroso e bondoso que cuida de nossa história, e que ele tem pensamentos de paz, e não de mal, para nossa vida.


 


domingo, 3 de novembro de 2024

Rede Social e Depressão

 


Falsa Liberdade



Esperança

 


Arrependimento