A culpa é má conselheira, mas, paradoxalmente, a consciência sensível é grande aliada. Pobre do homem que não sente dor quando erra, fracassa e toma decisões erradas. Uma das marcas presentes na personalidade adoecida e narcisista é a incapacidade de perceber seu próprio mal. Ver o mal fora de si mesmo é trágico! Não possibilita cura nem restauração. Psicopatas são conhecidos por não sentirem remorso, culpa, dor ou arrependimento.
O filósofo Luiz Felipe Pondé afirma que, apesar de ser ateu, tem se simpatizado cada vez mais com a percepção judaico cristã do mal. Para ele, sociólogos, políticos e ideólogos tendem a ver o mal fora de si mesmos, como conflito social, lutas de classes e lutas entre proletariado e burguesia. Tratam o mal como algo externo, coletivo, mas nunca individual ou pessoal. Segundo Pondé, isto criaria uma distorção. Assim, o outro ou as estruturas seriam a raiz do problema, entretanto, quando perguntaram a Chesterton - conhecido pensador cristão - qual era o grande problema da humanidade, ele respondeu sem pestanejar: EU.
Já o psiquiatra americano M. Scott Peck diz: “A verdade é que nossos momentos mais preciosos ocorrem quando nos sentimos profundamente desconfortáveis e infelizes, pois apenas estes momentos impulsionados pelo desconforto são capazes de nos levar a sair do caminho convencional e começar a procurar rotas diferentes e respostas verdadeiras. Muitos anos atrás, Sócrates afirmou: “a consciência é a esposa da qual ninguém pode se divorciar.”
Por outro lado, viver sob o eterno peso da condenação é algo demasiadamente angustiante. A Bíblia afirma de forma enfática: “O homem carregado do pecado de outrem, correrá até a cova; ninguém o detenha.”
Lady Macbeth é uma das principais personagens shakespearianas. Seu drama reflete o mais tenebroso aspecto da alma humana, pois revela os aspectos sombrios e atemporais do comportamento de homens e mulheres, como a ganância, a traição e a culpa. Esposa do nobre escocês MacBeth, Lady convence o marido a matar o rei Duncan. Sua vida, a partir de então, torna-se um tormento! Ela anda pelos corredores do palácio olhando para as mãos manchadas de sangue, vivendo severamente atormentada pela culpa, morrendo na parte final da obra, aparentemente por suicídio.
Como extirpar a culpa e viver livre das amarras da consciência? Nas Escrituras Sagradas, o caminho para a absolvição sempre passa pelo reconhecimento do erro cometido, confissão e arrependimento. Não há cura sem o encontro com a dor do pecado. A cura também surge com a compreensão de que só existe restauração real para pecados reais. Portanto, se não existe pecado real, não pode existir cura real.
O Rei Davi experimentou este lado sombrio da alma e também a graça maravilhosa do perdão. Em um de seus Salmos ele diz: “Bem-aventurado aquele cujo pecado é perdoado. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniquidade.” Ele não diz, bem-aventurado quem não sente a dor da vergonha, da culpa e do pecado. O que ele diz é: "bem-aventurado aquele que experimenta a libertação e pode viver livre das amarras da consciência."