sábado, 19 de março de 2022

Vamos Capinar Gueroba!

  



 

Tenho encontrado amigos e colegas em um espiral cada vez mais angustiante de estresse, depressão, burnout e outras síndromes. O filósofo coreano Byung-Chul Han afirma que somos a “sociedade do cansaço”, cada vez mais ansiosa e pressionada pela armadilha da performance, à beira de um colapso nervoso. Os sintomas estão se tornando cada vez mais frequentes e têm surgido cada vez mais cedo. É comum encontrarmos pessoas com apenas 30 anos já no limite, esgotados.

 

Quando converso com pessoas nessas condições, sugiro um exercício simples, recomendado pelo palestrante e escritor americano Wayne Cordeiro. Segundo ele, nosso tanque emocional precisa estar equilibrado. Se colocarmos apenas adrenalina, ele tende a esvaziar e a se esgotar. Precisamos recarregá-lo com oxitocina, o hormônio do prazer. E como fazemos isso? Há coisas que drenam nossa energia e coisas que nos energizam. Então, temos de identificar o que recarrega nossas baterias.

 

Em um papel, em uma coluna, escreva quais são os ladrões da sua energia. Em outra coluna, especifique o que te recarrega. Enumere alguns pontos positivos e negativos na sua dinâmica de vida pessoal.

 

Eu tenho uma lista pessoal que ajuda a manter meu equilíbrio: pescar, viajar, ter tempo para mim e conversar sem pressão de agenda, ler um livro prazeroso sem motivação acadêmica ou profissional, meditação diária, comer churrasco e pão de queijo com os amigos e família. Todas essas atividades facilitam minha caminhada.

 

Na última vez que sugeri a alguém listar as atividades prazerosas, fui surpreendido quando a pessoa mencionou, como 1° item, a tarefa de capinar gueroba (ou guariroba - palmito do cerrado, de sabor amargo, servido numa boa galinhada). Andar no mato e ouvir o cântico dos pássaros na chácara dos pais foram os outros pontos. Achei interessante.

 

Não importa o que você faça! É preciso descobrir o que traz descanso para seu corpo e alma. Se você já sabe, já pensou nisso, é necessário ser mais intencional. É preciso praticar com regularidade. Nosso organismo é como um aparelho: ao receber uma sobrecarga de voltagem, os fusíveis queimam e o motor funde.

 

Não cuidar de si mesmo, da saúde, da mente, da alma e da espiritualidade é uma grande tolice. Por isso, de vez em quando, coloque seu foco no lugar certo. Invista em sua saúde. Muitas vezes o caminho é bem

simples: basta capinar gueroba!

A Tragédia da Guerra



 

A Europa não enfrentava um conflito de proporções tão catastróficas desde a 2°Guerra Mundial e este cenário mudou com a invasão da Rússia na Ucrânia. Os motivos são os mesmos: nacionalismo extremado, desejo de supremacia e poder, vaidade e prepotência de líderes narcisistas e, como pano de fundo, razões econômicas.

 

A dissolução da União Soviética ocorreu em 26 de dezembro de 1991 e foi resultado da declaração nº. 142-Н do Soviete Supremo da União Soviética. O documento reconheceu a independência das antigas repúblicas soviéticas e criou a Comunidade de Estados Independentes. Nessa época, a Rússia perdeu grande parte da influência que manteve o mundo em suspense durante a Guerra Fria. Agora Putin, uma figura desafiadora e polêmica no exercício do poder, parece estar disposto a avançar pra reconquistar os terrenos perdidos.

 

A guerra traz graves danos à economia. Apenas os fabricantes de armas e a indústria bélica são favorecidos porque comercializam armas, munições, tanques, aviões e navios de guerra. Por outro lado, as dificuldades na cadeia produtiva se avolumam e problemas de logística e distribuição criam ainda mais agruras.

 

A guerra é trágica também quanto aos danos materiais que provoca. Casas destruídas, pontes, estruturas e prédios inteiros ruindo, sejam eles construções modernas ou históricas. Os prejuízos chegam a bilhões de dólares, mas, o maior de todos os danos é, certamente, o das vidas perdidas. A maioria das mortes se dá entre os jovens de 18 a 30 anos. Dados oficiais mostram que a Rússia já contabiliza 498 soldados mortos e 1,6 mil feridos, enquanto fontes não oficiais falam de 6 mil mortos. Como efeito colateral da destruição, ainda há a morte de idosos, bebês e crianças.

 

O lado mais obscuro de tudo isso surge depois da guerra, nos traumas gerados: surtos de ansiedade, pânico, angústia, medo e em alguns, o famoso trauma pós-guerra. Pessoas que serão atormentadas para sempre, tanto vítimas como algozes, pela brutalidade que a guerra impõe, em si mesma, de matar sem razão.

 

A Bíblia indaga: “De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras" (Tg 4.1,2). Há também muitas guerras nos corações inquietos, angustiados e atormentados. São barulhos não organizados. Há muita guerra nas famílias, disputas financeiras, luta por herança e vaidade. Há muita guerra no mercado de trabalho, na competição pelos clientes.

 

E vale lembrar que os efeitos da guerra são sempre trágicos: dores, perdas e traumas a perder de vista. Só a vaidade de governantes prepotentes justifica o absurdo da guerra. 

A Sociedade do Cansaço

  



 

Ensaísta sul-coreano e professor da Universidade de Artes de Berlim, Byung-Chul Han é um dos filósofos contemporâneos mais respeitados do momento. Um dos melhores textos para iniciar uma compreensão de seu pensamento foi traduzido no Brasil em 2017 pela Editora Vozes. O título é Sociedade do Cansaço.

 

Sua visão é a de que cada tempo possui suas enfermidades fundamentais. Tivemos uma época bacteriológica que chegou ao fim com a descoberta dos antibióticos e, graças à técnica imunológica, esse período ficou para trás. Já o começo do século 21 não é definido como bacteriológico nem viral, mas neuronal. “Doenças neuronais como a depressão, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL) ou a Síndrome do Burnout (SP) determinam a paisagem patológica do começo do século 21. Não são infecções, mas enfartos.”

 

Na gênese de todo esse cansaço, o professor diagnostica a sociedade do desempenho, que carece de vínculos significativos e sofre fragmentação e atomização. “O que causa a depressão, o esgotamento não é o imperativo de obedecer apenas a si mesmo, mas a pressão do desempenho.” O homem depressivo é o trabalhador excessivo que explora a si mesmo, sendo agressor e vítima ao mesmo tempo. Ele se encontra em guerra consigo, já que não consegue equilibrar a pressão da performance com sua própria capacidade emocional e física.

 

Somos uma sociedade que tem acesso a uma grande quantidade de benefícios, vivemos (em grande parte) com boa qualidade de vida, emprego, mas estamos no fim da linha. Somos cobrados não pelos outros, mas por nós mesmos, para sermos bem sucedidos numa sociedade de meritocracia. Perdemos a capacidade de descansar!

 

Quando olhamos os princípios bíblicos, vemos como Deus teve preocupação com o bem-estar humano. Ao criar o sábado, depois de fazer todas as coisas em seis dias, ele descansou. Ele realmente precisava de descanso? Alguém pode imaginar um Deus cansado? Jesus explica isso aos seus discípulos afirmando que o sábado foi feito por causa do homem. Trata-se de uma forma didática para demonstrar ao homem que ele precisa parar, dar tempo a si mesmo, reorganizar mente e corpo.

 

Jesus foi muito requisitado durante seu ministério terreno. Entretanto, quando estava no auge de suas ações, no meio de embates e com muitas pessoas requerendo seu tempo e de seus discípulos, Ele lhes fez um convite inusitado: “Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto.” (Mc 6.31). Essa foi a forma de Jesus cuidar dos seus seguidores. É preciso parar, descansar.

 

Mas existe ainda um outro cansaço que é o emocional e espiritual. E mais uma vez Jesus convidou: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei.” Não precisamos ser consumidos pelo cansaço, pelo stress. Há sempre uma hora e lugar de descanso e refrigério esperando por cada um de nós.

De Quanto Tempo você Precisa?

 



Tempo é uma questão de prioridade, não uma questão de relógio. Há um texto, cuja procedência ignoro, chamado O Banco da Vida. Ele diz assim:

"Quer saber o valor de um ano? Pergunte a um garoto que repetiu a série escolar. Para saber o valor de um mês, pergunte a uma mulher que teve um filho prematuro. Para saber o valor de uma semana, pergunte a um editor de jornal semanal. Quer saber o valor de um dia? Pergunte a quem tem tarefas árduas para fazer. Para saber o valor de uma hora, pergunte aos namorados que não veem a hora de se encontrar. Para saber o valor de um minuto, pergunte a quem perdeu o avião. Para saber o de um segundo, pergunte a quem conseguiu evitar um acidente de trânsito e, para saber quanto vale um milésimo de segundos, pergunte a um atleta que ganhou medalhas de prata nas olimpíadas. Por isso, não desperdice o seu tempo. Ele é seu bem mais precioso!"

O autor de Eclesiastes afirma que “há tempo para todo propósito debaixo do céu.” Ao contrário do que muitos creem, não há tempo para tudo, apenas quando há propósito. Toda vez que houver intencionalidade, o tempo aparecerá. Não falta tempo, falta foco e prioridade. Todos os dias decidimos o que faremos com o tempo que temos e o gastamos naquilo que consideramos importante e valioso.

Para aqueles que dizem não ter tempo, gosto de usar a seguinte analogia. Imagine se sua agenda estivesse lotada hoje, surgisse a oportunidade de realizar um grande negócio e você teria que parar suas atividades para realizá-las. Você teria ou não tempo para isso? Você não remanejaria toda sua agenda para resolver essa questão?

Imagine outro cenário: um jovem se apaixona por uma garota e quer vê-la novamente, antes de sua viagem. O problema é que ela mora em outro país e leva tempo encontrá-la novamente. Você não acha que ele faria todo o possível para adequar os horários e estar com ela? 

Quando você diz que não tem tempo para descansar, o que você está declarando, de fato, é que descanso não é algo realmente importante para você. Quando você diz que não tem tempo para sua família, você está afirmando que gastar tempo com sua esposa e filhos não é algo muito importante. Quando você diz que não há tempo para investir em sua vida espiritual, implicitamente, você afirma que Deus não é algo para ser colocado em primeiro plano.

De quanto tempo você precisa para fazer o que tem de ser feito? Na verdade, não é necessário ter horas a mais no relógio, mas sim foco e mais concentração. Se você tivesse mais horas, certamente investiria mais tempo no que considera importante. Afinal, mais da mesma coisa te leva para o mesmo lugar.

Você não precisa de mais tempo, mas de mais atenção para o que é fundamental. Não é de tempo que você precisa. Você precisa de propósito!