sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Prisioneiros do medo



 

Na festa familiar do dia de Natal, minha esposa, irmão e cunhada contraíram o influenza H3N2, e no período do final de ano todos passaram por um grande perrengue com esta doença. Minha esposa sofreu muito com uma forte dor de garganta e por quase cinco dias mal conseguia engolir, e até mesmo beber água tornou-se dolorido. Mas era “apenas” uma gripe e ia passar logo. E passou.

 

Mas quinze dias depois, recebemos a visita de outro vírus, o Covid-19, e desta vez todos da família foram contaminados, inclusive meus filhos que moram foram do Brasil e estavam conosco. Apenas meu netinho de 2 anos não foi positivado. E agora, com minha filha grávida, minha sogra de 86 anos em casa, todos estávamos enfrentando uma ameaça com outros tons: fazíamos agora parte de uma estatística de uma pandemia que só no Brasil já matou mais de 620 mil pessoas.

 

O que poderia acontecer? Apesar de sabermos que se tratava de uma cepa mais branda todos ficamos assustados com os possíveis desdobramentos e as consequências. Graças a Deus, todos passamos muito bem. Os sintomas não passaram de um gripe leve, e na minha filha foi quase assintomático. Mas era Covid-19. Pessoas ligavam, oravam, queriam saber como estávamos reagindo. Alguns ainda mais cuidadosos nos trouxeram almoço e lanche para nos apoiar e mostrar carinho e cuidado. Minha mãe que mora em Palmas-TO, ligava todos os dias para saber noticias.

 

No dia 20/12/21, o site da CNN notificou que na cidade do Rio de Janeiro, a Influenza estava matando mais do que a Covid-19, em dezembro quando se tratava de números absolutos,. No último mês do ano, 17 pessoas haviam morrido por Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) provocada pelo coronavirus, quase a metade dos óbitos provocados pela gripe no período: 33, de acordo com dados do Sistema de Informações em Saúde da Prefeitura do Rio de Janeiro. Mas poucas pessoas estão, de fato, com medo da gripe. Somos prisioneiros do medo do Covid.

 

De fato não dá para minimizar o grande desafio da pandemia, mas um aspecto precisa ser considerado. Podemos sucumbir mais aos efeitos deletérios do medo do que da doença em si. E assim deixamos de viver, nos encolhemos nos nossos afetos, restringimos relacionamentos, nos enclausuramos nos nossos temores.

 

Um artigo da Revista Brasileira de Psiquiatria afirma que “No caso de uma pandemia, além das manifestações físicas, o medo é capaz de aumentar os níveis de ansiedade e estresse em indivíduos saudáveis ou de intensificar os sintomas daqueles com transtornos psiquiátricos pré-existentes.” E fica o medo do vírus e de suas consequências. Medo que pode se exacerbar e se tornar uma “coronofobia”, provocando ansiedade e insegurança, já que desorganiza a previsibilidade, não só em relação ao comportamento do vírus em cada pessoa mas também no que diz respeito ao futuro da carreira, do sustento e dos negócios. Tais incertezas elevam a propensão a transtornos psiquiátricos e geram um evento traumático coletivo, numa dimensão nunca antes observada.

 

O medo precisa ser enfrentado. Um ditado japonês afirma que “o medo de perder não deixa a gente ganhar”. O medo precisa ser tratado, eventualmente precisamos conversar com amigos, terapeutas, famílias, não num negacionismo inconsequente e irresponsável, nem numa neurose fóbica limitante. O medo não é bom conselheiro. A Bíblia diz que “o amor lança fora o medo”. Talvez seja uma referência ao fato de que comunidade, igreja, família, amigos, todos os atos de solidariedade e amizade podem nos ajudar a terapeutizar, com a graça de Deus, o medo que nos ronda.

 

 

 

 

 

 

 

Não vamos trabalhar!!!

 


 

A maioria de nossa idade adulta gastamos trabalhando, envolvidos com o trabalho, procurando trabalho e falando do trabalho. Esta é uma forma social de iniciar uma conversa: “Eu sou ....” ou “Eu trabalho em...” Assim tem sido desde sempre e de forma mais profunda na era industrial. Muitos valorizaram mais o trabalho em suas vidas, que até mesmo suas relações afetivas ou sua fé.

 

Com  o surgimento da tecnologia, o trabalho tem sido cada vez menos físico e mais intelectual, além do mais existe mais liberdade de escolher a educação e de poder trabalhar nas áreas nas quais cada um se sente recompensado, cuja remuneração satisfaça, e que assegure o status social desejado.

 

Com a economia digital, o trabalho exige plena atenção, habilidade para criar, produzir, vender, inovar e consumir. Apesar do papel central do trabalho na vida do ser humano, recentemente um forte movimento, começou a surgir nos EUA, e tem sido chamado de “Anti-work movement”.

 

A pergunta que o Sheila Flynn levanta no Jornal Inglês “The Independent”  É interessante: é possível realmente existir um mundo sem trabalhos?” Ela analisa o fenômeno atual de um grande número de pessoas que pediram demissão de seus trabalhos. As estimativas falam em 4 milhões de pessoas que recentemente decidiram não trabalhar em empregos formais.

 

Na verdade este movimento não defende explicitamente a ideia de não trabalhar, mesmo porque as pessoas precisam sobreviver; mas expressa um desejo profundo de mudança, que ficou mais acentuada na pandemia. Um fórum foi criado, “Reddit”,  e tem crescido vertiginosamente. O número de pessoas inscritas aumentou 400% em um ano, alcançando quase 1 milhão de assinaturas. A proposta deste fórum é “começar um diálogo sobre a problemática do trabalho como conhecemos e resistir aos valores dos gerentes e corporações que encontram-se acima das necessidades dos trabalhadores e as relações abusivas do trabalho”.

 

Em Outubro de 2021, Elle Hunt, colunista do prestigiado “The Guardian”, escreveu um artigo sobre o assunto, aprofundando a discussão e explorando a crítica sociológica que este movimento suscita sobre o modelo “exaustivo e insustentável de trabalho” que sustenta a atual economia.

 

Os líderes do movimento reconhecem que precisam de ter dinheiro para pagar as contas e colocar comida na mesa, mas trata-se de uma reação ao sistema de trabalho estressante a que os trabalhadores tem sido submetidos. Eles advogam a necessidade das pessoas encontrarem um novo estilo de vida, mais saudável, mais feliz, e que realmente possa trazer significado.

 

Trata-se, portando, de uma reflexão sobre o papel da produção e do trabalho. Qual o local que ele deve ocupar em nossas vidas e prioridades? É possível repensar o modelo atual que tem sido a mola mestre da Era Industrial? Estamos iniciando um novo processo sobre as relações de trabalho que marcarão a Sociedade moderna nas próximas gerações? Bem... apenas o tempo poderá responder a estas profundas questões.

 

 

Faz escuro mas eu canto

 


No dia 14 de janeiro de 2022, faleceu o poeta e jornalista amazonense, Thiago de Mello, aos 95 anos. Ele foi um dos grandes escritores de sua geração. Nascido em Barreirinha, no interior do Amazonas, era um dos poetas mais conhecidos da região e cantou em prosa e verso sua luta pela preservação da maior floresta do mundo. Nara Leão tornou conhecido seu poema ao transformar sua letra em música. 

O texto mais conhecido de sua poesia, diz o seguinte: "Faz Escuro, Mas Eu Canto: Porque a Manhã Vai Chegar." Esta é uma maravilhosa noticia, não é? Saber que a noite não dura para sempre. 

Na verdade, os versos de Thiago de Mello parecem inspirados numa antiga poesia judaica, narrada no livro de Salmos, o texto tem um desdobramento interessante no judaísmo: “Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” (Sl 30.5)

É um salmo que descreve a bondade de Deus no meio do dor e da angústia. A verdade é que não há dor que dure para sempre, nem luto que não se encerre. Talvez este seja o momento mais difícil da sua vida, pode ser que você já tenha passado por situações ainda mais complexas, olhe para a sua história. A dor não tem o poder de predominar. Assim como o prazer e a alegria, a dor é fugaz e passageira. Amanhã será um novo dia, trazendo esperança e novas expectativas. 

Dois personagens bíblicos levaram a sério a questão de cantar na noite escura. Quando chegaram a Filipos, porta de entrada da Macedônia, os apóstolos cristãos, Paulo e Silas foram duramente espancados e jogados numa prisão, esmagados pelo peso da tortura a que haviam sido submetidos. O que fizeram? Surpreendentemente começaram a cantar. Este relato impressionante registrado nos anais da história do cristianismo teve desdobramentos inesperados, levando o carcereiro torturador, a um encontro pessoal consigo mesmo e com Deus. O impacto foi tão imediato, que ele decidiu receber os prisioneiros como hóspedes em sua casa, tratou suas feridas, lhes serviu refeição e tratou de suas feridas. Aquele que causava sofrimento, trouxe medicina e cura.

“Faz escuro mas eu canto.” Não é fácil cantar quando as trevas dominam, quando a dor dita o tom, e a esperança parece desaparecer. Não devemos cantar apenas quando há claridade. É importante ter esperança no caos. Acreditar quando o cenário é nebuloso. Cantar na noite escura, traz luz nas trevas, ilumina os porões menos arejados. Revigora a alma. Cantar em meio as trevas é rebelião, é subversão, é contra-intuitivo. O cenário pode não ser otimista, mas o coração ainda pode se manter elevado, afugentando as trevas, trazendo luz...cantando.

Novos Tempos Trazem Novos Desafios

 


É muito comum encontrarmos pessoas que se orgulham de não mudar. “Eu sempre fiz assim e não preciso mudar...”. Essa forma de pensar não é lógica, nem inteligente, nem produtiva. Novos tempos trazem novos desafios e esses desafios exigem mudanças.

A Kodak era líder mundial no ramo de fotografia. Analistas afirmam que ela perdeu o mercado pela recusa em fazer mudanças rápidas. Os japoneses ofereceram aos suíços o relógio de quartzo, mas como eles eram detentores de 98% do mercado mundial de relógios manuais, recusaram-se a mudar. Hoje, apenas colecionadores insistem em usar relógios analógicos. A Netflix ofereceu parceria à Blockbuster, que tinha 10 mil lojas ao redor do mundo, mas ela recusou a proposta. Todos sabemos o que aconteceu...

Na minha época de estudante, o professor atualizado usava mimeógrafo e retroprojetor. Os alunos de hoje não têm ideia do que são essas coisas, pois hoje mais se parecem peças de museu. Atualmente, outras tecnologias de ponta são usadas para comunicar de forma eficiente o conteúdo em sala de aula.  

Durante décadas, as agências bancárias foram pontos de convergência social. A geração moderna, entretanto, faz todas as transações bancárias pela internet. Os bancos que estão despontando no mercado e atraindo novos clientes possuem plataformas digitais inovadoras e alguns sequer possuem agências físicas. Tudo é feito virtualmente.

Há cerca de 16 anos, minha sogra então com 70, insistiu em comprar um computador. Chegamos a achar engraçada a situação, mas ela respondeu: “Se eu não aprender a usar a tecnologia, não vou conseguir conversar com meus netos”. Hoje, aos 86 anos, respeitando as limitações próprias da idade, ela tem acesso diário ao celular e se comunica pelo WhatsApp e pelo Skype.

É necessário mudar para lidar com os novos desafios. Toda mudança causa desconforto e desequilíbrio momentâneo, mas pode trazer ganhos imensos e duradouros. A adaptabilidade dos seres vivos garante sua sobrevivência. Mudanças são negativas quando ameaçam valores, pois princípios são eternos, atemporais e transculturais e não podem ser esquecidos ou desprezados.

Não podemos confundir essência com acidente, nem valores com métodos. 

Adequação e adaptabilidade é questão de sabedoria. Novas estratégias, recursos e pesquisas estão surgindo com grande velocidade e trazendo novos desafios. Não faz sentido continuar usando lamparinas se temos energia solar, nem andar de carroça se temos motores à disposição. Não aceitar mudanças é contraproducente e retrógado. 

Novos tempos exigem novas respostas.

Esperança ou cinismo?

 


Quanto mais envelhecemos, maior é a tendência de não acreditarmos em sonhos, promessas e narrativas. Na minha infância acreditava que a declaração de um livro refletia a verdade, afinal, porque alguém escreveria um livro sem que tivesse uma clara intenção de esclarecer, orientar e dar sabedoria ao leitor? 

A pandemia tornou mais acentuada a questão de como a verdade é aquilo que se deseja ser, para atender a interesses de monopólios, ideologias, religiões. Nem mesmo a ciência escapa do poder do capital. A medicina tem se tornado uma meretriz para atender a poderosos laboratórios cujo interesse essencial é o lucro. Hilton Japiassu já denunciou isto muitos anos atrás no seu livro “O Mito da Neutralidade Científica”. 

Toda esta ausência de valores pode nos tornar amargos, cínicos e céticos. É fácil se desorientar e suspeitar até mesmo de verdades comprovadas e de boas intenções. Jogamos fora a água suja da bacia, com a criança que estava dentro dela. Como discernir o falso do verdadeiro, a luz das trevas, o mal do bem? A ausência de convicções enfraquece o que é bom e belo. Apesar da simpatia que temos por Raul Seixas, o poeta maluco beleza, não dá para viver como uma metamorfose ambulante. Precisamos de parâmetros, de símbolos, de Norte. 

No Estado da Flórida (EUA), há um fenômeno conhecido como sinkhole, que ocorre esporadicamente. São buracos por debaixo da terra, desconhecidos dos construtores e projetistas, que ficam muito abaixo da superfície e cujos efeitos são devastadores para a construção civil, já que não é (ou não era) possível de serem detectados por causa da sua profundidade, mas depois da obra concluída, os terrenos cediam e construções eram tragadas lentamente por este buraco.

É sobre a ausência de fundamentos sólidos que no antigo livro de sapiência judaica o salmista escreve: “Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?” (Sl 11.3). Esta é uma pergunta extremamente importante para a geração pós moderna, desconstrucionista, relativista, pluralista e subjetivista. O que pode acontecer para uma civilização e cultura se os fundamentos da cidadania, moral e ética forem destruídos? O que pode acontecer para uma sociedade se ela resolver abolir os valores e princípios que até então eram considerados espinha dorsal no pensamento social e ético? O que acontecerá com a cultura que despreza Deus e os valores morais? 

Só temos duas opções: viver com cinismo ou com esperança. Nas virtudes teologais do cristianismo, a esperança - junto com a fé e o amor - compõe o tripé que rege, sustenta e motiva a vida. Diante dos paradoxos, vale a pena considerar mais atentamente a esperança, porque ela afeta a forma de viver e isto atinge emoções e até mesmo a saúde. A esperança potencializa o nosso viver. 

Numa recente pesquisa, 17% dos brasileiros escolheram a palavra esperança para 2022. Charles de Gaulle afirmou que “o fim da esperança é o começo da morte.” Que a esperança alimente seu coração neste tempo de incertezas. FELIZ 2022

A espera do Natal

 



Foram séculos de expectativa! Cerca de 600 profecias do Antigo Testamento vinham falando do Messias. Israel, enquanto nação, estava impregnada do senso de que algo excepcional e maravilhoso aconteceria. Centena de vezes os profetas falaram deste tema, sem terem ideia plena do que estava por vir, trazendo fragmentos desta grande notícia da chegada daquele que seria enviado por Deus para libertar Israel.


O que se sabia deste Messias? Ele viria do tronco de Jessé, da linhagem de Davi, da tribo de Judá. Ninguém sabia dizer quando, mas sim, era possível saber onde. Uma profecia exata apregoada pelo profeta Miqueias (700 a.C), afirmava com exatidão que ele nasceria em Belém, uma pequena, remota e obscura vila, que ficava próxima de Jerusalém. Dali nasceria aquele que haveria de reinar em Israel. Sua origem seria um tanto misteriosa, porque o profeta afirma que seus dias seriam desde a eternidade.


Era possível ainda saber pelas profecias, que este menino seria rei. Ele viria para reinar. “O governo está sobre seus ombros”. Seria libertador: quebraria as cadeias da escravidão. Seus atributos eram portentosos: “Maravilhoso conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,, Príncipe da Paz.” Mas apesar de todo seu poder e glória, ele viria em forma de criança: “Um menino nos nasceu, um filho se nos deu.” 


As profecias finalmente se cumpriram. O anúncio do nascimento desta criança não foi feito entre os poderosos, nem mesmo entre os religiosos, mas a pessoas comuns, pastores que viviam nos arredores de Belém: “Hoje vos trago boas novas de grande alegria, que o será para todo povo. É que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo o Senhor.”


O Messias chegou. O natal aconteceu. Emanuel. Deus conosco.


O Natal se dá no tempo e no espaço. E nós, admirados e encantados com esta notícia, colocamos nossa fé e esperança neste menino, que veio para nos libertar da culpa e do pecado. As profecias se cumpriram em Jesus, as promessas chegaram até nós. Mas ainda resta um caminho a percorrer, esta é a resposta de fé, daqueles que ouvem a notícia. “Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer.” Nossa resposta de fé implica na atitude de responder ao convite para irmos a Belém para ver a revelação histórica de Deus que se deu no seu Filho Jesus.


Desta forma, a profecia se cumpre em nós!