Meu pai está com 88 anos e, apesar de estar fisicamente muito saudável, nem sempre suas percepções estão ajustadas. Na maioria das vezes demonstra lucidez e é capaz de conversar sobre alguns assuntos. Em outros momentos, faz comentários completamente fora do senso comum.
Muitas vezes minha mãe afirma que ele está com “mamparra”, termo usual no interior de Minas Gerais e que significa fingimento, corpo mole ou preguiça. Fazer mamparra ou estar com mamparra é fingir-se doente para fugir do trabalho ou obrigação que demande esforço físico. Então, por não querer ter trabalho, ele estaria fazendo-se passar por doente e dependente. Sabemos, obviamente, que isso não acontece sempre, mas ele está usando cada vez mais desse artificio para a sobrevivência.
Uma das frases que ele começou a usar agora é própria desse mecanismo. Quando minha mãe o critica ou alguém fala algo de que ele não gosta ou ainda quando se trata de uma conversa da qual ele não quer participar ele diz: “Eu não sei do que você está falando.” Ponto. Discussão encerrada. Afinal, para que discutir com alguém que desconhece o conteúdo do assunto abordado?
Certamente este artifício (e ninguém saberá se o que ele diz é a realidade ou não) o tem livrado de muitas discussões e mal-estar. Ele não quer e não precisa participar mais das decisões que envolvem sua família e envolvem-no.
É quando fico pensando na sabedoria de ter “ouvidos moucos”, que diz respeito àquele que não ouve muito bem. Na verdade, há certas situações nas quais o melhor a fazer é não dar atenção ao que é dito, ouvindo apenas o que interessa, fazendo ouvidos de mercador. É a prática de se fazer de surdo, estratégia usada pelos antigos comerciantes para evitar barganhas excessivas por parte dos clientes que pechinchavam e pediam descontos.
Não ouvir ou não dar ouvidos pode ser sabedoria. A Bíblia relata que quando Saul assumiu o reinado e tornou-se o primeiro rei em Israel, logo surgiram oponentes questionando sua competência e liderança. Então, a atitude dele foi a seguinte: “Porém Saul se fez de surdo” (1 Sm 10:27).
John Kennedy, o carismático presidente americano assassinado em Dallas, disse, certa vez: “Sempre se ouvirão vozes em discordância expressando oposição sem alternativa, descobrindo o errado e nunca o certo, encontrando escuridão em toda parte e procurando exercer influência sem aceitar responsabilidade.”
Ter “ouvidos moucos” pode ser estratégico. Não dê atenção demais às criticas e questionamentos, não vale a pena se consumir com gente eternamente crítica e insatisfeita. Certamente o meu pai, mais uma vez, tem agido corretamente. De vez em quando precisamos afirmar: “Eu não sei do que você está falando...”
Eu sei do que você está falando.
ResponderExcluir👏👏👏👏👏👏👏🎂🎁🎉para o Sr. Jonas!! E eu tbem sei do q ele está falando!🙏🙏🙏🤣🤣
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