Barbara Ehrenreich, autora da famosa obra Nickel and Dimed, escreveu suas memórias
em “Miséria à Americana: vivendo de
subemprego nos Estados Unidos” (Edit. Record, Rio, 2004). Numa de suas
narrativas, descreve a experiência mística que transformou sua vida em Maio de
1959, aos 17 anos, quando começou a indagar sobre o sentido da existência
humana e “o que estamos fazendo aqui e para quê”.
Criada por pais ateus, seus esforços para responder
a estas questões eram estritamente racionalistas e ela foi atirada num atoleiro
do solipsismo. “Numa rua deserta, pouco antes do amanhecer, encontrei o que
quer que vinha procurando desde o início de minha busca. Foi uma experiência
impossível de ser descrita. Nesse ponto saímos do domínio da linguagem onde
nada resta senão murmúrios de rendição expressos em termos inefáveis e
transcendentes”.
Ela continua: “Não houve visões, vozes proféticas
ou aparições de animais totêmicos, apenas um esplendor por toda parte. Alguma
coisa se derramava para dentro de mim e eu me derramava sobre essa coisa (...)
era um encontro furioso com uma substância viva (...) Êxtase seria uma palavra
boa para isso (...) pode se assemelhar a uma explosão de violência”. Diante
disto pondera: “Ao em encontrar com este Outro misterioso (...) ainda poderia
me considerar ateia?”
Este é o Deus do cristianismo.
Um Deus indomável
que não pode ser detido por poderes espirituais, conforme vemos a reação da
simbólica figura do dragão descrita em Apocalipse 12 opondo-se ao nascimento do
Messias, e a oposição violenta dos poderes políticos na pessoa de Herodes
tentando matar todas as crianças da região de Belém. Ao mesmo tempo, porém,
Deus é gracioso ao visitar os magos do Oriente para anunciar seu projeto, e aos
esquecidos pastores dos arredores de Belém.
O Deus indomável é também gracioso e bom.
Santo
Agostinho fala do seu encontro com o Sagrado marcado pela união de amor e temor
(Confissões, XI, 11).
O Deus indomável é acessível e se vulnerabiliza na
pele de um frágil bebê, que é gerado no ventre de uma piedosa adolescente
chamada Maria. O Deus dos cristãos é ao mesmo tempo indomável, mas gracioso, disponível
e acessível.
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