Rubem Alves escreveu, um
livro repleto de paródias e crônicas com título sugestivo: “Pensamentos que
tenho quando não estou pensando”. Pensando nisto, queria propor outra reflexão similar:
“Que solução é possível quando não há solução?”, ou, “pra onde ir quando não há
pra onde ir?”
Pode parecer irônico, mas a
verdade é que, muitas vezes somos colocados em desfiladeiros e emboscadas,
trilhas que nos levam a lugar nenhum, e, emparedados não vemos a luz do sol nem
qualquer saída plausível. Em inglês usa-se a expressão “no way out”, isto é, “sem
saída”.
Na conhecida série de
J.R.R.Tolkien, “O Senhor dos anéis”, os protagonistas principais são quase
sempre levados às situações limites. A frase “não há esperança!” é repetida
muitas vezes. Embora seus livros sejam recheados de elfos, hobbits e seres
místicos, e a realidade do mal seja concreta e palpável, não há de forma clara,
a ideia de um Deus. Apesar deste “ocultamento intencional”, já que Tolkien era
um católico praticante, sempre surge uma saída inesperada e a solução aparece.
São muitos os que pensam não
haver uma saída.
Creio que a depressão, o
desespero e mesmo o suicídio sejam muitas vezes resultantes da incapacidade de se
perceber qualquer possibilidade para vida. Acompanhei um amigo que passou por
um duro processo de divórcio, e muitas vezes estive com ele encorajando-o,
dizendo que as coisas iriam mudar, mas ele sempre insistia que não suportaria a
tristeza. Num dia especialmente dolorido afirmei que ainda iriamos rir desta
história, e ele, olhos vermelhos, chorando, tentando esboçar um sorriso me
disse: “Não brinque com minha dor!” Tornando curta uma longa história,
recentemente vi fotografias suas passeando com uma loira bonita pelo nordeste
brasileiro: Acho que ele encontrou uma saída e está bem...
Um dos livros que mais
desafia o intérprete na Bíblia é Jó. Suas
questões são filosoficamente graves. Deus é um dos personagens do texto que
aparentemente se oculta e desaparece. Jó está sempre perguntando o porquê das
coisas e Deus permanece silencioso. Num dado momento sua mulher se cansa de sua
resignação e explode: “Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre!”
Ela propõe a Jó uma ruptura radical de oposição a Deus e sugere que ele se
suicide.
Como Jó responde a esta situação
aparentemente sem saída? “Falas como qualquer doida, temos recebido o bem de
Deus e não receberíamos também o mal”. Posteriormente afirma: “Eu sei que meu
Redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra”. Sua esperança, quando não
há esperança, está em Deus, o único lugar para onde se pode caminhar quando não
se vê saída. Sua fé constrói a ponte sobre o caos, a dor e o desespero, e lhe
dá a resiliência necessária até que novas e miraculosas portas se abram.
Com Deus não há estradas sem
saída. Quando o Mar Vermelho adiante se mostra intransponível, e o exército egípcio
se encontra ameaçador por detrás, a saída aparece. O milagre de Deus acontece
abrindo caminho seco e surpreendentemente enxuto para atravessar. Sempre há
saída!
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