Desde a década de 80, a sociedade ocidental tem adotado o estilo fast food (comida rápida), que ironicamente tem sido mais fast e cada vez menos food. As vantagens são interessantes: Não temos tempo para preparar, parar, conversar ao redor da mesa, e a gordura saturada possui um sabor muito adequado ao paladar. Além do mais, este tipo de alimentação vem quase pronta, com preço acessível e parece responder à questão do imediatismo moderno.
No entanto, pesquisadores estão questionando cada vez mais os riscos de se comer em pé, apressadamente, comidas pré-preparadas, já que esta atitude e este tipo de alimentação comprovadamente trazem sérios danos à saúde física; mas na geração apressada, com enorme senso de urgência, os esforços tem sido desestimulantes da parte das autoridades, médicos, e instituições que se preocupam com isto.
Uma nova onda, naturalista, porém, está em franco crescimento. Trata-se do slow food (comida lenta), defendendo que comer não é apenas o ato de saciar a fome, mas há alguns ritos implícitos e salutares em se assentar ao redor da mesa, sem presa, conversar e aguardar os processos nos quais o alimento vai sendo lentamente preparado. Por esta razão sempre comenta-se sobre o sabor da comida da mamãe, que parece ser a melhor comida do mundo, e em certo sentido, isto é verdade. Talvez haja alguns elementos como o riso e a celebração, pessoas amadas, transformem o sabor do alimento.
Meus dois filhos moram em outras cidades. Um no Brasil e outro nos EUA. Quando eles chegam de viagem, naturalmente os convidamos para sair e almoçar fora, mas certamente o melhor prato não é comido nos bons restaurantes que temos na cidade, e sim quando todos decidimos preparar, juntos, a comida, a mesa, os pratos, e ficamos juntos conversando e trocando experiências. O ato demorado de se preparar a comida, e cada um é expert em preparar certos pratos, transforma o ato de comer num encontro excepcional.
Minha filha gosta de preparar comida mexicana, meu filho é expert em assar picanha, minha nora gosta de fazer risoto, minha esposa é especialista em pratos caseiros, gosto de fazer uma costela aprendida com meu sogro, e as receitas são assim compartilhadas e os pratos são devorados com um senso de reverência e alegria. Experimenta-se sacralidade e eucaristia ao redor da mesa, contando casos, lembrando histórias, preparando saladas, lavando vasilha, e tudo é participativo.
O alimento, no conceito da ancestralidade e na experiência tribal, sempre foi um evento comunitário, com efeito sociológico em cada cultura específica. Por isto nos recordamos das cenas recorrentes nos filmes que resgatam esta dimensão antropológica. Come-se devagar, gasta-se tempo ao redor da comida, conversa-se muito, reparte-se a comida, decide-se e celebram juntos. Isto não é possível com o sanduiche apressado na mão, conversando pelo telefone, andando pelas ruas ou em pé diante do balcão, acreditando que parar e comer é um atraso na produtividade e efetividade profissional. Pelo contrário, seremos mais saudáveis e certamente mais efetivos, se entendermos que a comida é melhor, quando não estamos escravizados pela tirania do urgente.
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