sexta-feira, 6 de maio de 2016

Mudanças


Depois de 14 anos na mesma casa estou de mudança. Eu não sei quanto a você, mas mudança é algo profundamente desconfortável prá mim. Primeiro, porque me desestabiliza. Acho curioso como o cérebro funciona no processo de ter que inverter a ordem das coisas, com o espaço perdendo suas referências, então, toda vez que vou pegar alguma faca ou garfo, mesmo sabendo que estão em outro lugar, dirijo-me inconscientemente na direção que ficavam anteriormente.

Em segundo lugar, mudanças revelam a quantidade de coisas inúteis e imprestáveis que acumulamos. Sem contar a quantidade de remédios vencidos. Minha esposa, pragmática diz: “Prá que guardar isto se não usamos por 14 anos? Eu, confesso acumulador, reajo defensivamente: “Mas qualquer hora destas poderemos usar isto...” Acho que minha argumentação não é convincente, porque no final, ela sempre vai desapegar-se, doar, ou jogar no lixo.

Terceiro, mudanças revelam nossas tolices. Eu tenho a mania de guardar papéis, clipes, canetas... tenho umas 100, de várias marcas, desde simples até sofisticadas. Fico imaginando o que vai acontecer quando eu morrer: meus filhos vão rir da minha sandice acumuladora. Estas coisas que hoje valorizo são souvenirs inúteis que, na maioria das vezes, só servem mesmo para meu próprio uso, se é que vou usá-las...

Quarto, mudanças abrem perspectivas. Nem sempre mudanças são tão fáceis quanto a que estou vivendo. Para muitos trata-se do desemprego, tragédias, escassez, que os obrigarão a grandes mudanças, sem considerar a morte de um cônjuge que muda radicalmente a forma de viver. Entretanto, mudanças abrem novas formas de interpretar e viver a vida. Quantos não se tornaram prósperos por causa da instabilidade e da crise que virou de ponta cabeça a ordem estabelecida? Instabilidade gera movimento, criatividade e novas invenções.

Dr. Eugene Peterson, Deão do Trinity College em Vancouver, dava uma palestra a estudantes quando um deles lhe perguntou qual era a coisa mais importante da vida. Ele relata que sua resposta surpreendeu, não apenas os alunos, mas a ele mesmo. Ele disse quase irrefletidamente: “Bagunça! Caos!” Então se explicou: Quando todas as coisas fogem ao seu controle, será necessário buscar novas alternativas que geralmente não seriam consideradas se ainda estivéssemos na zona de comodidade e segurança.

Portanto, se você, assim como eu, está em mudança, considere as perspectivas e abra os olhos. Você poderá se surpreender com as impressionantes possibilidades que encontramos na vida quando saímos deste lugar de estabilidade.

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