O país mais rico e poderoso do mundo encontra-se no
processo de escolher o futuro presidente. Dentre as opções há os moderados, os políticos
de carreira, azarões que se aventuram a concorrer ao cargo, uma forte
candidata, que, se eleita, seria a primeira mulher a assumir o cargo e um
falastrão chamado Donald Trump.
Trump é biliardário, acumulou riquezas por sua
sagacidade e agressividade no mundo do Business. É inconsequente, fala o que
vem na cabeça e não sente necessidade de qualquer sensibilidade a grupos
minoritários. Pela sua forma grotesca, era de se esperar uma reação oposta tão
grande quanto a da possível candidatura do Tiririca no Brasil.
No entanto, o que vem acontecendo? Trump tem
conseguido vitórias em algumas prévias do seu partido republicano, justamente
por ser claramente contra os imigrantes, especialmente latinos, islâmicos e
árabes. É quase certo que sua
candidatura não emplaca, mas por ter um discurso reacionário, radical e xiita,
é de impressionar que esteja obtendo vitória num país de mente aberta, que
sempre enfatizou a liberdade, moderação e tolerância. O apoio politico que vem
recebendo indica uma tendência. O que nos ensina o Efeito Trump?
É interessante considerar que é fácil sair da
oligarquia para a ditadura, atravessar a fronteira da democracia e chegar à anarquia,
como já sinalizava Platão, na sua teoria cíclica da história. As tendências
mudam.
No Brasil, saímos da oligarquia dos Orleans e
Bragança para a República, que oscilou entre a liberdade e a ditadura, e agora
entra num sistema quase anárquico. O
aumento da corrupção e violência, torna o ambiente propício para surgimento de
mercenários e justiceiros, contratados para
proteger grandes poderes econômicos ou mesmo o inseguro cidadão comum. Surgem assim
códigos e ética nem sempre convencionais; fazendeiros contratam jagunços para proteger
suas propriedades contra grupos que se consideram acima da lei, e algumas regiões
como luxuosos condomínios da Barra da Tijuca, Lago Sul em Brasília e a nobreza
de Higienópolis em São Paulo são militarizadas.
Neste ambiente inseguro, surge o desejo por uma
figura forte que traga a ordem e a paz. Foi assim que surgiu Hitler. Um homem
carismático com um discurso de ultra direita, extremo nacionalismo, e
restauração do orgulho e economia do país e de resistência aos imigrantes (no
caso da Alemanha, os judeus). Até mesmo igrejas, padres e pastores aderiram e
abraçaram a causa do III Reich, porque viam neste bárbaro ditador, a resposta
aos desmandos e rumos da nação.
Donald Trump pode se tornar assim para os
americanos. A tábua de salvação, a resposta às tendências liberais, à moral
frouxa e ruptura com as tradições. Seu discurso
atrai os conservados e a ultra direita dos radicais de Maine e Nevada.
E no Brasil, o que podemos esperar senão a mesma
tendência? Quanto mais desacreditada se torna a nação, mais aumenta o desejo e
aspiração pelo surgimento de um messias,
um redentor, uma figura pública que se torne a salvação da moral e dos costumes,
que confronte um congresso fisiológico, corrupto e viciado, e desmantele
quadrilhas de funcionários públicos que são movidos à extorsão e só trabalham à
base de propinas.
Este terreno fértil do “nobody, nowhere, nonsense”,
produz aspirações distorcidas e anseios por soluções mágicas. No entanto, a
grande verdade é que “não existe almoço grátis!”. Não se constrói um corpo
saudável com anabolizantes; não se alcança ordem e progresso com artifícios e
populismo barato; nem se protege e constrói o caráter de uma geração com
frouxidão educacional e tolerância preguiçosa.
Há muita coisa complexa e difícil. Não se constrói
uma catedral em um mês, nem existe fórmula fácil e mágica. É necessário trabalho,
perseverança e integridade. Hitler, Idi Amim Dada, Hugo Chavez nunca trouxeram
benefícios duradouros para suas nações, assim como Trump não traria aos EUA,
nem qualquer aventureiro e falastrão trará ao Brasil.