terça-feira, 24 de março de 2015

Onde estão os pais?


Com a fragmentação familiar e a competitividade do mercado de trabalho, a figura do pai está se tornando cada vez mais ausente e distante. Faltam pais no mercado! Gente comprometida em ser mentor e guia de seus filhos. Faltam referências familiares, e os filhos tem sofrido de forma lastimável esta ausência paterna.
Mãe possui uma relação uterina com o filho, mas ele não pode ser chamado sempre de “menininho da mamãe!”, ou “que gracinha!”. Pais precisam assumir seu papel e afirmar a masculinidade do filho. Feminilidade não transmite masculinidade.
Pouco se tem falado hoje dos riscos da ausência paterna ou alienação parental. No entanto, a pergunta mais essencial no coração de um menino só pode ser respondida pelo pai: “Tenho algum valor?” Filhos querem saber o que o pai pensa deles e anseiam pela companhia paterna. O momento mais feliz de um filho na tenra infância é a hora que o pai chega do trabalho. O afastamento intencional ou não pode se tornar um grande problema na personalidade da criança.  
Chuck Colson foi assessor do Presidente Richard Nixon e o pivô do escândalo Watergate. Julgado e na prisão teve um encontro pessoal com Jesus. Durante estes anos, viu o sofrimento dos presos, distanciados de seus familiares e criou a ONG Prison Fellowship, que procura dar apoio aos presos e familiares, para uma população carcerária que somente nos EUA Unidos chega a quase 2 milhões de pessoas.
Alguns anos atrás esta ONG providenciou papéis, envelopes e selos para os presos que quisessem enviar cartões no dia das mães. O resultado foi um sucesso. Milhares de presos mandaram cartas e cartões e por isto resolveram ampliar a idéia para o Dia dos Pais. No entanto, o resultado foi um fracasso. Raros foram os presos que decidiram enviar cartas para seus pais.
Isto revelou o fato que há um sentimento vago, ambíguo e até mesmo hostil entre pais e filhos. A grande maioria dos presos não tinha uma idéia clara de paternidade. Havia uma ausência paterna. A cadeia é um destino comum para quem nunca teve pai.
Historicamente, a maneira tradicional de criar filhos, sempre foi ensinando-os a mesma profissão, andando ao lado, conversando, fazendo flechas, caçando e pescando. O Pai levava consigo os filhos em sua companhia. Havia mentoria.
A ferida mais profunda no coração de um filho é infligida pela ausência emocional ou geográfica dos pais ou nas palavras que são ditas (ou não ditas). Tais feridas são recebidas de forma ativa ou agressiva, e nem sempre podem ser percebidas de forma imediata, tornando-se com um câncer que se desenvolve de forma lenta. Bly afirma: “Um pai ausente, indiferente ou distante, que só pensa em trabalhar, é uma ferida”.
Alguns pais ferem pelo silêncio. Estão fisicamente presentes, mas emocionalmente ausentes. O silêncio é ensurdecedor. No caso de pais silenciosos os filhos estão perguntando: “Quem sou eu?”; “eu significo algo?”. O silêncio é também ambíguo: “Não sei, talvez sim...” A dor mais profunda surge nas palavras ou atitudes, que dizem sem dizer: “Incapaz, burro, incompetente, mocinha”. Excesso de trabalho, culpa e abandono roubam a identidade positiva. Meninas também precisam de afirmação. Muitas garotas correm para o braço de outros homens, buscando a afirmação que lhes foi negada em casa, na busca do abraço masculino inexistente em casa. Filhas amadas aprendem a se esquivar e a fazerem boas escolhas para o casamento, porque aprenderam um sadio modelo de masculinidade em sua casa.

Filhos precisam de pais!

Viver é perigoso!


Não é fácil manter a vida num nível satisfatório de realização pessoal. Não raramente somos consumidos por ansiedade e insegurança, porque a vida possui esta capacidade de ser dinâmica, de desinstalar, de mudar a rota e a rotina. Por isto Guimarães Rosa afirmou: “Viver é perigoso!”
Desânimo, depressão, incertezas, dúvidas, angústias, medos reais e imaginários, estão sempre ao redor, e não é preciso nenhuma teoria conspiratória para explicar isto. Não raramente temos sensação de abandono, de solidão, de rejeição, de não sermos amados, de que vão nos trair. O que difere a situação anormal da normal nestes casos, é apenas a intensidade.
Manter a vida num nível satisfatório é complexo.
Jesus, dialeticamente, levanta uma questão: “Se o grão de trigo não morrer, fica ele só; quem quiser preservar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por amor do meu nome, achá-la-á”. Para Jesus o segredo não estava na capacidade de controle que temos sobre a vida, mas na capacidade de descansar. A onipotência mostra-se insuficiente e frágil. Quem luta para ter o controle, segue em direção à confusão e o engano.
Não temos condições de articular o futuro nem de impedir que males nos sobrevenham. Naturalmente precisamos ser cuidadosos e sábios. “prudência e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”, mas a verdade é que a luta para manter todas as coisas debaixo do controle mostra-se inútil, transformando-se em angústia, ansiedade, neurose fóbica e obsessão.
Jesus tenta ensinar isto aos discípulos: “Por isto vos digo: Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais que o alimento e o corpo mais que as vestes? Observai as aves dos céu: Não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura não valeis vós muito mais que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida?”. Estas palavras parecem soar como descaso com a vida, mas não é esta a proposta de Cristo. Ele quer que coloquemos nossa confiança não na nossa capacidade de controle e onipotência, mas na provisão e cuidado de Deus.
Os discípulos naqueles dias também tinham suas preocupações e estavam cheios de incertezas. As pessoas morriam cedo, qualquer infecção mais grave sem antibiótico, poderia ser fatal. Não havia sistema de aposentadoria nem leis trabalhistas. Pessoas idosas e sem saúde enfrentavam muitas dificuldades. No entanto, Jesus insiste em que elas ponham sua confiança no sustento que vem de Deus.

Onipotentes e controladores, tentamos manter todas as coisas sob nosso controle, mas a verdade é que nenhuma garantia temos sobre o amanhã, a saúde, finanças ou a vida. Seu seguro de vida não segura sua vida nem o protege. Precisamos descansar, confiar no Pai Eterno, que cuidou de nós até hoje e vai continuar cuidando.

Estabilidade


Não é fácil falar de estabilidade numa sociedade instável e incerta. Dentre os conhecidos votos monásticos, os candidatos à reclusão tinham que fazer quatro votos: Pobreza voluntária, castidade, obediência e estabilidade. Todos estes votos parecem tão estranhos à nossa realidade. A pobreza voluntária é confrontada com a ambição e o espírito capitalista. Castidade parece mais um palavrão que uma virtude; a obediência é confrontada com a insubmissão e a autonomia que parece valores tão caros hoje em dia. Estabilidade? Alguém sabe o que é isto???
Cabe dentre os conceitos modernos a palavra fluidez, agilidade, transitoriedade, movimento, liquidez – estabilidade nunca. Não é sem razão que os empregos são tão instáveis, famílias são tão transitórias, o amor tão liquido... o que ninguém considera é quanto a instabilidade pode ser danosa para nossas emoções.
Considere o trabalhador. São poucos os que permanecem longo tempo e fazem carreira dentro de uma empresa. Eles não acreditam que a empresa tenha preocupação com eles, e eles também não se preocupam com a empresa.
Em relação aos afetos, vivemos dias de amor líquido. Um amor plasmático, transitório. “Ficamos” para não ter que realmente ficar. Criamos contratos para não fazer alianças. Contratos possuem cláusulas de vantagens e riscos calculados. Quem se arrisca a entrar num relacionamento sem que as regras, as normas, as alíneas não estejam claras? Alianças possuem sacralidade, conceito de Eterno, presença de Deus, compromisso.
Filhos vão ficando pelo caminho, sem entender as mudanças, por mais que se convencione estar tudo dentro da normalidade. Hoje estão com o pai e a mãe; amanhã com o pai e a amante; noutro dia com a mãe e o novo companheiro, e quando os pais não se acertam ainda existe a possibilidade da casa do avô e da avó. Esta transitoriedade pode ser perniciosa porque quebra os fundamentos essenciais da psiquê que precisam de rituais e convenções. Recentemente um casal de amigos queria levar o filho de 3 anos para a Disney. Considerei que a quebra de rituais é muito boa pessoas adultas de férias, mas que crianças precisam de horário, e para esta idade, a não ser o fato de que os pais se distanciam por 12 dias, estar na casa do avô com comida no horário certo, brincando na piscina de plástico com os priminhos, é mais agradável do que o burburinho e agitação de uma viagem.

A instabilidade gera stress. Eventualmente as coisas sairão do controle e teremos que lidar com elas, mas não ter regras nem valores, noções de tempo e espaço, regularidade, rituais, hábitos corriqueiros e certa disciplina de horário e alimentação podem trazer graves distúrbios de ansiedade, angústia e até depressão.