quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Medo da liberdade





Na semana passada o trágico caso Suzane Von Richthofen teve mais um dramático lance. Após ser beneficiada pela progressão ao semi-aberto, por ter cumprido 1/3 de sua pena, e por ter bom comportamento, ela disse que não queria deixar a Penitenciária Feminina 1 de Tremembé (SP), onde cumpre pena de 39 anos e 6 meses, em regime fechado, pelo assassinato dos pais, no ano de 2002.
Em carta enviada à direção do presídio, Suzane disse que pretende esperar a instalação de uma ala de semi-aberto no local, o que só deve ocorrer em seis meses, e que é sua intenção continuar trabalhando na Funap, pois necessita da remissão de pena (de um dia de pena para cada dois trabalhados) e do salário das atividades.
Diante disto tudo, fica a pergunta: O que, realmente, a levou a rejeitar o beneficio que lhe daria certa liberdade?
Várias razões podem estar envolvidas, desde uma estratégia legal planejada pelo advogado, até motivos emocionais.
Suzane pode ter recusado a sair com medo de revanche ou vingança, temendo represálias familiares ou sociais. Pode ter se recusado ainda, porque depois de 12 anos na cadeia, sente-se insegura e sem o treinamento adequado para lutar pelo seu salário fora da cela, ter que trabalhar e garantir sua própria sobrevivência, ainda mais tendo que superar o enorme estigma de ter sido cúmplice no assassinato de seus próprios pais.
Existe ainda outra possibilidade. Suzane pode estar com medo da liberdade em si. No filme, “O sonho da liberdade”, estrelado por Morgan Freeman, um dos presos se recusa a sair da prisão depois de cumprir a pena. Ele declara que não conseguiria mais viver do lado de fora pois estava bem adaptado à prisão, e por já ter se tornado “vítima da instituição, não queria a liberdade que lhe era oferecida. Ser livre era mais angustiante que viver como preso o resto de sua vida.
Nem sempre as pessoas querem ou sabem lidar com a liberdade, alguns de fato a temem, encontram dificuldade em serem pessoas livres. A liberdade torna-se ameaçadora. Por isto preferem a prisão e se submetem aos seus algozes. É muito comum encontrar prisioneiros das drogas, de sistemas religiosos escravizantes, de governos totalitários e de entidades espirituais que se sentem ameaçados quando pensam em se libertar. Acham que não podem viver sem esta estrutura de poder e tirania.
Por isto é bom considerar que existe um tipo de prisão muito mais sério que uma cadeia. Ela encarcera psicologicamente as pessoas, deixando-a submissas e indulgentes aos abusadores, não são capazes de esboçar qualquer reação. Um caso extremo é a Síndrome de Estocolmo, no qual pessoas seqüestradas se apaixonam por seus algozes.
Na sociedade moderna é possível encontrar mulheres abusadas por maridos inescrupulosos, filhas e filhos tiranizados que sofrem abusos e que não conseguem romper os grilhões Alguns dependentes das drogas, pornografia e do álcool, não conseguem imaginar como seria viver livre, porque a possibilidade da liberdade, em si, já é uma tortura.
Outros optam pelo auto-encarceramento, por causa da culpa. É um mecanismo de auto punição. Sentem-se culpadas e incapazes de viverem em liberdade. São almas cativas de seus exatores e tiranos, aprisionadas pela culpa.

Esta certamente é uma das vertentes possíveis da afirmação que Jesus fez aos judeus escravizados pela sua própria religiosidade: “Examinais as Escrituras porque julgais ter nelas a vida eterna, e fazeis bem, porque elas testificam de mim, contudo, não quereis vir a mim para terdes vida”. Eles recusavam a vida que Cristo lhes prometia. Ter acesso à liberdade, nem sempre é suficiente para nos tirar da prisão.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Tempo e modo


O sábio Salomão afirma que “para todo propósito há tempo e modo” e que a pessoa sensata deve discernir estas coisas nas escolhas que faz e nas atitudes que toma.
Por não sermos capazes de perceber bem o tempo certo e o modo adequado de fazer as coisas, muitas vezes cometemos graves equívocos. Fazemos as coisas do modo certo na hora errada ou do modo errado, ainda que no tempo certo.
Por exemplo, discutir o relacionamento familiar é algo necessário, e da mesma forma fazer ajustes de disciplina de filhos, alinhar a visão financeira de casa, tudo isto precisa ser feito, mas se fizermos na hora errada, a discussão destes assuntos transforma-se em conflito. Muitas vezes o momento não é propício: conversamos quando estamos cansados ou irritados ou num ambiente não adequado. Aquele assunto precisa ser discutido e as soluções precisam ser encontradas, mas será que a hora é certa?
Podemos ainda, fazer a coisa na hora certa, mas de modo errado. Fechamos a porta do quarto de casa, vamos tratar do assunto num momento em que as condições estão favoráveis, a hora é certa – este é o momento! No entanto, fazemos com altercação, acusação, ira e cólera, e assim, embora o momento seja adequado, o modo é inadequado, e por isto somos incapazes de criar linhas de comunicação e diálogo.
A inadequação com o uso do tempo, gera profundo desgaste e traz muita dor de cabeça. A Bíblia diz que “a palavra boa, dita a seu tempo, quão boa é”. Mas precisa ser boa e dita no tempo certo. Um comentário na hora errada pode trazer forte desentendimento. Já viram pessoas contando piadas em meio ao sofrimento? Fazendo cantigas na hora do luto? Zombando, menosprezando ou sendo cínicos com outro na hora de uma conversa séria? Isto é o que significa fazer na hora certa do modo errado. As duas situações geram desconforto e mal estar.
O segredo da vida tem a ver com o uso do tempo certo na hora certa: tempo e modo. Saber se aproveitar de ambos é apropriado às pessoas sensatas. Os tolos falham em um ou outro ponto.
É interessante notar ainda a afirmação de Salomão: “Para todo propósito, há tempo e modo”. Quando temos propósito, encontramos o tempo e a forma certa. Muitos afirmam não terem tempo, mas o que na verdade está faltando é propósito. Se tivermos intencionalidade e focarmos num determinado alvo, o tempo vai aparecer. Tempo é uma questão de prioridade, de escolhas, em outras palavras – propósito.
Assim também acontece com o modo. Se quisermos atingir alvos, precisamos utilizar do modo certo. Com jeito, com educação, fineza, com esforço adequado e correto, torna-se mais exequível atingir as metas, se não encontrarmos o meio correto, não atingiremos os alvos.




segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Ira não resolvida

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Não é muito difícil sermos irritados e provocados por pessoas e situações ao nosso redor, felizmente a maioria desta raiva ou ira se dissolve rapidamente. É um comentário feito pela esposa (o), a grosseria do chefe, a intransigência do pai, uma ultrapassagem forçada no trânsito, a demora no atendimento de uma instituição pública ou financeira, o telefone que não funciona quando você precisa... e a lista é quase interminável.

A nossa irritação eventualmente é razoável, mas não raramente é desproporcional ao que nos aconteceu. Nossa reação depende muitas vezes, não exatamente do que nos fizeram, mas do grau de humor e irritabilidade que estamos enfrentando. Muitas vezes estamos serenos e eventuais provocações não nos tiram do sério; outras vezes estamos com o nervo à flor da pele, e coisas pequenas tornam-se grandes, gerando desavenças, discussões e até mesmo ofensas em casa e no trabalho.

No entanto, existe ainda uma ira pior do que esta: É a ira não resolvida. Não apenas do tipo que nos desestrutura e irrita profundamente, ou aquela que remói no estomago à noite, mas a ira que aparentemente desapareceu e que na verdade foi enterrada... viva... dentro de nós.
Muitos sequer estão conscientes de sua presença, mas como uma ferrugem no carro ou a traça no escuro, ela continua destruindo relacionamentos e impedindo a alegria.

Alguns incidentes afetam pessoas durante anos, trazendo dramáticas conseqüências emocionais e espirituais. Uma ofensa ou um abuso sexual na infância pode ter um efeito devastador na fase adulta. Por causa da culpa e da dor, pessoas se punem, alimentam ressentimentos, tornam-se reativas e anti sociais, usando escudos de defesas. Viver com pessoas raivosas é como viver num campo minado. Quem se aproxima corre sério risco de ser ferido. Isto inclui esposas, filhos e colegas de trabalho. Pessoas raivosas tendem a pulverizar sua raiva sobre os outros, e mantê-los à distância.

Liberar o ofendido, por maior que tenha sido a ofensa, é o caminho da cura, mas este processo não é fácil. No entanto, se você considera difícil perdoar, considere o custo de não perdoar. Um amigo fiel, um terapeuta ou um conselheiro, e a confissão sincera diante de Deus podem nos ajudar no processo de enfrentamento e cura.


Admitir a dor da ferida, permitir-se chorar e dizer que está doendo, liberar o ofensor é o caminho árduo da cura, mas assim como fazemos no doloroso processo cirúrgico de extrair um tumor que pode nos matar, esta é a única forma de lidar e resolver esta dor. A ira sepultada viva é um fantasma, que pode ressurgir a qualquer momento, em forma de doenças, sintomas e transtornos psiquiátricos.