segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O preço da miséria e do abandono



Nos idos de 1998, morando nos Estados Unidos, nos surpreendemos com o ineditismo de uma proposta do governo americano. Percebendo a quantidade de hispanos (entre os quais somos incluídos) e asiáticos, com baixíssima qualificação profissional e preparo acadêmico, o governo se propôs a dar bolsas e verbas para que este segmento social pudesse melhorar suas habilidades. A lógica da proposta não era apenas humanitária – era também econômica.
O princípio subjacente é o seguinte: A pobreza, a miséria e o abandono trazem um custo social muito grande, cobrando muito do governo. Os múltiplos programas sociais do governo hoje no Brasil, como o Bolsa família, o bolsa escola, bolsa desemprego, etc, atestam isto. Embora seja uma estratégia correta para minimizar a miséria, cujo custo se torna altíssimo em criminalidade, doença e sofrimento. Obviamente tais programas ainda carecem de propostas mais conclusivas, retirando as pessoas que hoje dependem destes recursos para uma inserção comunitária, mas a verdade simples é que não podemos descuidar: o preço da miséria é muito alto para uma sociedade.
No livro 1822, de Laurentino Gomes, o autor demonstra que a economia daqueles dias girava em torno do trabalho escravo. Os ricos fazendeiros e comerciantes de então, acreditavam que a abolição traria um grande prejuízo para o comércio e ruína para a agricultura, mas ele aponta como esta situação de desumanização trouxe inúmeras rebeliões: Guerra das Cabanas (Pernambuco, 1831); A Balaiada (Maranhao e Piauí, 1834); A Cabanagem (Para, 1831); e a Revolta dos Malês (Bahia, 1835).
Embora D. Pedro I não tivesse conseguido avançar na questão da escravatura, escreveu um documento surpreendente para seus dias (1823), que se encontra hoje no Museu Imperial de Petrópolis. Este texto revela extrema lucidez:
“Ninguém ignora que o cancro que rói o Brasil é a escravatura, é mister extingui-la. A presença dos escravos distorce o caráter brasileiro, porque torna cruéis nossos corações e amigos do nepotismo. Todo senhor de escravo, desde pequeno, começa a olhar seu semelhante com desprezo, um hábito que faz contrair semelhantes vícios, deve ser extinto, e só assim os senhores olharão para os escravos como seus semelhantes (...) O cidadão que não conhece os direitos de seus concidadãos também não conhece os seus e é desgraçado toda vida”.

Para Laurentino Gomes, os filhos desta orfandade e abandono é um passivo, a rigor, que o Brasil carrega até hoje. Uma sociedade só pode ter grandes conquistas, quando não busca apenas seus interesses pessoais e a defesa de grupos de elite, mas entende que riquezas e bens de uma nação, podem favorecer a todos. Mesmo para os ignorantes que acham que o favorecimento pessoal é a única coisa que importa.

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