“Deus
fez o dinheiro para a gente usar, as pessoas para amar e Ele existe para que o
adoremos; no entanto, usamos as pessoas, amamos o dinheiro e construímos os
próprios ídolos para diante deles nos curvarmos”.
Kavanaugh
chama esta lógica de “aspectos
idolátricos do padrão utilidade”. O resultado deste padrão é a coisificação
de pessoas e a confusa relação com valores. O marketing opera na dinâmica de
produto/consumo, e assim somos transformados em objetos, seres utilitários,
quantitativamente mensuráveis, avaliados por preço e facilmente substituíveis e
descartados. O resultado visível disto é a obsolescência industrial, que se
desloca para os relacionamentos.
Assim,
afirma Kavanaugh, “tornamo-nos peritos não no poder das relações humanas, nem
no amor que dá a vida, mas no poder da influência, da violência, da defesa
pessoal... os bens, que aliás poderiam ser expressões de nossa humanidade e
elevar-nos como pessoas, transformam-se em objetivos últimos. Então, nossa
existência consiste em possuir.
Nossa felicidade é possuir mais”.
Neste
processo consumista e mercadológico, adoecemos. Não conseguimos tratar as
coisas como coisas, mas mantemos com elas uma relação de afeto; não conseguimos
tratar as pessoas como gente, mas mantemos com elas uma relação utilitarista.
Assim surge a manipulação, o controle e a violência é legitimada. Não a
violência escancarada, mas sutil, que opera no nível do descaso, da indiferença
e da apatia. Ignoramos àqueles que não são produtivos.
Surge assim a violência profunda, porque camuflada e silenciosa, por detrás de
gestos políticos, calculados e frios. O outro torna-se cliente e consumidor e
não amigo, ser de relações e afetos. Nos comportamos como coisa e nos
relacionamos com os outros como coisas.
Desta
forma surgem as relações coisificadas e mecânicas, e nesta dinâmica, a genuína
dimensão afetiva se perde e nossas vidas se tornam inviáveis, ficamos peritos
não em relacionamentos genuínos, nem no amor que dá a vida, mas no poder da
ideologia, do marketing, da influência, do mercado, da instituição ou até mesmo
da própria fé. Até a religião tem o poder de se transformar em meretriz e as
pessoas serem comercializadas, consumidoras e consumidas.
“Ter
cada coisa no seu lugar e ter lugar para cada coisa; eis o segredo da ordem e
da economia” (Fénelon). Mais do que isto, porém, é tratar as coisas como coisas
(relação de uso/consumo); tratar pessoas como seres criados à imagem de Deus
(relação espiritualidade/afeto) e tratar Deus como Deus, não mercantilizá-lo
como se fosse possível (relação adorador/Divindade). Este é o segredo da vida.
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