Nem todo mal é bem e nem todo bem é mal.
José percebeu isto de forma muito clara ao avaliar a maldade de seus irmãos contra ele, e viu como Deus havia usado toda aquela experiência para se transformar em benção. “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer como vedes agora, que se conserve muita gente em vida” (Gn 50.20).
Por outro lado, nem todo bem é bom!
Muitas pessoas enriquecem, tornam-se prósperas, fazem fortunas, ficam famosas e recebem aclamação pública, mas seus corações se desviam de Deus por causa da abundância. A prosperidade se transforma em mal.
O povo de Deus murmurou e Deus enviou codornizes do mar, e todo o povo se refestelou com a quantidade de aves que caiu sobre o arraial, e a gana por aquela carne era tão grande que muitos morreram quando ainda comiam. Ao comentar este incidente, o salmista afirma: “Concedeu-lhes o que pediam, mas fez definhar-lhes a alma” (Sl 106.15). Receberam a benção material, mas suas almas foram duramente abatidas.
Nani Azevedo afirma: “Eu não correrei atrás de bençãos, sei que elas vão me alcançar”. Diz isto no contexto em que afirma que a grande benção é o próprio Deus. Estar com Deus, sem dúvida, é a grande benção da vida. Termos a benção de Deus é absolutamente vazio se não temos o próprio Senhor da benção. Muitas vezes as bençãos não são perceptíveis em nossas vidas, no entanto, sua presença ilumina nossos angustiantes momentos e transformam nosso caos num lugar de experiência com o Pai Celeste.
A grande benção de Deus é Deus em si mesmo.
Quando Israel enfrenta mais uma de suas grandes crises, Deus diz a Moisés: “Enviarei o meio anjo adiante de ti; lançarei fora os cananeus, os amorreus... mas não subirei contigo” (Ex 33.2). A benção o seguiria, mas não sua presença. Quando Deus diz isto, o povo entende a gravidade: “Ouvindo o povo estas más noticias, pôs-se a prantear, e nenhum deles vestiu seus atavios” (Ex 33.4). Então, Moisés declara peremptoriamente a Deus: “Se a tua presença não vai comigo, não nos faça subir deste lugar” (Ex 33.15).
Esta é a grande verdade. A única benção real e duradoura é a presença de Deus conosco. Qualquer outra benção material é temporal e circunstancial, mas a presença de Deus é nossa maior benção.
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Amores tóxicos
Há uma famosa doença diagnosticada na psiquiatria como
síndrome de Estocolmo, um estado
psicológico desenvolvido por algumas pessoas que são vítimas de seqüestro, no qual
a vítima se identifica com seu raptor, procurando conquistar sua simpatia e até
mesmo protegê-lo. A síndrome recebe seu
nome em referência ao famoso assalto de Norrmalmstorg, Estocolmo, no qual
vítimas continuavam a defender os sequestradores e mostraram um comportamento
reticente nos processos judiciais. Inicialmente as vítimas se identificam
emocionalmente com os sequestradores, como mecanismo de defesa, por medo de
retaliação e/ou violência, depois pode até se enamorar e apaixonar pelo
agressor. Obviamente a vítima não tem consciência disso, mas a mente fabrica
uma estratégia ilusória.
A verdade
é que as obsessões se alimentam por si mesmas, e quando a pessoa adoece, na sua
obsessividade passa a girar em torno de uma idéia ou pessoa. Quanto mais tempo
se tem uma ilusão, mas difícil se torna a sua superação.
Muitos
relacionamentos são patológicos desde o princípio. Amores tóxicos e doentios se
constroem nesta relação doentia, onde um precisa ser o agressor e o outro se
torna a vítima e o agredido. Casamentos são um bom exemplo disto. Cada um topa
assumir um determinado papel, as crises surgem quando um decide mudar as regras
e o outro rejeita. Na relação doentia podem se intoxicar e adoecer.
Erich
Fromm, ao tratar da “síndrome do declínio”, cunhou um dos três componentes de
“simbiose incestuosa, ou tipo de caráter maligno. A melhor ilustração é a de um
parasita que decide se alimentar da seiva de uma árvore, mas que na medida que
cresce vai exigindo cada vez mais da seiva que ela tem, e a sufoca até a morte.
Mas quando a árvore morre, ela não sobrevive, porque construiu sua vida em
torno dela.
Sempre
temos a tentação de falar da malignidade do agressor, mas é dolorido ver, por
outro lado, como o ofendido se submete a esta escravidão, sem poder de ruptura.
Isto se torna uma “escravidão voluntária”, na linguagem de Scott Peck, no qual
a vítima aceita viver nesta condição.
“Uma
pessoa passiva significa uma pessoa inativa – um aceitador ao invés de um
doador, um seguidor ao invés de um líder. Isto o transforma em dependente,
infantil e preguiçoso, como a de um bebê precisando da mãe, e que se recusa
crescer... não nos tornamos parceiros do mal por acidente. Como adultos, não
somos forcados pela sina a nos tornarmos presas de um poder maligno; armamos
nós mesmos a armadilha... quando adultos que não estão ameaçados de morte se tornam
vitimas do mal, é porque – de uma forma ou de outra, fizeram a barganha da
indolência” (Peck)
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Percepção
Todos nós já nos deparamos com situações nas quais
fizemos leituras totalmente equivocadas, porque nossa visibilidade era muito
pequena ou o ângulo de visão era ruim. O fato é que, o grande e real problema
da vida não é o que nos acontece, mas como interpretamos a situação. Todos
teremos dias maus e bons, como nos ensina a antiga sabedoria: Após uma longa
chuva, dois amigos que se encontravam na mesma choupana, tiveram perspectivas
totalmente diferentes. Um olhou para o céu e viu estrelas, outro para o chão, e
viu lama.
Quando Jesus fala de dois homens construindo suas
casas, ensina que um construiu sobre a rocha, e ela se manteve firme; o outro
construiu sobre a areia, e ela não se sustentou. É interessante notar que na
parábola as mesmas coisas aconteceram para ambos, embora as resultados se
tornassem completamente diferentes. “...e caiu a chuva, transbordaram os rios,
sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa...” Uma caiu, outra
ficou firme.
A verdade é que o mesmo sol que endurece o barro, derrete
a cera. O grande desafio da vida não é apenas evitar desagrados e feridas, que
inevitavelmente virão, mas decidir o que fazer quando as situações forem
antagônicas e vierem os dias maus.
Jesus ensinou: “São
os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo teu corpo será
luminoso”. Os olhos são as janelas da alma. Através deles recebemos as
informações externas, interpretando-as e decodificando-as. Visão deformada
altera a compreensão da verdade, do mundo, dos outros, de nós mesmos e dos
fatos.
Para nosso próprio bem, precisamos fazer leituras
apropriadas da vida usando óculos certos, e interpretar com coragem os eventos
e tarefas desafiadoras. A hermenêutica de nossa história, a forma como
interpretamos o que vemos é que nos transformará em heróis ou bandidos; vítimas
ou tiranos; sucesso ou fracasso.
Eugene Peterson afirmou ironicamente que a coisa mais
interessante da vida é bagunça! Isto
mesmo. Para ele, quando perdemos o controle da situação, somos obrigados a
considerar novas oportunidades e alternativas que nunca antes havíamos
admitido. Mesmo quando o leque de oportunidades é ainda muito pequeno, sempre
haverá uma saída. Grandes conquistas se fizeram depois de enormes fracassos. A
solução no meio da crise poderá eventualmente ser encontrada quando virarmos a
esquina ou depois de uma noite reparadora de sono, ou de umas férias forçadas.
"A cada momento das nossas vidas, operamos sob
dois pontos de vista: um humano e outro divino. O mais popular é o humano; porém,
o mais frutífero dos dois é o divino". (Charles Swindoll)
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Pessoas e coisas
“Deus
fez o dinheiro para a gente usar, as pessoas para amar e Ele existe para que o
adoremos; no entanto, usamos as pessoas, amamos o dinheiro e construímos os
próprios ídolos para diante deles nos curvarmos”.
Kavanaugh
chama esta lógica de “aspectos
idolátricos do padrão utilidade”. O resultado deste padrão é a coisificação
de pessoas e a confusa relação com valores. O marketing opera na dinâmica de
produto/consumo, e assim somos transformados em objetos, seres utilitários,
quantitativamente mensuráveis, avaliados por preço e facilmente substituíveis e
descartados. O resultado visível disto é a obsolescência industrial, que se
desloca para os relacionamentos.
Assim,
afirma Kavanaugh, “tornamo-nos peritos não no poder das relações humanas, nem
no amor que dá a vida, mas no poder da influência, da violência, da defesa
pessoal... os bens, que aliás poderiam ser expressões de nossa humanidade e
elevar-nos como pessoas, transformam-se em objetivos últimos. Então, nossa
existência consiste em possuir.
Nossa felicidade é possuir mais”.
Neste
processo consumista e mercadológico, adoecemos. Não conseguimos tratar as
coisas como coisas, mas mantemos com elas uma relação de afeto; não conseguimos
tratar as pessoas como gente, mas mantemos com elas uma relação utilitarista.
Assim surge a manipulação, o controle e a violência é legitimada. Não a
violência escancarada, mas sutil, que opera no nível do descaso, da indiferença
e da apatia. Ignoramos àqueles que não são produtivos.
Surge assim a violência profunda, porque camuflada e silenciosa, por detrás de
gestos políticos, calculados e frios. O outro torna-se cliente e consumidor e
não amigo, ser de relações e afetos. Nos comportamos como coisa e nos
relacionamos com os outros como coisas.
Desta
forma surgem as relações coisificadas e mecânicas, e nesta dinâmica, a genuína
dimensão afetiva se perde e nossas vidas se tornam inviáveis, ficamos peritos
não em relacionamentos genuínos, nem no amor que dá a vida, mas no poder da
ideologia, do marketing, da influência, do mercado, da instituição ou até mesmo
da própria fé. Até a religião tem o poder de se transformar em meretriz e as
pessoas serem comercializadas, consumidoras e consumidas.
“Ter
cada coisa no seu lugar e ter lugar para cada coisa; eis o segredo da ordem e
da economia” (Fénelon). Mais do que isto, porém, é tratar as coisas como coisas
(relação de uso/consumo); tratar pessoas como seres criados à imagem de Deus
(relação espiritualidade/afeto) e tratar Deus como Deus, não mercantilizá-lo
como se fosse possível (relação adorador/Divindade). Este é o segredo da vida.
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Uma história de generosidade
Jonah
Pournazarian, de 7 anos, sofre de uma doença genética rara e incurável, chamada
Doença de Depósito de Glicogênio Tipo 1B, ou GSD, um distúrbio
metabólico que afeta o
fígado. A única coisa que o mantém a criança viva é o amido de milho. Mas o
melhor amigo de Jonah, Dylan Siegel, queria que seu amigo ficasse melhor e
escreveu um livro, com a esperança de levantar um milhão de dólares para
encontrar cura para a tal doença. A história de Jonah e Dylan mostra que a
amizade e a força de vontade podem mover montanhas.
Ele escreveu e ilustrou o livro
chamado "barra de chocolate",
uma expressão que os meninos americanos usam para descrever algo grande,
fantástico ou incrível. Inicialmente fizeram 200 cópias para vender em uma feira de
escola, e com isto arrecadaram US $ 6.000, mas ainda era pouco para o grande
desafio que tinham. Então resolveram publicar uma segunda edição, criando uma página no Facebook e um website do livro. Com isto as pessoas
começaram a conhecê-lo e procuraram ajudar. Em seis meses, as vendas de
"Chocolate Bar", com barras de chocolate reais doadas por um
supermercado local, Whole Foods, levantaram 200 mil dólares.
O Professor
Dr. David Weinstein, diretor do Programa de Doenças de armazenamento de
glicogênio na Universidade da Flórida, está trabalhando na busca de uma cura
através da terapia genética, mas até então não tinha os recursos para aplicar
na pesquisa, e o que aconteceu agora ele chama de "surpreendente",
porque vai permitir que as equipes de pesquisa se dediquem mais na melhoria de
vida dessas crianças.
Para Dylan
e Jonas, a amizade é simples assim.
-"Dylan
escreveu o livro para me ajudar", disse Jonah.
-"Eu
quero que Jonas se sinta melhor", disse Dylan.
Histórias de doações como estas nos impressionam.
Assim como a grande doação da vida de Jesus em favor de nossas vidas nos
impacta e transforma. O apóstolo Paulo chegou a escrever: "Pois o amor de
Cristo nos constrange julgando nós isto, um morreu por todos, logo todos
morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si,
mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5.14.15).
Somos constrangidos pelo amor de Cristo a viver e a
amar como ele amou; constrangidos a levar a paz aos que estão em guerra consigo
mesmo e com o seu semelhante. “Não
existe neste mundo outra maneira de tornar alguém digno de amor, senão
amando-o. Não são as qualidades do amado que definem os limites do amor”
(Thomas Merton). Afinal, "O amor é o único jogo no qual os dois podem
jogar e ambos ganharem"(Erma Freesman)
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