segunda-feira, 29 de abril de 2013

Ideologia




Depois do atentado ocorrido em Boston, uma das perguntas mais freqüentes que ouço é a seguinte: “O que poderia ter motivado aqueles rapazes a tal ato terrorista?” E a única resposta plausível que posso encontrar é Ideologia.
Por ideologia entendo um conjunto de interpretações da vida e da realidade. Tal experiência se dá através da educação, espiritualidade, vivência familiar ou social, ou ambas.

Todos buscamos uma ideologia e referências que norteiem a vida. Diante de seu desespero existencial, Cazuza clamava: “Ideologia, eu quero uma prá viver”. Todos construímos uma hermenêutica da vida, que orienta nossas decisões, atitudes, crenças e comportamentos. O problema é quando esta ideologia sofre uma espécie de deformação metodológica.

Se acharmos que os negros, adolescentes, católicos, protestantes, muçulmanos, homossexuais, mulheres ou homens, direita ou esquerda, são a causa de todos os males da humanidade, eles se tornam nossos opositores, e precisam ser destruídos. Se a ideologia possui um conteúdo teológico, torna-se ainda pior. Basta estudar um pouco das guerras chamadas santas na Idade Média entre cristãos e muçulmanos, e mais recentemente entre católicos e protestantes na Irlanda, para entendermos como uma ideologia pode levar um ser humano a situações extremas.

Os irmãos responsabilizados pelos atentados em Boston vieram para os Estados Unidos ainda adolescentes, mas com o germe do ódio plantado em seus corações. Saíram do seu país por causa da impossibilidade de viver ali devido aos conflitos étnicos, e buscaram asilo político nos Estados Unidos, que lhes deram acesso a boas escolas como a Latin School em Cambridge, vizinha da igreja que pastoreei nos Estados Unidos, e ultimamente, o mais jovem, de 19 anos, que estudava numa universidade do governo, com uma brilhante carreira pela frente, se preparando para o longo e caro curso de medicina, com subsídios federais. No entanto, os americanos eram a causa de todos os males, e por aí se justificaria a agressão gratuita contra crianças, e mutilações de pessoas que estavam ali apenas para presenciar um evento esportivo, nada mais!

Das deformações ideológicas surge o ódio racial, de cores e religiões. O outro torna-se inimigo mortal, é infiel, precisa ser extinto. Na visão dos movimentos islâmicos mais radicais, morrer numa guerra santa, matando infiéis, leva a pessoa diretamente para o paraíso, onde virgens o esperam para satisfazê-lo. Portanto, para uma mente doentia, a lógica se encaixa de forma perfeita.

O mesmo ódio também se reflete entre nós, quando resistimos e deixamos de acolher o outro, apenas por causa das divergências, religiosas, espirituais ou política que adota. O outro é inimigo! Precisa morrer e deve ser odiado!

Particularmente tenho ficado com receio da intolerância dos “intolerados”, da violência dos “violentados”, e do ódio dos “odiados”, que justificam todo seu comportamento e agressão porque o outro não concorda com sua forma de interpretar a vida e rejeita o seu código de conduta como moralmente aceitável. Não precisamos de unanimidade de pensamento, mas precisamos de respeito às diferenças, para que não justifiquemos nossas atitudes com substratos de vitimismo.

sábado, 20 de abril de 2013

Salvem os garotos!


Carl Farley afirmou acertadamente que "um garoto é a única coisa que Deus pode usar para fazer um homem". Portanto, precisamos cuidar dos nossos filhos de forma muito especial. Eles sāo a matéria prima de Deus! Através deles Deus quer forjar a humanidade. Se alguma coisa pode trazer esperança de uma sociedade minimamente civilizada no futuro, será por meio de famílias com pais responsáveis.

Lamentavelmente os filhos encontram- se desorientados quanto à sua masculinidade e paternidade. Os modelos familiares encontram- se fragmentados na pós modernidade, e os pais incapazes de conciliar as demandas sociais e profissionais, com a convivência familiar. O resultado é que os filhos sofrem da ausência física e emocional.
George Vailant entrevistou vários homens de negócios, cientistas e professores na meia idade, o resultado foi que noventa e cinco por cento deles afirmaram que seus pais ou foram exemplos negativos na infância ou mencionados como pessoas que nāo exerceram qualquer influência em suas vidas.

Jack Sternbach, fez uma pesquisa com homens na fase adulta que assim relataram seus relacionamentos com os pais: 23 por cento eram fisicamente ausentes para eles;  29 por cento sentiram ausência psicológica dos pais, que eram muito ocupados, desinteressados por suas vidas ou passivos em casa; 18 por cento sentiram a ausência psicológica dos pais que foram muito austeros ou moralistas e sem envolvimento emocional com suas vidas e 15 descreveram seus pais como pessoas ameaçadoras e descontroladas. Somente 15 consideraram seus pais envolvidos em suas vidas.

Se queremos criar famílias fortes e emocionalmente estáveis, precisamos cuidar da geraçāo que já se encontra presente. Será uma longa jornada para mudarmos os paradigmas equivocados que recebemos, e construirmos um novo modelo. A tarefa é árdua, porque temos que vencer nossos próprios limites; e longa, já que nāo se trata de um projeto rápido. Se começarmos agora, só veremos os efeitos desta mudança daqui 20 anos, mas é preciso salvar os filhos.

Hoje à noite, um número suficiente de adolescentes capazes de encher os estádios do Mineirāo, Beira Rio, Maracanā e Morumbi se prostituirāo para sustentar o vício das drogas; um  milhāo do adolescentes serāo engravidadas até o final do ano, sendo que metade praticará aborto; cerca de 60 por cento dos estudantes até o último ano do ensino médio já terāo provado ou serāo dependentes de drogas. 95 por cento tomam regularmente bebidas alcoólicas e apenas nos EUA, a cada 78 segundos, um adolescente tenta suicídio.

Precisamos salvar nossos filhos para que as famílias e a nossa civilizaçāo seja salva.


A mudança pode começar com simples gestos. Quantos pais afirmam para seus filhos: eu amo você? Quantos pais já declararam alguma vez: " estou orgulhoso de você" ou "você fez muito bem"? Quantos pais estāo jogando vídeo games com seus filhos ou estāo interessados em participar de seus eventos atlėticos? Quantos pais tem abraçado seus filhos e filhas? Ou estāo contando e lendo histórias para seus filhos, e levando-os para pescar, ou para uma tarefa comum de lazer ou para a igreja aos domingos?

Se eu pudesse dar uma única receita para a sobrevivência de nosso país eu esta seria a restauraçāo da família. Se me perguntarem como isto pode ser feito eu simplificaria: Salvem os garotos! Eles serāo os futuros líderes das novas famílias que construirāo o futuro.

Felicidade interna bruta


O governo de Butāo, um pequeno pedaço de terra encravada entre a China e a India,aos pés do Himalaia, criou um índice para medir a realidade de seu país,considerado o mais feliz do mundo: A Felicidade Interna Bruta. Esta é uma medida interessante e desafiadora. O que realmente importa? A soma de todos os bens, o (PIB) Produto Interno Bruto ou a soma de toda a felicidade, a (FIB) Felicidade Interna Bruta?

Jesus foi o primeiro a questionar a forma como avaliamos as coisas e como as valorizamos, ele  afirmou que  " a vida de um homem nāo consiste na quantidade de bens que ele possui...." Perguntou ainda: "De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?"
Tenho chegado à conclusāo de que, aconteça o que acontecer, a maior derrota da vida é chegar ao final dela e descobrir que nāo valeu a pena ter vivido. Já viram pessoas que à medida que envelhecem, tornam- se mais ricas e com mais posses, mas sozinhos, irritados com a vida, sem prazer no que fazem, amargurados com todos e com a existência em si mesma? Que acham que as pessoas se relacionam com elas apenas por aquilo que ele possuem?

De nada nos adianta vivermos regaladamente, mas com o coracāo vazio; ou termos investimentos em muitas frentes, mas sem sentido algum naquilo que fazemos.
Salomāo é um personagem bíblico, celebrado rei em Israel, filho de Davi, mas ele afirma em um dos textos que escreveu sua decepçāo e vazio com a própria história: "Tudo quanto desejaram meus olhos, nāo lhes neguei, nem privei meu coraçāo de alegria alguma, mas a recompensa de todas elas era canseira e enfado, pois eu me alegrava em cada uma de suas fadigas". Para mim, esta é uma declaraçāo de fracasso, um testamento de frustraçāo e amargura.
Quer saber quanto está valendo sua vida? Olhe nāo para a quantidade de bens que você declarou no imposto de renda, nem a qualidade dos carros e das roupas que tem comprado, ou em quantos metros quadrados tem sua casa e muito menos nos seus investimentos.

Olhe para dentro de si mesmo e pergunte: Estou encontrando sentido em tudo que faço?
Se a resposta for negativa, nāo precisa ficar assustado. Em geral as pessoas tem mais tendência para insatisfaçāo que ao contentamento. Mas ao mesmo tempo, comece a avaliar como esta situaçāo de morbidez e tristeza pode ser revertida.

Eis alguns passos simples. Comece indagando como está sua vida em relaçāo às coisas sagradas. Agostinho afirmou que fomos criados por Deus, e nossa vida nāo encontra sentido, enquanto nāo voltarmos para Deus. Talvez você precise chorar e pedir perdāo a Deus pela sua vida de distanciamento e indiferença, mas perdoar é uma prerrogativa sagrada entāo nāo se assuste com isto. Deus é rico em perdoar e restaurar nossas jornadas fracassadas. Segundo, indague sobre seus valores. Comece pela sua integridade. Quanto de sua consciência tem sido cauterizada em face de seu desejo e afā de prosperar e ser uma pessoa bem sucedida e próspera? Dinheiro nāo é a única coisa viciante, o sucesso também gera dependência: aclamaçāo pública, popularidade e aplauso também.

Terceiro, olhe para seus relacionamentos. Invista naqueles que serāo os únicos que estarāo chorando na sua morte. Existem amigos esquecidos na sua trajetória e correria, filhos e pais que precisam de mais atençāo e cônjuges que precisam de cuidados. Retome as amizades simples de sua história, resgate seu relacionamento em casa que tem sido tāo fragilizado.
Afinal de contas, o que conta, nāo ė o quanto você tem, mas quanto significado e sentido você tem encontrado em viver, o que neste artigo chamamos de felicidade interna bruta.

Prá nāo morrer na "tuia"



Zé Monteiro é um conhecido personagem da cidade de Arcoverde, PE, que se transformou num admirável artesāo, pelas suas surpreendentes peças trabalhadas em madeira, feitas com enorme criatividade, dramaticidade e plasticidade, e que agora saem do seu pequeno e simplório atelier, para serem expostas na Galeria Brasiliana, em Sāo Paulo, e de lá para colecionadores dos Estados Unidos e Europa.

Ele se tornou artesāo, por acaso, já que a profissāo do coraçāo era caminhoneiro. "Se pudesse trabalhar, gostaria mesmo era de dirigir caminhāo, mas a gente tem que gostar do que pode fazer".

Ele está com 87 anos de idade, e afirma que já escapou da morte cinco vezes, na última vez aos 77 anos quando sofreu um infarto, e se submeteu a uma cirurgia para colocar 3 pontes de safena e se livrar de uma infecçāo hospitalar, quando o médico recomendou que fosse para casa para morrer com dignidade. Entāo, desenganado e deprimido, depois de 30 anos como caminhoneiro, comprou algumas tintas e arranjou pedaços de madeira com as quais começou a trabalhar, "para nāo morrer na tuia", como se referiu ao tédio.

Ao ler uma reportagem sobre sua vida, fiquei pensando nesta frase. Imaginei quantas pessoas se enfurnaram na tulha e morreram ali, sem projetos,sonhos, desenganadas pelos outos e porsi mesmo, consumidos pela mesmice, hipocondria e melancolia.

Tulha é o espaço anexo às casas de fazendas, destinado à guarda das colheitas e grāos, mas nāo para se morar. Além dos grāos, a tulha é um lugar onde facilmente se ajuntam mofos, fungos, ratos, morcegos e escorpiões.
Morrer ali é desistir da vida, deixar que o trágico nos sucumba, que a malignidade dos outros ou os percalços da vida nos abatam de tal forma que a gente se esqueça de viver, e que nos leve a esquecer que lá fora,o sol ainda brilha, as flores ainda crescem, a chuva cai e a natureza se renova no seu ciclo sazonal.

"Sair da tuia" é a revigorante experiência de descobrir que o inverno, verāo, outono e primavera, fazem parte da existência e dependendo da estaçāo teremos tempestades ou secas; plantios ou colheitas, neste ir e vir infinito da natureza criada por Deus. Mas só conseguem ver e admirar estes eventos, aqueles que se recusam a viver na tulha, mesmo quando a vida parece decretar que assim deve ser...