segunda-feira, 4 de março de 2013

Bang!




A idéia é simples. O significado é tenso, denso, intenso. O novo aplicativo de sucesso do facebook vai direto ao ponto. Uma pessoa marca na lista de amigos aqueles com quem toparia transar. Se a pessoa assinalada também marcá-la, automaticamente um e-mail é enviado com os seguintes dizeres: “É hora de transar!”, recomendando que os mesmos combinem os detalhes.
Lançado há três semanas, o programa já conquistou 500 mil usuários em todo mundo. Em 14 dias já serviu para marcar encontros com mais de 130 mil pessoas.
O que podemos extrair disto?
O sucesso do bang traduz a mudança na forma como as pessoas encaram valores, espiritualidade e relacionamentos. É o que Baugmant chama de “amor líquido”. Podemos estar vivendo um tempo em que as relações descartáveis serão cada vez mais estimuladas. Aqueles que topam o encontro sugerido pelo aplicativo, precisam ser lembrados de que depois da transa, eles não podem ter qualquer vínculo relacional. É sexo por sexo, ou sexo casual. O que se busca é o prazer e não um envolvimento.
O psicanalista francês Charles Melman foi um dos colaboradores mais próximos de Jacques Lacan (1901-1981) e o principal herdeiro de Sigmund Freud na França. Numa entrevista a revista veja afirmou que Muitos jovens encontram dificuldade para desenvolver plenamente uma vida sexual e isto lhe parece paradoxal, porque hoje o sexo é muito acessível. Mas para Melman, “a facilidade leva à busca de uma vida sexual sem compromisso, que proporcione um prazer ocasional“. Para ele esta ideia de aproveitar sem se engajar impõe uma questão: eles aproveitam plenamente? Para ele trata-se de “uma nova economia psíquica”, fundada sobre o princípio da busca imediata de prazer máximo, sem freios nem restrições. “Esses momentos de prazer, que proporcionam uma satisfação profunda, são vividos mas não organizam a existência, nem o futuro. Ou seja, a existência é feita de uma sucessão de momentos sem nenhuma projeção no futuro, de momentos que podem desaparecer porque não terão continuidade”
Afirma ainda que “as pessoas querem se distanciar da realidade não porque ela seja assustadora ou sem-graça, mas porque ela implica sempre um limite. Além disso, a realidade requer uma identidade, um objetivo mais ou menos claro na vida, ao passo que esses exercícios virtuais não pressupõem nenhuma identidade, nenhuma perspectiva e ainda derrubam todos os limites, incluindo os do pudor e da polidez”... Apesar de toda sua formação liberal, Melman se assusta com as perspectivas de tal comportamento: “Pela primeira vez a instituição familiar está desaparecendo, e as conseqüências são imprevisíveis. Fico surpreso que os sociólogos e antropólogos não se interessem muito por esse fenômeno”.
Acho que o ponto de vista de Melmann traduz de forma muito direta esta realidade. Nossa grande ameaça não é big-bang; nem bang-bang, mas simplesmente, “bang!”

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