Toda
forma de intolerância, caracterizada pela falta de habilidade ou vontade
em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões, ou pontos-de-vista diferentes, é agressiva na sua raiz.
A intolerância normalmente brota no preconceito,
podendo levar à discriminação e à violência, quando isto
acontece, a pessoa hostiliza e reage de forma agressiva à visão do outro.
Dentre as formas mais comuns temos o racismo, a homofobia, questões religiosas e políticas. Em ambientes de
intolerância, o simples fato de pensarmos diferente é motivo suficiente para
sermos rejeitados, perseguidos, ou até mesmo julgados apenas por termos
convicções diferentes.
Ultimamente, tenho visto outra forma de
intolerância que chamo de intolerância dos “intolerados”. Pessoas que sofreram
discriminação e preconceito por causa de sua ideologia ou comportamento social,
e que agora se acham no direito de se tornarem intolerantes com grupos ou
pessoas de quem sofreram infâmias. Cria-se assim o reverso da moeda. É
necessário cuidar da intolerância de quem sofreu achaque e que agora se julga
no direito de ferir e matar por causa de sua dor e rejeição experimentadas no
passado.
Ter liberdade de emitir opiniões divergentes sobre
um tema controverso é um direito constitucional. O princípio republicano e
democrático se fundamenta no fato de que “posso não concordar com a forma de
você pensar, mas defendo até o último instante, o direito de você pensar”. Por
isto, quando o governo decide aplicar a força para impedir aquilo que ele
considera como incitamento ao ódio, pode
na verdade, estar impedindo o direito de se expressar.
Na
Constituição
dos Estados Unidos, a Primeira Emenda permite tais manifestações sem
risco de ação criminal. É controvertido quando o governo considera crime,
opiniões diferentes sobre religião, sexualidade e política. Historicamente,
caudilhos e ditaduras adotam esta postura. O Congresso Nacional já andou perto
de aprovar leis semelhantes.
Podemos
e devemos discordar, mas não precisamos agredir nem discriminar quem pensa e
age de forma diferente. Católicos, protestantes e outros credos divergem em
vários pontos, mas precisam aprender amar e respeitar o direito do outro de crer
e pensar. Podemos divergir em questões como aborto, bioética, homossexualismo e
ecologia, mas não podemos execrar os que pensam de forma diferente, e nem
agredi-los pelas divergências. O mesmo se dá no campo da política. Quantas
pessoas já morreram por causa de sua ideologia?
A
atitude de Jesus diante da mulher adúltera torna-se um bom paradigma para nossa
ética. Trouxeram-lhe uma mulher em flagrante adultério (por que não trouxeram
também o homem?). Jesus pediu para que aquele que não tivesse pecado, jogasse a
primeira pedra. Ninguém o fez. Jesus a acolheu e a protegeu da intolerância dos
religiosos, e quando a mulher se viu livre, Jesus afirmou: “Nem eu te condeno,
vá e não peques mais!”.
Ele
deixou claro que não concordava com seu comportamento. No entanto, não odiou,
discriminou ou a tratou com preconceito. O fato de estabelecer padrões de certo
e errado, não deve nos condenar, mas ao mesmo tempo, não devemos hostilizar
quem agiu fora dos princípios que consideramos eticamente correto.
Toda
forma de intolerância, seja em nome do que for, inclusive de Deus, deve ser
rejeitada. A intolerância de quem não admite e quer silenciar quem pensa o
contrário, porque ignora e não lida com a sua própria intolerância é um contrasenso; a intolerância ideológica é
perversa e cruel; a intolerância ética é desamorosa e a intolerância religiosa
é a pior de todas, porque pretende transformar o Deus Santo em aliado da perversidade
de seu próprio coração.