segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Dt 7.7-9; 9.4-8 Base e propósito da Eleição





Introdução:

Muitas pessoas encontram dificuldade em ler o Antigo Testamento; outros o interpretam de forma equivocada, tirando determinados ensinamentos pontuais como não comer sangue, guardar o sábado, não usar roupas de mulher, e dando uma ênfase tão forte e equivocada a estas coisas, sem levar em conta o contexto nem o princípio hermenêutico que norteia a interpretação da Bíblia, cometendo assim graves distorções e heresias.
Outros interpretam-no alegoricamente, esquecendo-se de que a Bíblia possui uma unidade de pensamento. As lições sobre teologia da prosperidade e outros ensinamentos que fundamentam uma auto-ajuda evangélica tem sido roubados da visão global, por  pregadores neo pentecostais imaginativos que extraem os conceitos que querem extrair, transformando suas mensagens num conteúdo anti-evangélico.
A Bíblia, por ter um único autor, que é o Espírito Santo, tem uma unidade literária. O melhor intérprete da bíblia é ela mesma, e um texto obscuro deve ser sempre compreendido à luz de um texto claro. O melhor comentário do AT é o NT, já que o AT está patente no NT e o NT está latente no AT. Quais são as pistas hermenêuticas que podemos encontrar dentro da Bíblia?

1. O fio condutor da Bíblia é a pessoa de Jesus Cristo. Não sem razão existem 600 profecias do AT que se cumprem em Jesus. Vamos encontrar profecias relativas ao seu ministério já em Gênesis 3.15, e em muitos outros livros do AT. Basta ter sensibilidade para perceber como Jesus está evidente no AT;

2. O sangue é outro elemento sempre presente no Antigo e Novo Testamento. Por isto a Bíblia afirma que “sem derramamento de sangue, não há remissão de pecados” (Hb 9.22). O que estes sacrifícios queriam nos ensinar? O autor aos Hebreus afirma ser “impossível que sangue de touros e bodes remova pecados” (Hb 10.4). Então, o que significa esta quantidade sacrifício oferecido e sangue derramado no AT? O autor aos hebreus afirma que eram espécies de “lições de objeto”, tipos, uma forma didática que Deus usou para preparar o povo de Israel para entender a obra de seu filho (Hb 10.1).

3. Como era salva uma pessoa do AT? Muitas pensam que eram salvos por obras, mas veja o que Paulo descreve em Rm 4.1-5: “Portanto, que diremos do nosso antepassado Abraão? Se de fato Abraão foi justificado pelas obras, ele tem do que se gloriar, mas não diante de Deus. Que diz a Escritura? "Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça". Ora, o salário do homem que trabalha não é considerado como favor, mas como dívida. Todavia, àquele que não trabalha, mas confia em Deus que justifica o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça”. Ele afirma que a salvação do pai da fé, se deu por causa de sua confiança em Deus, e não por obras. Ele não foi salvo por sua justiça própria, mas pela obra de Cristo.

Estes dois textos acima de Deuteronômio, falam da eleição do povo judeu. Estes mesmos princípios são aplicados ao povo cristão no NT. Ele descreve o processo como Deus escolhe o seu povo, para seu exclusivo louvor e honra.
Alguns princípios são enumerados:

A razão da Eleição:
  1. Não depende de nossa justiça – O que você vai apresentar a Deus no dia do juízo, quando estiver diante do trono de justiça de Deus?
As pessoas respondem a esta questão de forma diferente, mas em linha geral falam de si próprias quando se referem à salvação. Elas acham que a lista de coisas boas praticadas, é que vai impressionar Deus e assim ele permitirá entrar no céu. Mas veja bem o que o texto bíblico afirma: “O Senhor não se afeiçoou a vocês nem os escolheu por serem mais numerosos do que os outros povos, pois vocês eram o menor de todos os povos. Mas foi porque o Senhor os amou e por causa do juramento que fez aos seus antepassados. Por isso ele os tirou com mão poderosa e os redimiu da terra da escravidão, do poder do faraó, rei do Egito (Dt 7.7,8). No texto seguinte, ele é ainda mais enfático em estabelecer as bases da eleição: “Não é por causa de sua justiça ou de sua retidão que você conquistará a terra deles. Mas é por causa da maldade destas nações que o Senhor, o seu Deus, as expulsará de diante de você, para cumprir a palavra que o Senhor prometeu, sob juramento, aos seus antepassados, Abraão, Isaque e Jacó. Portanto, esteja certo de que não é por causa de sua justiça que o Senhor seu Deus lhe dá esta boa terra para dela tomar posse, pois você é um povo obstinado” (Dt 9.5,6).
Salvação não é uma questão de justiça própria. Paulo, o apóstolo, que entendeu melhor do que ninguém a questão da salvação pela graça de Deus, afirma que desistiu de seu currículo diante da compreensão do incomensurável amor de Deus e de sua graça a nosso favor. “...e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé” (Fp 3.9). Ao escrever a Tito, afirmou: “...não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt 3.5). Isto demonstra que ele entendeu que currículo espiritual, sua performance, sua integridade, religiosidade, títulos recebidos, herança familiar ou nacionalidade, nada valiam aos olhos de Deus. Deus providenciou uma nova roupagem para nós, que são as vestiduras alvejadas pelo sangue do seu Cordeiro derramado na cruz.
Na verdade, a justiça própria se constitui na inimiga número 1 do Evangelho, pois nos faz colocar os olhos em nós mesmos, ao invés de sermos conduzidos em confiança para Deus. Este ainda hoje é um dos grandes pilares das Escrituras Sagradas e que foi resgatado durante a Reforma.

  1. Nosso comportamento, na verdade, conspira contra nossa salvação – Deus faz questão de demonstrar quão frágeis eram os fundamentos do povo judeu. Deus quer demonstrar que o que eles eram não contava, e sim o amor incondicional de Deus em elegê-los.
Lembrem-se disto e jamais esqueçam como vocês provocaram a ira do Senhor, o seu Deus, no deserto. Desde o dia em que saíram do Egito até chegarem aqui, vocês têm sido rebeldes contra o Senhor. Até mesmo em Horebe vocês provocaram o Senhor à ira, e ele ficou furioso, a ponto de querer exterminá-los”. (Dt 9.7,8). Deus está pedindo o seu povo para evocar a memória de como eles eram. “Lembrai-vos”. Esta é a forma de Deus levar seu povo a não se iludir. Para enfatizar o que está dizendo, ainda continua: “e jamais esqueçam como vocês provocaram a ira do Senhor, o seu Deus, no deserto”. Na verdade, quem eles eram, dava motivos a Deus para não elegê-los.

i.                     Eram um povo de dura cerviz – Esta expressão ocorre muitas vezes na Bíblia. Gente de nariz empinado, pescoço que tem dificuldade de se curvar, se submeter e se humilhar. Assim era o povo de Israel , autônomo, independente, com Teomania (H. Nouwen), isto é, mania de querer ser Deus.

ii.                   Provocaram o Senhor à ira – “vocês provocaram a ira do Senhor, o seu Deus, no deserto” (Dt 9.7) “...por causa do grande pecado que vocês tinham cometido, fazendo o que o Senhor reprova, provocando a ira dele” (Dt 9.18). Esta é uma expressão forte. Você já provocou outros à ira? Se você não se lembra, basta perguntar à sua esposa que ela lhe lembrará. É atitude de pessoa pirracenta e provocativa.
iii.                 Um povo insignificante – “O Senhor não se afeiçoou a vocês nem os escolheu por serem mais numerosos do que os outros povos, pois vocês eram o menor de todos os povos” (Dt 9.7). Não tinha virtudes especiais, nem grandeza.
A razão da eleição foi o amor de Deus, gratuito, puro amor. Por isto Paulo afirmava: “O amor de Cristo me constrange”. O motivo de nossa salvação é o seu amor. não está condicionado à performance, superioridade moral ou bondade. Muitos dizem: “Ah! Deus sabia quem iria aceitá-lo e então o escolheu”. Não! Se isto acontecesse, a salvação estaria ainda centralizada na ação humana. A Bíblia nos mostra que não existem homens buscando a Deus, mas existe um Deus buscando homens perdidos, e trazendo salvação.

O propósito da Eleição:

O texto vai demonstrar também, que o seu propósito em nos eleger. Não fomos salvos pelas boas obras, mas para boas obras. É uma questão “preposicional”, isto é, a preposição faz enorme diferença. Para que Deus nos escolheu?

  1. Para formar um povo seu – “O Senhor, o seu Deus, os escolheu dentre todos os povos da face da terra para ser o seu povo, o seu tesouro pessoal” (Dt 7.6). Deus escolheu um povo para si mesmo para a honra e glória do seu nome. Pedro afirma: “Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9).
Deus chamou para si um povo para ter um relacionamento com ele, e tem preparado este povo, para proclamar suas virtudes. Seu plano é fazer uma nação de sacerdotes e adoradores.

  1. Para cumprir sua promessa – “...Mas foi porque o Senhor os amou e por causa do juramento que fez aos seus antepassados” (Dt 7.8).
Deus chamou Abraão, para preparar um povo que abençoaria o mundo inteiro. “Em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Desde o inicio do seu projeto, era seu plano ter um povo que o adorasse. Este povo receberia os estatutos, alianças, profecias, e dentre eles nasceria o Cristo, o qual é sobre todos, Deus bendito, eternamente (Rm 9.5). Então, Deus elege Israel  por causa das promessas feitas a Abraão. Ele estava cumprindo sua promessa.

Conclusão:
Portanto, estamos debaixo de um mesmo pacto (Gl 3.17-18). Nem a lei, dada a Moisés, mudou as disposições de Deus e desfez a promessa dada a Abraão. As pessoas são salvas, no AT e NT, da mesma forma: Pela graça!. Ninguém é salvo por méritos, integridade, bondade, boas obras, mas apenas pelo sangue de Cristo. Desista, portanto de você e coloque sua confiança na obra eficiente e eficaz de Cristo Jesus. Pela graça sois salvos.

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