Introdução:
Muitas pessoas encontram dificuldade em ler o
Antigo Testamento; outros o interpretam de forma equivocada, tirando
determinados ensinamentos pontuais
como não comer sangue, guardar o sábado, não usar roupas de mulher, e dando uma
ênfase tão forte e equivocada a estas coisas, sem levar em conta o contexto nem
o princípio hermenêutico que norteia a interpretação da Bíblia, cometendo assim
graves distorções e heresias.
Outros interpretam-no alegoricamente,
esquecendo-se de que a Bíblia possui uma unidade de pensamento. As lições sobre
teologia da prosperidade e outros ensinamentos que fundamentam uma auto-ajuda evangélica tem sido roubados
da visão global, por pregadores neo
pentecostais imaginativos que extraem os conceitos que querem extrair,
transformando suas mensagens num conteúdo anti-evangélico.
A Bíblia, por ter um único autor, que é o
Espírito Santo, tem uma unidade literária. O melhor intérprete da bíblia é ela
mesma, e um texto obscuro deve ser sempre compreendido à luz de um texto claro.
O melhor comentário do AT é o NT, já que o AT está patente no NT e o NT está
latente no AT. Quais são as pistas hermenêuticas que podemos encontrar dentro
da Bíblia?
1. O fio condutor da Bíblia é a pessoa de Jesus
Cristo. Não sem razão existem 600 profecias do AT que se cumprem em Jesus. Vamos
encontrar profecias relativas ao seu ministério já em Gênesis 3.15, e em muitos
outros livros do AT. Basta ter sensibilidade para perceber como Jesus está
evidente no AT;
2. O sangue é outro elemento sempre presente no
Antigo e Novo Testamento. Por isto a Bíblia afirma que “sem
derramamento de sangue, não há remissão de pecados” (Hb 9.22). O que estes
sacrifícios queriam nos ensinar? O autor aos Hebreus afirma ser “impossível que
sangue de touros e bodes remova pecados” (Hb 10.4). Então, o que significa esta
quantidade sacrifício oferecido e sangue derramado no AT? O autor aos hebreus
afirma que eram espécies de “lições de objeto”, tipos, uma forma didática que
Deus usou para preparar o povo de Israel para entender a obra de seu filho (Hb
10.1).
3. Como era salva uma pessoa do AT?
Muitas pensam que eram salvos por obras, mas veja o que Paulo descreve em Rm
4.1-5: “Portanto, que diremos do nosso
antepassado Abraão? Se de fato Abraão
foi justificado pelas obras, ele tem do que se gloriar, mas não diante de Deus. Que diz a Escritura? "Abraão creu em Deus, e
isso lhe foi creditado como justiça". Ora,
o salário do homem que trabalha não é considerado como favor, mas como dívida. Todavia, àquele que não trabalha, mas confia em Deus
que justifica o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça”. Ele afirma que a
salvação do pai da fé, se deu por causa de sua confiança em Deus, e não por
obras. Ele não foi salvo por sua justiça própria, mas pela obra de Cristo.
Estes dois textos acima de
Deuteronômio, falam da eleição do povo judeu. Estes mesmos princípios são
aplicados ao povo cristão no NT. Ele descreve o processo como Deus escolhe o
seu povo, para seu exclusivo louvor e honra.
Alguns princípios são
enumerados:
A razão da Eleição:
- Não depende de
nossa justiça
– O que você vai apresentar a Deus no dia do juízo, quando estiver diante
do trono de justiça de Deus?
As pessoas respondem a esta questão de forma
diferente, mas em linha geral falam de si próprias quando se referem à
salvação. Elas acham que a lista de coisas boas praticadas, é que vai
impressionar Deus e assim ele permitirá entrar no céu. Mas veja bem o que o
texto bíblico afirma: “O Senhor não se afeiçoou a vocês nem os escolheu
por serem mais numerosos do que os outros povos, pois vocês eram o menor de
todos os povos. Mas foi porque o Senhor os amou e por causa do juramento que
fez aos seus antepassados. Por isso ele os tirou com mão poderosa e os redimiu
da terra da escravidão, do poder do faraó, rei do Egito” (Dt
7.7,8). No texto seguinte, ele é ainda mais enfático em estabelecer as bases da
eleição: “Não é por causa de sua justiça
ou de sua retidão que você conquistará a terra deles. Mas é por causa da
maldade destas nações que o Senhor, o seu Deus, as expulsará de diante de você,
para cumprir a palavra que o Senhor prometeu, sob juramento, aos seus
antepassados, Abraão, Isaque e Jacó. Portanto, esteja certo de que não é por
causa de sua justiça que o Senhor seu Deus lhe dá esta boa terra para dela
tomar posse, pois você é um povo obstinado” (Dt 9.5,6).
Salvação não é uma questão de justiça própria.
Paulo, o apóstolo, que entendeu melhor do que ninguém a questão da salvação pela
graça de Deus, afirma que desistiu de seu currículo diante da compreensão do
incomensurável amor de Deus e de sua graça a nosso favor. “...e ser encontrado nele, não tendo a minha própria
justiça que procede da lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça
que procede de Deus e se baseia na fé” (Fp 3.9). Ao escrever a Tito, afirmou:
“...não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua
misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito
Santo” (Tt 3.5). Isto demonstra que ele entendeu que currículo espiritual, sua
performance, sua integridade, religiosidade, títulos recebidos, herança
familiar ou nacionalidade, nada valiam aos olhos de Deus. Deus providenciou uma
nova roupagem para nós, que são as vestiduras alvejadas pelo sangue do seu
Cordeiro derramado na cruz.
Na
verdade, a justiça própria se constitui na inimiga número 1 do Evangelho, pois
nos faz colocar os olhos em nós mesmos, ao invés de sermos conduzidos em
confiança para Deus. Este ainda hoje é um dos grandes pilares das Escrituras
Sagradas e que foi resgatado durante a Reforma.
- Nosso
comportamento, na verdade, conspira contra nossa salvação – Deus faz questão
de demonstrar quão frágeis eram os fundamentos do povo judeu. Deus quer
demonstrar que o que eles eram não contava, e sim o amor incondicional de
Deus em elegê-los.
“Lembrem-se disto e jamais esqueçam como
vocês provocaram a ira do Senhor, o seu Deus, no deserto. Desde o dia em que
saíram do Egito até chegarem aqui, vocês têm sido rebeldes contra o Senhor. Até mesmo em Horebe vocês provocaram o Senhor à ira, e ele ficou furioso, a ponto de
querer exterminá-los”. (Dt 9.7,8).
Deus está pedindo o seu povo para evocar a memória de como eles eram.
“Lembrai-vos”. Esta é a forma de Deus levar seu povo a não se iludir. Para
enfatizar o que está dizendo, ainda continua: “e jamais esqueçam como vocês
provocaram a ira do Senhor, o seu Deus, no deserto”. Na verdade, quem eles
eram, dava motivos a Deus para não elegê-los.
i.
Eram um
povo de dura cerviz – Esta
expressão ocorre muitas vezes na Bíblia. Gente de nariz empinado, pescoço que
tem dificuldade de se curvar, se submeter e se humilhar. Assim era o povo de
Israel , autônomo, independente, com Teomania (H. Nouwen), isto é, mania de
querer ser Deus.
ii.
Provocaram
o Senhor à ira – “vocês provocaram a ira do
Senhor, o seu Deus, no deserto” (Dt 9.7) “...por causa do grande pecado que vocês
tinham cometido, fazendo o que o Senhor reprova, provocando a ira dele” (Dt
9.18). Esta é uma expressão forte. Você já provocou outros à ira? Se você não
se lembra, basta perguntar à sua esposa que ela lhe lembrará. É atitude de
pessoa pirracenta e provocativa.
iii.
Um povo
insignificante – “O Senhor não se afeiçoou a vocês nem os escolheu por serem mais
numerosos do que os outros povos, pois vocês eram o menor de todos os povos”
(Dt 9.7). Não tinha virtudes especiais, nem grandeza.
A
razão da eleição foi o amor de Deus, gratuito, puro amor. Por isto Paulo
afirmava: “O amor de Cristo me constrange”. O motivo de nossa salvação é o seu
amor. não está condicionado à performance, superioridade moral ou bondade.
Muitos dizem: “Ah! Deus sabia quem iria aceitá-lo e então o escolheu”. Não! Se
isto acontecesse, a salvação estaria ainda centralizada na ação humana. A
Bíblia nos mostra que não existem homens buscando a Deus, mas existe um Deus
buscando homens perdidos, e trazendo salvação.
O propósito da Eleição:
O texto vai demonstrar
também, que o seu propósito em nos eleger. Não fomos salvos pelas boas obras,
mas para boas obras. É uma questão “preposicional”, isto é, a preposição faz
enorme diferença. Para que Deus nos
escolheu?
- Para formar um
povo seu – “O Senhor, o seu Deus, os
escolheu dentre todos os povos da face da terra para ser o seu povo, o seu
tesouro pessoal” (Dt 7.6). Deus escolheu um povo para si mesmo para a
honra e glória do seu nome. Pedro afirma: “Vocês, porém, são geração
eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para
anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz” (1 Pe 2.9).
Deus chamou para si um povo
para ter um relacionamento com ele, e tem preparado este povo, para proclamar
suas virtudes. Seu plano é fazer uma nação de sacerdotes e adoradores.
- Para cumprir sua promessa – “...Mas foi porque o Senhor os amou e por causa do
juramento que fez aos seus antepassados” (Dt 7.8).
Deus chamou Abraão, para preparar um povo que
abençoaria o mundo inteiro. “Em ti serão benditas todas as famílias da terra”.
Desde o inicio do seu projeto, era seu plano ter um povo que o adorasse. Este
povo receberia os estatutos, alianças, profecias, e dentre eles nasceria o
Cristo, o qual é sobre todos, Deus bendito, eternamente (Rm 9.5). Então, Deus
elege Israel por causa das promessas
feitas a Abraão. Ele estava cumprindo sua promessa.
Conclusão:
Portanto, estamos debaixo de um mesmo pacto
(Gl 3.17-18). Nem a lei, dada a Moisés, mudou as disposições de Deus e desfez a
promessa dada a Abraão. As pessoas são salvas, no AT e NT, da mesma forma: Pela
graça!. Ninguém é salvo por méritos, integridade, bondade, boas obras, mas apenas pelo sangue de Cristo. Desista,
portanto de você e coloque sua confiança na obra eficiente e eficaz de Cristo
Jesus. Pela graça sois salvos.