Este mandamento aprecia a vida e a coloca na correta perspectiva. Nele aprendemos a sacralidade da existência, reconhecemos que a vida é um dom de Deus. Não pode ser banalizada, manipulada, nem explorada como um objeto comercial. Não se pode desconsiderar seu precioso valor.
O verbo “viver” em inglês é “to live”. Se invertermos este termo “live”, teremos outra palavra sugestiva: “evil” (mal). Assim como na língua inglesa precisamos considerar que o mal é oposto à vida. Matar é desprezar o valor e significado da existência e desconsiderar que Deus é o Senhor da vida. Onde encontramos pessoas e estruturas que desvalorizam a vida, teremos ali a expressão do mal, seja qual for a explicação que se dê a esta atitude, ela será sempre maligna. O bem exalta a vida. Deus valoriza a vida!
Por isto não temos o direito de tirar a vida do outro, uma vez que a vida é doação divina. Apenas Deus, que a dá, pode tirá-la, no seu tempo, da sua forma, dentro de seus propósitos. Dar e tirar a vida são prerrogativas divinas.
Nossa sociedade tende a relativizar o valor da vida e a banalizá-la. Acostumamos facilmente com a morte, nos tornamos apáticos. Apatia (a-pathos) é uma fuga do sentir. Ela opera como o instinto da morte de Freud. Assim é que estatísticas como o assassinato de 50 mil pessoas anualmente no Brasil não nos assusta mais. Isto demonstra quão pouco a vida é valorizada em nosso país. Centenas de pessoas morrem de igual forma de fome, guerras vazias, prepotência de ditadores em outras partes do mundo. Não seria esta uma forma de co-participação no projeto da anti-vida? Não seria isto uma forma de matar?
Este mandamento também lida com a trágica situação do infanticídio que acontece nas clínicas de abortos clandestinas cujos números chegam aos milhares. Certa mulher para justificar o aborto afirmou que por ser dona do seu corpo podia fazer o que bem entendesse com ele. Este princípio de fato é real, ela pode amputar uma de suas pernas, se assim desejar, ou arrancar um órgão de seu corpo, mas a criança, que está no seu útero, é outro ser dentro do seu corpo. Portanto, a prática do aborto é também uma quebra do sexto mandamento.
Jesus dá uma dimensão ainda mais profunda a este mandamento, ensinando que o ódio nutrido e expressões de desprezo, desconsideração e descaso dentro de nossos corações são formas subjetivas de matar o irmão, e quem faz isto incorre no julgamento de Deus (Mt 5.21-26). Matamos com nossa indiferença, apatia, ira e maledicência.
Matamos também idosos e deficientes, quando encontramos neles um valor meramente utilitarista. Nossa sociedade focalizada apenas no sucesso, lucro e conquista tende a destruir aqueles que não são mais úteis.
Este texto nos alerta a não conspirarmos contra qualquer irmão, nem contra nossa própria vida. Alerta-nos também contra o suicídio. Uma vez que você não é o autor da vida, não pode dispor dela para a auto-destruição. A vida é um dom!
Uma visão positiva da vida pode alterar nossa visão de universo e de valor próprio, afinal, ideologias são antropologias. É isto que este mandamento pede de nós. Que valorizemos o ser humano uma vez que ele foi criado à imagem e semelhança de Deus.
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