Violência tem etiologia. Não surge num vácuo histórico, nem acontece do nada. Violência tem raiz, origem, umas averiguáveis, outras não claramente distinguíveis.
Rollo May trabalha este tema de forma muito madura em seu clássico livro “Eros e violência”, afirmando que a agressividade em geral está relacionada à impotência animal, quando estes se sentem desprotegidos, tornam-se agressivos. Assim, é que um animal acuado, encurralado ou em sofrimento, pode ter reações absolutamente estranhas. O filme “O Patriota” traça este perfil, na pele de um homem pacato que vendo seu filho sendo friamente executado, torna-se um monstro, e revela uma violência que ele mesmo desconhecia.
Leonardo Boff ainda articula um conceito amplamente discutido no campo comportamental que é a “violência dos violentados”. Para ele, esta seria a violência como resposta ou a violência reativa, que brota de ambientes hostis, e muitas vezes trata-se de uma questão até mesmo de sobrevivência para aqueles que a praticam.
Arnaldo Jabor em sua análise sobre o hediondo e lamentável incidente ocorrido em Brasília na invasão que o MLST fez ao Congresso Nacional no dia 06/06/2006, foi muito feliz na sua observação afirmando que o Legislativo violentou a nação absolvendo pessoas com práticas ilegais e suspendeu sanções sobre pessoas comprovadamente corruptas; o Judiciário zombou do povo ao permitir que reconhecidos criminosos tivessem o direito de “não responder” numa Comissão Parlamentar de Inquérito, e que o Executivo tratou com descaso os sucessivos escândalos engendrados na cozinha do Palácio fazendo de conta que isto não era com eles. Esta violência dos poderosos se materializa agora na violência dos impotentes e dos partidos marginais que articulam esta nova Guerra dos Farrapos.
Tudo isto nos ajuda a ler a história, fazer hermenêutica da violência, mas precisamos lembrar que a agressão, a balbúrdia e o caos precisam ser rigorosa e exemplarmente julgados. Explicar não é justificar. Se o país mais uma vez tratar com indulgência cenas de bandidagem vamos precisar explicar outra vez, num futuro breve, novas cenas de selvageria pública que eclodirão neste país de tanta violência social.
Esperamos ainda que não sejam julgados apenas aqueles que praticaram estes recentes atos de selvageria recentes em Brasília, mas em nome da justiça e em nome de Deus, que os crimes de colarinho brancos também levem para a cadeia aqueles que tem sistematizado, “pandemizado” e “endemizado” a corrupção, outra forma de violência tão conhecida em nosso país.
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