O jornalista Henry Fairlie, no seu livro, os sete pecados mortais de hoje afirma que o lema de nossos dias poderia ser “A vingança do fracasso”. Segundo o autor, a miséria detesta solidão, ou, como é comum encontrarmos nos famosos ônibus londrinos: “misery loves company”.
Para Fairlie, quando os homens não conseguem fazer algo bem feito eles destroem novos paradigmas para enaltecer a mediocridade. Quem não consegue escrever bem, ridiculariza as formas e estilos, descarta o pensamento linear tornando-o irrelevante para construir aquilo que precisa ser valorizado. O mundo da arte está repleto destas tendências: Quando verdadeiras obras de arte não são produzidas, destrói-se os cânones da pintura e cria-se assim um novo universo. Por isto, sempre temos uma quantidade imensa de músicos, literatos e artistas ridículos que se fazem passar por gênios, quando na verdade são apenas simulacros da verdadeira arte. Esta é a vingança do fracasso!
Creio que com base neste argumento torna-se possível entender a arte brasileira: É impossível que um ouvido que se preza consiga ouvir determinadas músicas de sucesso, ler determinadas textos que se escrevem, acompanhar determinados veredictos de pequenos juristas que são feitos sem manifestar repúdio intelectual. Não dá para pecar contra o senso estético, artístico ou moral. É a vingança do fracasso! Parece que quanto mais tolo e mal elaborado for o conteúdo da questão, o ritmo e a poesia, maiores são as chances de se obter sucesso.
Isto ainda pode ser verificado nos programas de Televisão que atualmente ocupam nossos horários nobres atestando a ironia do que se convenciona chamar sucesso. Com frases repetitivas e idéias curtas, os programas de auditório se mantém com uma diarréia de palavras e uma constipação de idéias. Se você analisar o conteúdo do Faustão ou da Luciana Gimenez você se assusta, sem citar outros. Se você ficar na frente da TV assistindo estes programas mais do que cinco minutos, você estará passando um atestado de burrice a si mesmo e sofrerá um dramático processo, quase que irreversível, de emburrecimento e “asnificação”.
A razão? Fairlie pensa que isto é resultado de um igualitarismo corrupto de uma democracia de mente fraca. “Colocar os desiguais contra os desiguais como se fossem iguais é criar um berçário de fomentação de invejas... O que não conseguimos atingir, rebaixamos. O que exige treino e trabalho árduo nós demonstramos que poderá ser realizado sem esses esforços”.
É isto que vemos nos discursos populescos de políticos mal preparados, no ambiente cultural dirigido por medíocres, na corrupção do clero, nas colunas sociais recheadas de fofocas e que são mantidas na fogueira ridícula da vaidade. Deprecia-se o outro, e quanto maior ameaça ele representar mais será punido. É conhecido o caso de professores medíocres que negam informações preciosas a estudantes com medo da concorrência que sofrerão no futuro. Neste ambiente a inveja viceja, já que “inveja é a tristeza pelo bem do outro” (Thomas de Aquino).
Caetano Veloso em sua magistral poesia afirma o seguinte em podres poderes: “Será que nunca faremos senão confirmar, a incompetência da América Católica, que sempre precisará de ridículos tiranos?” É...parece que o fracasso tem conseguido ser vitorioso...
quinta-feira, 30 de março de 2006
domingo, 19 de março de 2006
Certo e Errado
Vivemos dias de relativismo e subjetivismo moral. Segundo este princípio filosófico, não se pode afirmar que algo é certo ou errado, pois tudo é relativo, dependendo do ponto de vista de cada um: Se A é o oposto de B, e A é certo, nem sempre significa que B é errado. É possível encontrar uma síntese hegeliana que trata as coisas não numa perspectiva de tese e antítese, mas sim, de síntese. A verdade é individual. Não existe verdade objetiva, apenas a verdade de cada um (subjetiva). Ela não é mais o que a filosofia de Sócrates afirmou: “A verdade é o que é”, antes aquilo que se pensa ser, ou aquilo que se sente ser.
Diante disto, como saber se algo é certo e errado, se é que existe algo que possamos chamar de certo e algo que se possa chamar de errado? Se somos simples máquinas, ou “o resultado de colocações acidentais de átomos” (Russel), não há sentido falar de trevas e luz, nem de falso e verdadeiro.
O problema básico é que, ao afirmar isto, negamos a responsabilidade moral. Como definir o que é certo ou errado se tudo é relativo, até mesmo a afirmação “tudo é relativo”, que agora precisa também ser relativizada? No entanto, queremos estabelecer conceitos como justiça, honestidade, integridade, mas se estes critérios são subjetivos, é tolice dizer que algo é justo. Negar a distinção entre bem e mal, certo e errado, parece contrariar a base ética da humanidade.
C. S. Lewis, conhecido escritor britânico, afirma que quando uma pessoa reivindica algum direito, ela está apelando para algum padrão de comportamento, regra, lei ou moralidade, que ela espera que o outro conheça. Se não existe regra, não há sentido em reclamar de uma pessoa que toma o seu assento ou que estaciona na sua vaga de garagem. Quando protestamos inferimos que existe algo que é certo e por isto mesmo, algo que, sendo contrário, é errado. Não existe lógica reclamar se não existe uma regra entre o que é bom ou ruim, falso e verdadeiro. (Lewis, C.S, Mere Christianity, pg 19). É impressionante que, mesmo aqueles que afirmam não haver diferença entre certo e errado, minutos depois de se sentirem prejudicados venham a dizer, “isto não é justo!”
O cristianismo não sofre desta incerteza a respeito do bem e do mal. Isaias chega mesmo a afirmar: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!” (Is 5.20). O cristão não tem dificuldade de afirmar que o mal e o bem existem e são excludentes.
O caráter de Deus torna-se referência para o comportamento humano. A Bíblia afirma, entre outras coisas, que Ele é misericordioso, bondoso, amoroso, santo e justo. Por isto, no dia do juízo final, atos, palavras e pensamentos serão julgados. Existe parâmetro de certo e errado para este julgamento. A verdade e a justiça serão estabelecidas, a despeito daqueles que tentam mesclar o certo e o errado dizendo que são a mesma coisa vista de ângulos diferentes.
Todos são criados com uma consciência moral que é a Lei de Deus, mesmo os pagãos mais remotos. “Os pagãos não tem a lei. Mas, quando fazem pela sua própria vontade o que a lei manda, eles são a sua própria lei, embora não tenham a lei. Eles mostram, pela sua maneira de agir, que tem a lei escrita no seu coração. A própria consciência deles mostra que isto é verdade, e os seus pensamentos, que às vezes os acusam e às vezes os defendem, também mostram isso” (Rm 2.14-15). Esta consciência, contudo, pode se tornar insensível e calejada. Por causa de nossas escolhas morais corremos o risco de nos acostumarmos com o mal. Mas é bom lembrar que a Lei Natural e a Lei de Deus clamam pela justiça, e que a despeito da tentativa de alguns de chamar certo de errado, e errado de certo, todos teremos um dia de comparecer diante daquele para quem bem é bom, e mal é mau. Luz é luz, e escuridão é escuridão!
Diante disto, como saber se algo é certo e errado, se é que existe algo que possamos chamar de certo e algo que se possa chamar de errado? Se somos simples máquinas, ou “o resultado de colocações acidentais de átomos” (Russel), não há sentido falar de trevas e luz, nem de falso e verdadeiro.
O problema básico é que, ao afirmar isto, negamos a responsabilidade moral. Como definir o que é certo ou errado se tudo é relativo, até mesmo a afirmação “tudo é relativo”, que agora precisa também ser relativizada? No entanto, queremos estabelecer conceitos como justiça, honestidade, integridade, mas se estes critérios são subjetivos, é tolice dizer que algo é justo. Negar a distinção entre bem e mal, certo e errado, parece contrariar a base ética da humanidade.
C. S. Lewis, conhecido escritor britânico, afirma que quando uma pessoa reivindica algum direito, ela está apelando para algum padrão de comportamento, regra, lei ou moralidade, que ela espera que o outro conheça. Se não existe regra, não há sentido em reclamar de uma pessoa que toma o seu assento ou que estaciona na sua vaga de garagem. Quando protestamos inferimos que existe algo que é certo e por isto mesmo, algo que, sendo contrário, é errado. Não existe lógica reclamar se não existe uma regra entre o que é bom ou ruim, falso e verdadeiro. (Lewis, C.S, Mere Christianity, pg 19). É impressionante que, mesmo aqueles que afirmam não haver diferença entre certo e errado, minutos depois de se sentirem prejudicados venham a dizer, “isto não é justo!”
O cristianismo não sofre desta incerteza a respeito do bem e do mal. Isaias chega mesmo a afirmar: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!” (Is 5.20). O cristão não tem dificuldade de afirmar que o mal e o bem existem e são excludentes.
O caráter de Deus torna-se referência para o comportamento humano. A Bíblia afirma, entre outras coisas, que Ele é misericordioso, bondoso, amoroso, santo e justo. Por isto, no dia do juízo final, atos, palavras e pensamentos serão julgados. Existe parâmetro de certo e errado para este julgamento. A verdade e a justiça serão estabelecidas, a despeito daqueles que tentam mesclar o certo e o errado dizendo que são a mesma coisa vista de ângulos diferentes.
Todos são criados com uma consciência moral que é a Lei de Deus, mesmo os pagãos mais remotos. “Os pagãos não tem a lei. Mas, quando fazem pela sua própria vontade o que a lei manda, eles são a sua própria lei, embora não tenham a lei. Eles mostram, pela sua maneira de agir, que tem a lei escrita no seu coração. A própria consciência deles mostra que isto é verdade, e os seus pensamentos, que às vezes os acusam e às vezes os defendem, também mostram isso” (Rm 2.14-15). Esta consciência, contudo, pode se tornar insensível e calejada. Por causa de nossas escolhas morais corremos o risco de nos acostumarmos com o mal. Mas é bom lembrar que a Lei Natural e a Lei de Deus clamam pela justiça, e que a despeito da tentativa de alguns de chamar certo de errado, e errado de certo, todos teremos um dia de comparecer diante daquele para quem bem é bom, e mal é mau. Luz é luz, e escuridão é escuridão!
quarta-feira, 8 de março de 2006
Decepcionado com Deus
No seu excelente livro Disappointment with God (Grand Rapids, MI, Zondervan Publishing house), Philip Yancey desenvolve uma discussão profunda sobre a questão do silêncio e mistério de Deus. Com muita honestidade ele faz três perguntas que ninguém gosta de fazer em voz alta.
1. Deus é injusto? Neste item ele discute a questão que muitas vezes paira na alma humana. Muitas pessoas encontram enorme dificuldade em conciliar sua tragédia pessoal, dor e culpa com a idéia de um Deus bondoso. C. S. Lewis, ao discutir o problema do sofrimento, faz uma síntese desta questão ao afirmar: “para muitos Deus é bom mas não é Todo Poderoso, ou Deus é Todo Poderoso mas não é bom”.
2. Deus é silencioso? Muitos vêem Deus como um poder frio e distante, mais ou menos como um dos deuses representados no panteão romano. Estes deuses eram alheios às dores dos mortais. Mesmo o salmista parece experimentar esta angústia ao afirmar: “Desperta Senhor, por que dormes? Levante-se! Não nos rejeites para sempre” (Sl 44.23-24).
3. Deus está escondido? Muitos acham que Deus se oculta nas horas de maior necessidade. Imaginam o universo governado por uma força impessoal, cega e fria, conduzida pelo sortilégio, fatalismo a acaso. Para estes, se é que Deus existe, Ele é uma força distante, cuja face não será jamais revelada.
Elie Wiesel, conhecido judeu que foi levado para os terríveis campos de concentração na Polônia, narra um intrigante e terrível incidente acontecido naqueles centros de tortura. Alguém teria roubado a cozinha da Gestapo e os soldados nazistas queriam punir exemplarmente o erro e então exigiram que o ladrão se pronunciasse. Como o culpado não se manifestou, eles pegaram um idoso e uma criança e os colocou do lado de fora do prédio para morrer de frio no rigoroso inverno do Norte da Europa. No outro dia, inexplicavelmente a criança ainda respirava agonizante quando uma mulher, diante daquela cena angustiante, começou a gritar desesperadamente: “Onde está Deus? Onde está Deus?” Então, um dos idosos do grupo veio, abraçou a mulher e lhe disse: “Deus está ali!”, e apontou para a criança. “Por que se Deus não estiver ali, ele não se encontra em nenhum outro lugar”.
Muitas vezes temos decepções com a vida e responsabilizamos Deus. Mas este Deus também experimentou a dor, ao assumir nosso lugar na cruz. Se Deus não esteve com Cristo, na hora do sofrimento por ele experimentado, Ele não poderia estar em nenhum outro lugar. Certamente os caminhos de Deus são misteriosos, mas ele ainda anda no meio de nossa tormenta e tempestade.
1. Deus é injusto? Neste item ele discute a questão que muitas vezes paira na alma humana. Muitas pessoas encontram enorme dificuldade em conciliar sua tragédia pessoal, dor e culpa com a idéia de um Deus bondoso. C. S. Lewis, ao discutir o problema do sofrimento, faz uma síntese desta questão ao afirmar: “para muitos Deus é bom mas não é Todo Poderoso, ou Deus é Todo Poderoso mas não é bom”.
2. Deus é silencioso? Muitos vêem Deus como um poder frio e distante, mais ou menos como um dos deuses representados no panteão romano. Estes deuses eram alheios às dores dos mortais. Mesmo o salmista parece experimentar esta angústia ao afirmar: “Desperta Senhor, por que dormes? Levante-se! Não nos rejeites para sempre” (Sl 44.23-24).
3. Deus está escondido? Muitos acham que Deus se oculta nas horas de maior necessidade. Imaginam o universo governado por uma força impessoal, cega e fria, conduzida pelo sortilégio, fatalismo a acaso. Para estes, se é que Deus existe, Ele é uma força distante, cuja face não será jamais revelada.
Elie Wiesel, conhecido judeu que foi levado para os terríveis campos de concentração na Polônia, narra um intrigante e terrível incidente acontecido naqueles centros de tortura. Alguém teria roubado a cozinha da Gestapo e os soldados nazistas queriam punir exemplarmente o erro e então exigiram que o ladrão se pronunciasse. Como o culpado não se manifestou, eles pegaram um idoso e uma criança e os colocou do lado de fora do prédio para morrer de frio no rigoroso inverno do Norte da Europa. No outro dia, inexplicavelmente a criança ainda respirava agonizante quando uma mulher, diante daquela cena angustiante, começou a gritar desesperadamente: “Onde está Deus? Onde está Deus?” Então, um dos idosos do grupo veio, abraçou a mulher e lhe disse: “Deus está ali!”, e apontou para a criança. “Por que se Deus não estiver ali, ele não se encontra em nenhum outro lugar”.
Muitas vezes temos decepções com a vida e responsabilizamos Deus. Mas este Deus também experimentou a dor, ao assumir nosso lugar na cruz. Se Deus não esteve com Cristo, na hora do sofrimento por ele experimentado, Ele não poderia estar em nenhum outro lugar. Certamente os caminhos de Deus são misteriosos, mas ele ainda anda no meio de nossa tormenta e tempestade.
quinta-feira, 2 de março de 2006
A função do descanso para a alma humana
Em função do trabalho residi no Rio de Janeiro nos idos de 90 por quase cinco anos. Um amigo meu costumava afirmar que os dias de carnaval eram os melhores dias para ficar na cidade. Pode parecer brincadeira, mas nesta época do ano o trânsito fica tranqüilo, as praias pouco freqüentadas e o carnaval de rua praticamente inexiste, desde que o sambódromo foi criado.
Meu objetivo aqui, não é falar do carnaval, mas da importância do feriado para a psiquê e saúde humana, independentemente da época em que é comemorado. Quero resgatar o conceito do shabath na concepção judaica e sua atualidade para os dias de hoje.
O sábado, shabath, significava originalmente descanso. Ele foi instituído por Deus, e dado a Moisés, dentro do contexto da legislação mosaica, assumindo um importante papel na cosmovisão do povo judeu, sendo estabelecido como o quarto mandamento: “Lembra-te do dia de sábado para o santificar” (Ex 20.8).
Muitas pessoas desconhecem, mas o sábado não era apenas o sétimo dia da semana. Deus instituiu muitos outros sábados que eram festas fixas como a páscoa, comemorada no 14o. dia do mes de Abib e que portanto era celebrado como sábado, em qualquer dia da semana. Era festa de Shabath.
O sábado tinha alguns objetivos específicos:
1. Era usado primariamente para glorificar a Deus – Neste dia o povo judeu aproveitava a oportunidade para agradecer a Deus, reunir-se com a família e ouvir a leitura da Torah feita nas sinagogas que eram constituidas com o mínimo de 10 judeus do sexo masculino, incluindo crianças acima de 13 anos de idade. O quarto mandamento afirmava que o povo deveria se lembrar do sábado para o santificar. Reservava-se esta data para se aproximar do criador e agradecer o seu cuidado;
2. O sábado era usado também com uma função social – Nem o escravo, nem o forasteiro, nem os animais, deveriam trabalhar neste dia, nem mesmo o jumento. Como Deus sabe do poder que a ambição e o lucro exercem na alma humana ele proibiu que escravos fizessem qualquer atividade neste dia. Isto tinha um benefício social e atingia de forma direta os pobres e discriminados socialmente. O sábado detinha a ganância e a mentalidade de lucro e ganho, protegendo os fracos.
3. O sábado tinha a funcão de equilibrar a mente e o corpo – além das duas razões anteriores, Deus também estava pensando na necessidade que nosso organismo tem de parar as atividades para equilibrar corpo e mente. Sossegar. Não fazer nada. “Em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” (Ex 20.11).
Jesus posteriormente vai clarificar ainda mais este conceito, mostrando que Deus não estava preocupado consigo mesmo ao estabelecer o sábado, nem com o sábado em si, como uma corrente legalista quis fazer. Por isto afirma: “o homem não foi feito por causa do sábado, mas o sábado por causa do homem”. Deus não precisava do shabath, mas queria nos ensinar o valor do descanso para nossos corações. Portanto, o sábado tem uma função sacramental. Tolo é o homem que não consegue descansar para fazer aquilo que sente prazer em fazer. Ao criar o sábado, Ele queria nos ensinar que o descanso tem uma função espiritual para o ser humano.
Meu objetivo aqui, não é falar do carnaval, mas da importância do feriado para a psiquê e saúde humana, independentemente da época em que é comemorado. Quero resgatar o conceito do shabath na concepção judaica e sua atualidade para os dias de hoje.
O sábado, shabath, significava originalmente descanso. Ele foi instituído por Deus, e dado a Moisés, dentro do contexto da legislação mosaica, assumindo um importante papel na cosmovisão do povo judeu, sendo estabelecido como o quarto mandamento: “Lembra-te do dia de sábado para o santificar” (Ex 20.8).
Muitas pessoas desconhecem, mas o sábado não era apenas o sétimo dia da semana. Deus instituiu muitos outros sábados que eram festas fixas como a páscoa, comemorada no 14o. dia do mes de Abib e que portanto era celebrado como sábado, em qualquer dia da semana. Era festa de Shabath.
O sábado tinha alguns objetivos específicos:
1. Era usado primariamente para glorificar a Deus – Neste dia o povo judeu aproveitava a oportunidade para agradecer a Deus, reunir-se com a família e ouvir a leitura da Torah feita nas sinagogas que eram constituidas com o mínimo de 10 judeus do sexo masculino, incluindo crianças acima de 13 anos de idade. O quarto mandamento afirmava que o povo deveria se lembrar do sábado para o santificar. Reservava-se esta data para se aproximar do criador e agradecer o seu cuidado;
2. O sábado era usado também com uma função social – Nem o escravo, nem o forasteiro, nem os animais, deveriam trabalhar neste dia, nem mesmo o jumento. Como Deus sabe do poder que a ambição e o lucro exercem na alma humana ele proibiu que escravos fizessem qualquer atividade neste dia. Isto tinha um benefício social e atingia de forma direta os pobres e discriminados socialmente. O sábado detinha a ganância e a mentalidade de lucro e ganho, protegendo os fracos.
3. O sábado tinha a funcão de equilibrar a mente e o corpo – além das duas razões anteriores, Deus também estava pensando na necessidade que nosso organismo tem de parar as atividades para equilibrar corpo e mente. Sossegar. Não fazer nada. “Em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” (Ex 20.11).
Jesus posteriormente vai clarificar ainda mais este conceito, mostrando que Deus não estava preocupado consigo mesmo ao estabelecer o sábado, nem com o sábado em si, como uma corrente legalista quis fazer. Por isto afirma: “o homem não foi feito por causa do sábado, mas o sábado por causa do homem”. Deus não precisava do shabath, mas queria nos ensinar o valor do descanso para nossos corações. Portanto, o sábado tem uma função sacramental. Tolo é o homem que não consegue descansar para fazer aquilo que sente prazer em fazer. Ao criar o sábado, Ele queria nos ensinar que o descanso tem uma função espiritual para o ser humano.
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