quinta-feira, 30 de março de 2006

A Vingança do fracasso

O jornalista Henry Fairlie, no seu livro, os sete pecados mortais de hoje afirma que o lema de nossos dias poderia ser “A vingança do fracasso”. Segundo o autor, a miséria detesta solidão, ou, como é comum encontrarmos nos famosos ônibus londrinos: “misery loves company”.
Para Fairlie, quando os homens não conseguem fazer algo bem feito eles destroem novos paradigmas para enaltecer a mediocridade. Quem não consegue escrever bem, ridiculariza as formas e estilos, descarta o pensamento linear tornando-o irrelevante para construir aquilo que precisa ser valorizado. O mundo da arte está repleto destas tendências: Quando verdadeiras obras de arte não são produzidas, destrói-se os cânones da pintura e cria-se assim um novo universo. Por isto, sempre temos uma quantidade imensa de músicos, literatos e artistas ridículos que se fazem passar por gênios, quando na verdade são apenas simulacros da verdadeira arte. Esta é a vingança do fracasso!
Creio que com base neste argumento torna-se possível entender a arte brasileira: É impossível que um ouvido que se preza consiga ouvir determinadas músicas de sucesso, ler determinadas textos que se escrevem, acompanhar determinados veredictos de pequenos juristas que são feitos sem manifestar repúdio intelectual. Não dá para pecar contra o senso estético, artístico ou moral. É a vingança do fracasso! Parece que quanto mais tolo e mal elaborado for o conteúdo da questão, o ritmo e a poesia, maiores são as chances de se obter sucesso.
Isto ainda pode ser verificado nos programas de Televisão que atualmente ocupam nossos horários nobres atestando a ironia do que se convenciona chamar sucesso. Com frases repetitivas e idéias curtas, os programas de auditório se mantém com uma diarréia de palavras e uma constipação de idéias. Se você analisar o conteúdo do Faustão ou da Luciana Gimenez você se assusta, sem citar outros. Se você ficar na frente da TV assistindo estes programas mais do que cinco minutos, você estará passando um atestado de burrice a si mesmo e sofrerá um dramático processo, quase que irreversível, de emburrecimento e “asnificação”.
A razão? Fairlie pensa que isto é resultado de um igualitarismo corrupto de uma democracia de mente fraca. “Colocar os desiguais contra os desiguais como se fossem iguais é criar um berçário de fomentação de invejas... O que não conseguimos atingir, rebaixamos. O que exige treino e trabalho árduo nós demonstramos que poderá ser realizado sem esses esforços”.
É isto que vemos nos discursos populescos de políticos mal preparados, no ambiente cultural dirigido por medíocres, na corrupção do clero, nas colunas sociais recheadas de fofocas e que são mantidas na fogueira ridícula da vaidade. Deprecia-se o outro, e quanto maior ameaça ele representar mais será punido. É conhecido o caso de professores medíocres que negam informações preciosas a estudantes com medo da concorrência que sofrerão no futuro. Neste ambiente a inveja viceja, já que “inveja é a tristeza pelo bem do outro” (Thomas de Aquino).
Caetano Veloso em sua magistral poesia afirma o seguinte em podres poderes: “Será que nunca faremos senão confirmar, a incompetência da América Católica, que sempre precisará de ridículos tiranos?” É...parece que o fracasso tem conseguido ser vitorioso...

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