Nem todas as culturas lidam com a morte como tabu, para algumas o processo de transição é muito menos complicado que o nosso. Alguns povos chegam a fazer festa quando alguém falece, principalmente se se trata de uma pessoa cuja vida foi profícua, e que viveu longos dias. Na nossa cultura, porém, um dos grandes medos nossos é a morte. Algumas pessoas vivem prisioneiras e ameaçadas por esta idéia.
Roberto Pompeu de Toledo num desafiador artigo publicado pela Veja no dia 29 de Abril de 1998. afirmou que muitas vezes a morte age por atacado, na forma de um arrastão, mostrando um fôlego de corredor de maratona, "lembrando-nos que não relaxou sua vigilância, a nós que tantas vezes pretendemos negá-la, e na vida de cada dia temos como fim último nos distrair de sua existência. Nessas horas em que age por atacado, ela chega com a exuberância de uma virtuose de seu ofício, a fúria de um touro ao entrar na arena, a fome de gols de um centroavante dopado. Feita sua obra, deixa-nos embasbacados como diante de um acróbata do impossível que, depois de um salto sobre o abismo, nos dissesse: "Viram do que sou capaz?".
Pascal ao abordar este assunto afirma que "Os homens, não tendo podido curar a morte, decidiram, para serem felizes, não pensar nela. Foi tudo o que puderam inventar para se consolarem”. Em O problema da vida, pg. 15, F. Lellote
A morte revela nossas limitações, zomba de nossos valores frágeis, denuncia nossos limites, manifesta a vulnerabilidade humana, critica nosso tolo materialismo apontando para o fato de que bem pouca coisa que fazemos de fato tem valor eterno. Por isto Jesus perguntou certa vez: "Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?"
Todos os caminhos levam à cova, esta é a horrível realidade desta vida. O primeiro dia de nosso nascimento encaminha-nos a morrer com a viver como afirmou Montaigne. Por isto “angustiados, por sentirmos que tudo passa, que também nós passamos, que passa o que é nosso, que passa tudo que nos cerca” (Unamuno). “transit gloria mundi”.
Não há solução para o problema da morte, “a angústia básica de todo ser humano” “a grande neurose das civilizações” “a mais fria anti-utopia” (Block). A Bíblia afirma que “ninguém tem poder sobre o dia de sua morte” (Ec 8.8). Nos revela ainda a forma como Jesus lidou com a morte, e isto deveria ser um enorme consolo para nossas vidas. Ele a enfrentou serenamente, não com pavor que tantos sentem diante desta realidade humana. Jesus “acabou com o poder da morte” (NTLH), “venceu a morte” (EP), “quebrou o poder da morte” (BV) ou “destruiu a morte” (EPC, CNBB e TEB). Noutro texto nos é dito que Jesus destruiu “aquele que tinha o poder da morte, a saber, o Diabo” para “libertar aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte” (Hb 2.14-15). A rica experiência que Jesus teve no seu viver e a forma como ele lidou e venceu a morte, tornam-se a base de nossa confiança. Porque ele vive, podemos crer no amanhã, porque ainda que não saibamos o que nos espera no amanhã, podemos saber que Jesus já se encontra neste amanhã. E as promessas de vida eterna são todas extremamente significativas.
A verdade é que não devemos nos impressionar com a morte, mas com o morrer. Ray Charles afirmou, "É muito importante viver cada dia como se fosse o último, porque um dia, você estará certo" (Esquire).
quarta-feira, 26 de outubro de 2005
domingo, 23 de outubro de 2005
Por que existimos?
Talvez a pergunta mais importante da vida seja a que se relaciona a existência da raça humana. Para o fenomenólogo Max Scheler "todos os problemas fundamentais da filosofia podem reconduzir-se à seguinte questão: que é o homem e que lugar e posição metafísica ele ocupa dentro da totalidade do ser, do mundo, de Deus?". Artur Schopenhauer, conhecido filósofo existencialista certa feita encontrava-se na beira do Rio Teingarten em Frankfurt quando foi indagado por um limpador de rua: "quem é você?", e ele responde: "Deus sabe que isto é o que eu mais gostaria de saber".
Pensadores se dividem na questão da origem do hommem. Alguns o vêem imbuído de um sentido e propósito maior. Outros, apenas como sequência química e biológica de DNAs e átomos conectados.
Nas narrativas das Escrituras Sagradas, o homem ocupa um espaço fundamental na relação com Deus: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para que com ele te preocupes? Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glória e de honra” (NVI, Sl 8.3-6).
Alguns pensadores, contudo, possuem uma perspectiva completamente diferente: “O homem é produto de causas que não tiveram previsão do fim que estão atingindo (...) sua origem, seu crescimento, suas esperanças e temores, seus amores e suas crenças são apenas o resultado de colocações acidentais de átomos (...) nenhum fogo, nenhum heroísmo, nenhuma intensidade de pensamento e sentimento pode preservar uma vida individual além da sepultura (...) e todo o templo das realizações humanas tem de ser inevitavelmente sepultado embaixo dos escombros de um universo em ruínas”. (Bertrand Russel)
Uns percebem grandeza e significado, outros vazio e desorientação da existência humana. Uma visão gera esperança, outra angústia, já que não pode dar perspectiva individual além da sepultura.
Por que é importante discutir a origem da raça humana? De forma simplificada podemos dizer que a origem aponta também para o destino. A visão que construímos do homem vai definir nosso relacionamento com ele. Hitler acreditava que o homem era importante, desde que fosse ariano. Garotos atearam fogo no corpo de um índio em Brasília, porque achavam que ele era mendigo. Em outras palavras, se soubessem que era um índio não o queimariam, mas o mendigo podia ser executado, pela sua condição humana. Ideologias, no fundo, são antropologias. Se acharmos que não há um Deus que tenha criado o homem, e que não há uma Causa Primária, perdemos a capacidade de ver a grandeza inerente no homem por ter sido ele criado à imagem e semelhança de Deus.
O homem possui sentido por causa de sua origem sagrada. Perry London, psicoterapeuta americano, defendeu a visão do modelo mecânico da natureza humana. O homem seria um autômato, um amontoado de peças e enzimas aglutinadas, ou, como definiu Russel, “apenas o resultado de colocações acidentais de átomos”. No entanto, a criatividade, racionalidade, emotividade e espiritualidade humana apontam para uma dimensão metafísica. Afinal, foi exatamente isto que a Trindade declarou no seu projeto embrionário do ser humano: ”façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. Nossa origem aponta para divindade. Nossa humanidade para a eternidade.
Pensadores se dividem na questão da origem do hommem. Alguns o vêem imbuído de um sentido e propósito maior. Outros, apenas como sequência química e biológica de DNAs e átomos conectados.
Nas narrativas das Escrituras Sagradas, o homem ocupa um espaço fundamental na relação com Deus: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para que com ele te preocupes? Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glória e de honra” (NVI, Sl 8.3-6).
Alguns pensadores, contudo, possuem uma perspectiva completamente diferente: “O homem é produto de causas que não tiveram previsão do fim que estão atingindo (...) sua origem, seu crescimento, suas esperanças e temores, seus amores e suas crenças são apenas o resultado de colocações acidentais de átomos (...) nenhum fogo, nenhum heroísmo, nenhuma intensidade de pensamento e sentimento pode preservar uma vida individual além da sepultura (...) e todo o templo das realizações humanas tem de ser inevitavelmente sepultado embaixo dos escombros de um universo em ruínas”. (Bertrand Russel)
Uns percebem grandeza e significado, outros vazio e desorientação da existência humana. Uma visão gera esperança, outra angústia, já que não pode dar perspectiva individual além da sepultura.
Por que é importante discutir a origem da raça humana? De forma simplificada podemos dizer que a origem aponta também para o destino. A visão que construímos do homem vai definir nosso relacionamento com ele. Hitler acreditava que o homem era importante, desde que fosse ariano. Garotos atearam fogo no corpo de um índio em Brasília, porque achavam que ele era mendigo. Em outras palavras, se soubessem que era um índio não o queimariam, mas o mendigo podia ser executado, pela sua condição humana. Ideologias, no fundo, são antropologias. Se acharmos que não há um Deus que tenha criado o homem, e que não há uma Causa Primária, perdemos a capacidade de ver a grandeza inerente no homem por ter sido ele criado à imagem e semelhança de Deus.
O homem possui sentido por causa de sua origem sagrada. Perry London, psicoterapeuta americano, defendeu a visão do modelo mecânico da natureza humana. O homem seria um autômato, um amontoado de peças e enzimas aglutinadas, ou, como definiu Russel, “apenas o resultado de colocações acidentais de átomos”. No entanto, a criatividade, racionalidade, emotividade e espiritualidade humana apontam para uma dimensão metafísica. Afinal, foi exatamente isto que a Trindade declarou no seu projeto embrionário do ser humano: ”façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. Nossa origem aponta para divindade. Nossa humanidade para a eternidade.
segunda-feira, 10 de outubro de 2005
REFERENDO SOBRE ARMAMENTO
A questão que orienta este referendo é: "Podemos ou não podemos comercializar armas?". Vote sim ou vote não!
Na minha concepção a discussão deveria ser menos superficial, e a questão mais aprofundada. Eis uma pergunta que ninguém quer fazer: Quais são os fatores que tem gerado tanta violência em nosso país? Sabemos que cerca de 39 mil de pessoas foram assassinadas com armas de fogo no último ano, mas ninguém pergunta a razão da violência estar tão acentuada.
Um dos princípios fundamentais do Bill of rights dos Estados Unidos, que se constitui na segunda emenda da constituição daquele país é que o cidadão tem o direito de portar armas. A violência dos Estados Unidos, com todo este direito individual do uso das armas é muito inferior a do Brasil. Obviamente existem outras razões naquela cultura que tem gerado estranhas formas de violência e que não tem nada a ver com o direito de ter ou não ter armas, adquiri-las ou não.
Para que você compre uma arma naquele país, você é cadastrado e não pode adquiri-la no mesmo dia em que se propõe a fazê-lo. Seu cadastro é avaliado por peritos, você se expõe, mas ainda assim, este é um direito individual adquirido. A violência da indiferença, de um povo rico e sem sentido, de culturas marginalizadas tem sido muito mais preocupantes do que ter ou não ter armas.
A violência de um povo de índole reconhecidamente pacifica como o Brasil é resultante do descaso da liderança política, da incompetência do governo brasileiro, do crime de colarinho branco, do mau uso dos recursos públicos, da falta de investimento em educação, do desamparo com a saúde pública, da falta de preocupação com os pobres, da injustiça com o trabalhador. Não é a arma o agente do crime, antes uma estrutura sistêmica, endêmica e pandêmica que promove a exploração e tira lucros da miséria de um povo abandonado e esquecido. A Violência não vai diminuir porque não se comercializa armas. Ladrões e criminosos saberão onde encontrá-las. A violência tem a ver com o coração. A grande violência de hoje não é feita com armas de fogo, mas com canetas em escritórios de gente inescrupulosa, eleita para defender o direito do povo, mas que não consegue legislar a favor do órfão e da viúva.
Guerras não são apenas acontecimentos circunstanciais, possuem etiologias e raízes bem mais profundas do que parecem à primeira vista (Tiago 4.1). Este texto aponta a origem da conflitividade humana como alguma coisa mais interior. Paz não é mera supressão de armas, tem a ver com a natureza mais intrínseca da natureza. Violência é subproduto da alma em conflito, do desejo de sucesso a qualquer preço, da tentativa desesperada de resolução de uma luta maior que se abriga na alma. “A violência é a expressão da onipotência". (Hanna Arendt, 1906-1975, escritora alemã).
Na minha concepção a discussão deveria ser menos superficial, e a questão mais aprofundada. Eis uma pergunta que ninguém quer fazer: Quais são os fatores que tem gerado tanta violência em nosso país? Sabemos que cerca de 39 mil de pessoas foram assassinadas com armas de fogo no último ano, mas ninguém pergunta a razão da violência estar tão acentuada.
Um dos princípios fundamentais do Bill of rights dos Estados Unidos, que se constitui na segunda emenda da constituição daquele país é que o cidadão tem o direito de portar armas. A violência dos Estados Unidos, com todo este direito individual do uso das armas é muito inferior a do Brasil. Obviamente existem outras razões naquela cultura que tem gerado estranhas formas de violência e que não tem nada a ver com o direito de ter ou não ter armas, adquiri-las ou não.
Para que você compre uma arma naquele país, você é cadastrado e não pode adquiri-la no mesmo dia em que se propõe a fazê-lo. Seu cadastro é avaliado por peritos, você se expõe, mas ainda assim, este é um direito individual adquirido. A violência da indiferença, de um povo rico e sem sentido, de culturas marginalizadas tem sido muito mais preocupantes do que ter ou não ter armas.
A violência de um povo de índole reconhecidamente pacifica como o Brasil é resultante do descaso da liderança política, da incompetência do governo brasileiro, do crime de colarinho branco, do mau uso dos recursos públicos, da falta de investimento em educação, do desamparo com a saúde pública, da falta de preocupação com os pobres, da injustiça com o trabalhador. Não é a arma o agente do crime, antes uma estrutura sistêmica, endêmica e pandêmica que promove a exploração e tira lucros da miséria de um povo abandonado e esquecido. A Violência não vai diminuir porque não se comercializa armas. Ladrões e criminosos saberão onde encontrá-las. A violência tem a ver com o coração. A grande violência de hoje não é feita com armas de fogo, mas com canetas em escritórios de gente inescrupulosa, eleita para defender o direito do povo, mas que não consegue legislar a favor do órfão e da viúva.
Guerras não são apenas acontecimentos circunstanciais, possuem etiologias e raízes bem mais profundas do que parecem à primeira vista (Tiago 4.1). Este texto aponta a origem da conflitividade humana como alguma coisa mais interior. Paz não é mera supressão de armas, tem a ver com a natureza mais intrínseca da natureza. Violência é subproduto da alma em conflito, do desejo de sucesso a qualquer preço, da tentativa desesperada de resolução de uma luta maior que se abriga na alma. “A violência é a expressão da onipotência". (Hanna Arendt, 1906-1975, escritora alemã).
INFANCIA E SAÚDE EMOCIONAL
Dia 12 de Outubro. Dia das crianças! Prenúncio de parques lotados, de pais agitados em comprar um presentinho, de não deixar sem uma pequena lembrança o filho ou a filha, heranças benditas de Deus!
Assusta-me nosso quadro infantil: Estatísticas de abusos sexuais e emocionais escandalizam pessoas de bom senso, o trabalho escravo, a violência dentro e fora de casa, a falta de oportunidade, os riscos de centenas de pequenas e preciosas vidas. A pobreza de muitos que os leva à promiscuidade, ao trabalho infantil, à prostituição infantil ou de tantos outros que são empregados para servir contrabandistas.
Bem, talvez estas realidades estejam distanciadas dos meus leitores. Gente que lê jornal já é alguém que possui um diferencial intelectual em relação à maioria...
Consideremos, porém, um quadro mais preocupante que atinge a classe média:
85% dos abusos sexuais acontecem dentro da casa, e são cometidos por pessoas próximas da família como amigos, tios, e gente de "confiança" da casa;
A maioria dos pais não consegue fixar limites saudáveis, girando sempre em torno do superprotecionismo ou de seu extremo, que é o descaso. Somos uma geração confusa tentando estabelecer limites que nem mesmo nós sabemos quais são, à próxima geração.
O índice de depressão infantil tem aumentado consideravelmente, parte disto é resultante do que os psicólogos têm chamado de "luto existencial", isto é, crianças que apesar de terem pai e mãe por perto, não possuem laços significativos de afeto e tem dificuldade para construir relações de intimidade;
O suicídio de pré-adolescentes e adolescentes constitui-se também num grande desafio. Numa das fases mais bonitas da vida, crianças não tem mais encontrado sentido nem razão de viver.
Com o aumento de divórcio, aumenta também a dificuldade dos pais em administrar seus conflitos pessoais, os novos desafios que surgem, e as demandas do filho que requer mais e mais a presença e atenção.
Assusta-me nosso quadro infantil: Estatísticas de abusos sexuais e emocionais escandalizam pessoas de bom senso, o trabalho escravo, a violência dentro e fora de casa, a falta de oportunidade, os riscos de centenas de pequenas e preciosas vidas. A pobreza de muitos que os leva à promiscuidade, ao trabalho infantil, à prostituição infantil ou de tantos outros que são empregados para servir contrabandistas.
Bem, talvez estas realidades estejam distanciadas dos meus leitores. Gente que lê jornal já é alguém que possui um diferencial intelectual em relação à maioria...
Consideremos, porém, um quadro mais preocupante que atinge a classe média:
85% dos abusos sexuais acontecem dentro da casa, e são cometidos por pessoas próximas da família como amigos, tios, e gente de "confiança" da casa;
A maioria dos pais não consegue fixar limites saudáveis, girando sempre em torno do superprotecionismo ou de seu extremo, que é o descaso. Somos uma geração confusa tentando estabelecer limites que nem mesmo nós sabemos quais são, à próxima geração.
O índice de depressão infantil tem aumentado consideravelmente, parte disto é resultante do que os psicólogos têm chamado de "luto existencial", isto é, crianças que apesar de terem pai e mãe por perto, não possuem laços significativos de afeto e tem dificuldade para construir relações de intimidade;
O suicídio de pré-adolescentes e adolescentes constitui-se também num grande desafio. Numa das fases mais bonitas da vida, crianças não tem mais encontrado sentido nem razão de viver.
Com o aumento de divórcio, aumenta também a dificuldade dos pais em administrar seus conflitos pessoais, os novos desafios que surgem, e as demandas do filho que requer mais e mais a presença e atenção.
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