domingo, 10 de outubro de 2021

O Segundo tempo


Os torcedores de futebol conhecem bem esta expressão. O jogo de futebol é dividido em duas etapas, e muitas vezes, o resultado do primeiro tempo é um desastre, mas subitamente, surge um fato novo, um gol inesperado, a expulsão de um jogador do time adversário, ou a mudança no ânimo dos jogadores, e o segundo tempo torna-se surpreendente.

Bob Buford, um bilionário texano, dono de uma grande rede de telecomunicações americana, escreveu o livro “A arte de virar o jogo no segundo tempo da vida”. Para ele, a vida de um ser humano divide-se em duas etapas. Na primeira, a prioridade é a formação acadêmica, a luta pelo emprego, para se encaixar no mercado de trabalho, casar, criar filhos, e se firmar responsavelmente e com solidez na vida.

Nesta fase, ele luta para alcançar o sucesso, a realização profissional e o sustento de sua família. As pessoas são resistentes, agressivas nas suas ambições, aguerridas e quase incansáveis. As oportunidades estão diante dele que as agarra com tenacidade.

No segundo tempo da vida, ele descobre que suas conquistas pessoais, sucesso, não são suficientes para dar sentido, nem trazer plenitude à vida. Ser bem sucedido e encontrar significado são duas coisas completamente diferentes. A existência sem sentido gera frustração, angústia e vazio. 

Quase sempre nos vemos em um ou outro destes momentos da vida. Relutante ou corajosamente enfrentamos desafios. Muitas vezes entramos para o “vestiário” antes do segundo tempo, com um senso enorme de fracasso e derrota, mas podemos ser surpreendidos pelo desenrolar do novo tempo. 

Uma famosa loja de casacos de Londres fez uma afirmação magistral: “Estamos há 127 anos no mercado, já vimos de tudo. Tivemos períodos de grande sucesso, mal conseguindo atender os produtos que oferecemos, ganhamos muito dinheiro, expandimos a fábrica, fizemos muitas contratações. Também já passamos por duas guerras mundiais, nossa loja foi incendiada, fomos assaltados duas vezes, passamos pela Grande Depressão, já decretamos falência mas ainda assim continuamos no mercado. Você deve estar perguntando porquê? A razão é simples: Não queremos perder o próximo capítulo.”

O conhecido pensador cristãos G.K. Chesterton afirma: “Fé é aquilo capaz de sobreviver a um estado de ânimo.” Então, quando estiver desencorajado considere o seguinte: Ainda temos todo um segundo tempo de jogo, não é hora de desanimar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Troque a dor por lembranças

 


No dia 12 de Agosto de 2021, faleceu de Covid-19, o ícone da teledramaturgia brasileira Tarcísio Meira trazendo comoção pública e familiar. Mocita Fagundes, sua nora, fez uma belíssima declaração publicada em muitos jornais: “O luto dói, o luto exaure a gente. Mas o luto também “te exige” um… recomeçar.  O exercício é trocar a dor pelas lembranças lindas.”

Que gigantesco desafio é este para pessoas que passam por grandes perdas. O problema é que, nem sempre a dor é facilmente elaborada, e assim transformamos a dor em mera dor. Ela não traz reflexão nem maturidade, e nos leva a um movimento fetal de introversão, não permitindo que saiamos do seu macabro ciclo. Quando a dor se torna tão onipotente, é impossível superá-la, e isto nos leva a uma paralisia pessoal. A dor prevalece e se torna senhora...dominando todas as áreas da vida.

Muitos conseguem transformar a dor em lembranças lindas. A saudade profunda se torna algo encorajador, levando a um aprofundamento e trazendo vida, generosidade, solidariedade, nos deixando mais humanos. Em alguns casos, um senso de enorme gratidão por ter sido abençoado de participar de uma vida que deixou tantas lembranças e se foi, na maioria das vezes, bem mais cedo que queríamos...

Sempre me surpreendi com as palavras de Cristo na hora em que ele distribuía o pão e vinho aos seus discípulos. “Tomando o pão, deu graças e repartiu dizendo: “Este é o meu corpo que é dado por vós, fazei isto em memória de mim”. Espantoso! Como dar graças a Deus por algo que aponta para seu sofrimento, para seu martírio e para a cruz? Aliás, Em essência, a palavra “Eucaristia” significa “ação de graças”, não é isto surpreendente?

O grande segredo é que Jesus não olhava a dor como mera dor. Ele via a dor como algo mais profundo. Sua dor apontava para uma oferenda de si mesmo, para algo redentivo. Sua morte trouxe vida. 

Tenho muito medo de fazer reflexão em cima da dor do outro, mas ao mesmo tempo, não posso me privar da possibilidade de ajudar aqueles que sofrem com uma reflexão que encoraje e ajude a dura caminhada no luto e nas doloridas perdas. Se pudermos transformar a dor em boas lembranças, o luto em algo produtivo, certamente isto será muito produtivo e cresceremos espiritualmente.

“Não é só pela morte que temos que sofrer. É pela vida. Pelas perdas. Pelas mudanças. Quando dói tanto que não se pode respirar, é assim que você sobrevive. O luto vem em seu próprio tempo para todos. À sua própria maneira. O melhor que podemos fazer é tentar nos permitir senti-lo, quando ele vem. E deixar pra lá quando podemos.” (Grey’s Anatomy)

Câmara de Ecos

 


 

Certamente você deve ter percebido que no seu grupo de amigos nas mídias sociais todos seus amigos, ou pelo menos grande maioria, pensa ideologicamente como você e parece que não há ninguém pensando de forma diferente. Cuidado! Provavelmente você está numa bolha, que leva todos a pensarem a mesma coisa e afirmarem apenas o que você concorda. 

 

A enciclopédia livre Wikipédia, afirma que “nos meios de comunicação, o termo câmara de eco é análogo a uma câmara de eco acústica, onde os sons reverberam em um invólucro oco. Uma câmara de eco, também conhecida como câmara de eco ideológica, é uma descrição metafórica de uma situação em que informações, ideias ou crenças são amplificadas ou reforçadas pela comunicação e repetição dentro de um sistema definido. As fontes dominantes muitas vezes são inquestionáveis e opiniões diferentes são censuradas ou desautorizadas. A maioria dos ambientes de câmara de eco dependem de doutrinação e propaganda, a fim de disseminar informação, sutil ou não, de modo a evitar que tenham habilidades de pensamento cético necessárias para desacreditar a desinformação óbvia.”

 

No filme Guerra Mundial Z , estrelado por Brad Pitt em 2013, uma pandemia de zumbis infectados ameaça destruir a humanidade. Apenas Israel conseguiu se proteger graças a um grupo de inteligência que convence Israel a construir um muro de proteção. No filme é feito menção à figura do “décimo homem” como sendo aquele que tem a obrigação de contestar o senso comum de um colegiado decisório e explorar piores cenários. Ele é aquele que decide ser contra todos, apresentando outros fatos e possibilidades. De fato, na inteligência de Israel, há um departamento que tenta olhar os fatos não na perspectiva comum, mas explora os piores cenários para impedir potenciais danos.

 

Este é o mesmo princípio milenar da Igreja Católica, que nomeia alguém para ser o “advogado do diabo” quando uma pessoa é indicada para ser canonizada. Sua função é tentar descredenciar a pessoa indicada ao título de santo. No mundo empresarial há uma terminologia nova, o compliance officer, que tem a função de estar atento a situações nunca vistas e antecipar a perda da competividade, alertar sobre futuros riscos e oportunidades, com uma visão que saia do senso comum.

 

As câmaras de ecos, ao contrário, levam as pessoas a procurarem  informações conforme suas opiniões, formando uma bolha na qual se amplia a segregação de ideias. Os sistemas de busca já sabem como fazer isto, fornecendo conteúdos de acordo com aquilo que você quer ver ou concorda. Por esta razão, grupos fechados em redes sociais são sujeitas a ver ideias iguais sendo repetidas várias vezes por outros membros, reforçando aquilo que acreditam, limitando-os a ter acesso a outras informações diferentes e relevantes sobre certos eventos, e as pessoas são expostas apenas a informações que reforçam suas crenças causando polarização. As câmaras de ecos não nos permitem ver um conjunto diversificado de opiniões.

 

Portanto, fique atento às informações que você está recebendo. Elas podem impedir que você tenha acesso a outros pontos de vista e obstruir sua capacidade de uma leitura crítica da realidade e dos acontecimentos que podem transformar a história.