Épocas de catástrofes tornam-se propensas para apocalipticismo, fatalismos, catastrofismos e teorias conspiratórias. É uma tentativa humana de organizar o caos, o nonsense, o absurdo. Busca-se, filosoficamente, explicar o trágico e a dor, controlar o desorganizado e caótico. No meio deste imbróglio, se a explicação estiver associada a Deus então ela passa a ter um peso ainda maior. Afinal, o sobrenatural explica tudo...
Neste ambiente, surgem algumas questões: “O que Deus tem a ver com tudo isto?”, “O caos seria uma forma de juízo de Deus?”, “A pandemia é uma forma de Deus punir os homens pelos seus pecados?”. Pregoeiros do juízo final logo dirão que sim, afinal, muitos relatos do Antigo Testamento associam, diretamente, tragédias e guerras a pecados de indivíduos ou nações. Seria hoje diferente?
O problema é que respostas simplistas são ineficazes. Diante da profunda dor de Jó, seus amigos tentaram dar explicações. Eles não tinham dúvida de que, se Jó estava sofrendo tanto, era por causa de seu pecado e sua dor era resultado do juízo de Deus. Entretanto, no desenrolar do texto, percebemos que Deus e o sofrimento não poderiam ser facilmente explicáveis como em uma equação do tipo 1+1=2. E isso é porque a dor transcende em muito nossas respostas organizadas e previamente estabelecidas.
O livro de Jó demonstra que “Deus é grande e não o podemos compreender” - (Jó 36.26) e que “Ele faz coisas grandes que não compreendemos” - (Jó 37.5). O próprio Jó, depois de suas elucubrações teológicas, reconhece: “Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia” - (Jó 42.3).
A dor, o mal e a morte são três problemas que os homens nunca conseguiram explicar, nem com toda sua ciência e pesquisa. Melhor que perguntar o porquê das coisas seria perguntar o para quê. Talvez o grande desafio não seja explicar a pandemia e o caos, mas perguntar: como ser melhor cidadão, melhor cristão, melhor pai, filho, amigo e irmão? Como ajudar aqueles que experimentam a dor e enfrentam perdas na família, que são irreparáveis; e perdas financeiras, que, embora reparáveis, geram muitas aflições e desconforto?
O coronavírus não é o fim do mundo, mas seus efeitos têm sido devastadores. Precisamos nos cuidar, proteger os mais vulneráveis, amparar uns aos outros. Isso é mais importante que responder questões filosóficas do tipo: “Deus está julgando o mundo?
Respostas a problemas complexos não são simples. Contudo, fazer uma ligação telefônica, ajudar os idosos a superarem esse momento de solidão, dar suporte financeiro aos necessitados e amparo aos que sofrem é muito mais eficaz que equacionar a tragédia, já que esses mistérios pertencem aos insondáveis mistérios de Deus.