Com o avanço da pesquisa
científica e a adoção de métodos cada vez menos ortodoxos, surgiram questões
ética imensas na discussão dos limites da ciência, ética e teologia. Para
algumas pessoas, o simples uso de animais em pesquisas científicas já seria suficientemente
inquietante, quanto mais quando se trata de mexer na essência da natureza
humana.
Em 2003, a Revista Seleções
trouxe uma reportagem sobre as pesquisas do Dr. Robert White, neurocirurgião
formado por Harvard, na época com 76 anos anos de idade que havia desenvolvido
o método de congelar o cérebro humano a fim de conservá-lo, para efetuar
cirurgias de grande porte, e que estava tentando realizar algo ainda mais
radical: o transplante de corpo inteiro. Simplesmente tirar a cabeça de uma
pessoa e colocá-la noutro corpo.
As pesquisas remontam o ano
de 1970. No dia 14 de março daquele ano uma equipe de neurocirurgiões sob sua liderança,
realizou o transplante de cabeça de um macaco em outro. Apesar de toda
complexidade e da longa duração da cirurgia, separaram a cabeça do tronco e a
prenderam num corpo acéfalo que estava ao lado e o animal retomou a consciência
até mesmo tentando morder o médico e sobrevivendo por 12 horas. Nas duas décadas
seguintes foram realizados mais 14 transplantes de corpo inteiro, chegando a
manter vivos os animais por até oito dias.
O projeto do Dr. White é
realizar tais cirurgias em seres humanos. Apesar de ser um católico praticante tendo
sido até recebido em entrevista por dois diferentes papas, nenhum deles
contestou suas pesquisas, embora não tenham exatamente abençoado a
transferência de cabeças humanas. Do seu ponto de vista o corpo não passa de um
ajuntamento de órgãos: O corpo apenas daria suporte à vida.
Naturalmente suas pesquisas
geraram uma série de reações adversas. Ele recebeu ameaças e teve que buscar a
proteção policial para sua família. O
Dr. Arthur Capan, diretor do Centro de Bioética da Universidade da Pensilvânia afirmou:
“A cirurgia é assustadora. A vida pós operatória seria insuportável. A
identidade da pessoa estaria mudada”.
Teoricamente seria possível
realizar tais cirurgias. A pergunta fundamental, porém, é a seguinte: Seria eticamente
correta? Seria possível transportar a consciência de um corpo para outro? Como
seria acordar depois de uma longa cirurgia e se ver no corpo de outra pessoa?
Até que ponto a ciência deve ir?
Suas cirurgias ainda levantam
questões mais complexas: O que significa ser humano? Como lidar com a
sacralidade do corpo? Qual o risco que a raça humana corre quando decide
brincar de ser Deus? Tais perguntas certamente não são fáceis de serem
respondidas. Nem sempre a ciência e a ética são facilmente reconciliáveis.
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