Muitos afirmam que o que
importa são as boas intenções, isto é, se a atitude for intencionalmente boa,
tudo está certo.
Será que tal afirmação é
verdadeira?
Em seu livro sobre o mal, o
pensador francês Michel Lacroix
tem um capítulo justamente sobre “os fracassos da vontade do bem”. Ele faz uma
pergunta angustiante, mas oportuna: “mesmo que queiramos o bem, teremos nós a
possibilidade de o concretizar”? Lacroix vai além e questiona: “Será possível
que, por uma espécie de maldição, a vontade do bem gere o próprio mal”?
Recentemente familiares da Maria Eduarda, uma menina de 13 anos que
foi morta dentro da Escola Daniel Piza, no dia 30 de abril, durante confronto entre policiais e
traficantes pediram ao governador do Rio o fim de incursões policiais na
hora da aula, entre 6h e 18h, através de uma lei chamada Maria Eduarda, num
raio de até 3 quilômetros de escolas.
Não é difícil entender a dor da família neste angustiante
quadro, mas boas intenções não são suficientes para resolver o complexo
problema da violência urbana. A entrada em vigor desta hipotética lei
transformaria os entornos das escolas em verdadeiros espaços
da bandidagem. Quando a polícia chegasse, eles correriam para perto
do colégio!
Muitas boas intenções ficam vazias se não estiverem acompanhadas
de atos que as transformem em realidade. A utopia econômica é uma delas. Muitos
teóricos sem conhecimento de causa, fazem de planos mirabolantes a sua causa,
sem considerarem as complexidades relacionadas ao assunto.
Embora muitos das boas intenções sejam realizadas
pensando no que é melhor, é possível que o resultado final não seja o esperado.
Muitas vezes tomamos decisões com base em sentimentos e, carregados de
ingenuidade, pensamos que tudo é possível se for feito de coração. A realidade,
porém nos revela que apesar das boas intenções, nossas ações impensadas podem
causar muitos danos.
Boas intenções quando não acompanhadas de conhecimento,
podem se tornar perigosas e prejudiciais. Muitos afirmam: “Basta ser sincero”,
mas a “sinceridade errada” é um desastre. Muitas mães, sem o saber, causaram
graves infecções e morte em seus filhos no interior de Minas Gerais, porque a
cultura rural do leste daquele Estado afirmava que o umbigo da criança recém
nascida cicatrizaria melhor se aplicasse “esterco de boi”. Estavam sinceramente
errados.
Daí o conhecido ditado: “O inferno está cheio de boas
intenções!” e o axioma jurídico: “A ignorância da lei não isenta o culpado”.