A vida exige de nós uma justaposição entre aquietar e inquietar...
Muitas vezes precisamos aquietar o coração, que se torna agitado demais, triste demais, angustiado demais. O medo e a ansiedade podem nos consumir muito mais rápido do que imaginamos. Muitos estão preocupados com a saúde física e o corpo, e certamente precisamos da alimentação adequada e cuidados físicos, contudo o nível de stress e adrenalina podem ser mais danosos que um sanduíche suculento ou vida sedentária que aos poucos e silenciosamente vão nos destruindo de dentro para fora. Pessoas engolidas pela culpa, angústia, ansiedade, insegurança quanto ao futuro e o medo das más notícias podem desenvolver sérias complicações psicossomáticas, infarto e câncer. Certo oncologista famoso costuma perguntar aos seus clientes: “por que você precisa deste câncer?”. Ele drasticamente afirma que “câncer é mágoa”.
Precisamos encontrar espaço para a serenidade e paz, trazer a vida para o centro, descansar, equilibrar os polos das exigências sociais, lazer e espiritualidade. A alma precisa de sossego para refletir, meditar, descansar. É necessário trégua, baixar as armas.
“Ecossistema” é uma palavra que vem do grego “oikos” e tem a ver com a condição de sustentabilidade que um organismo vivo precisa para a sobrevivência. Quando o sistema sofre alterações significativas, ou dramáticas mudanças danifica o equilíbrio e gera a fragmentação na ordem da natureza.
Por outro lado, precisamos paradoxalmente de inquietação.
É fácil nos acomodarmos com hábitos e comportamentos ruins, que precisam sofrer certa ruptura para que uma nova ordem seja estabelecida. Perguntaram a um mestre de espiritualidade qual a coisa mais importante da vida e sua resposta surpreendeu a todos: “bagunça!”. Ele justificou sua resposta dizendo que o caos pode ser o fator propulsor para grandes e novas oportunidades.
Precisamos ser inquietados quanto à nossa indolência e preguiça. É fácil nos acomodarmos a uma trágica “preguiça existencial e mental”, desenvolver um quadro de apatia e indiferença quanto à vida e a falta de vontade de viver. O conformismo pode ser intelectual, físico ou espiritual. É fácil se conformar com a mediocridade, com a pobreza, com o descaso. Precisamos nos inquietar com os pecados de estimação e o mal aninhado e domesticado que inconscientemente cultivamos. Temos, não raramente, vivido confortavelmente instalados quando deveríamos viver de forma desinstalada para ter mais ousadia e desenvolver a fé. Caso contrário podemos viver como porcos de granja aguardando a hora da morte.
Lendo o velho e sagrado livro, encontrei o seguinte texto: “O Senhor... pleiteará a causa deles para aquietar a terra e inquietar os moradores da Babilônia” (Jr 50.34).
Deus dialeticamente aquieta e inquieta.
É necessário aquietar os inquietos e inquietar os acomodados.
Deus precisa inquietar os poderosos. O Império babilônico havia massacrado pequenas vilas e reinos. Construiu um sistema de dominação e abuso, aproveitava-se de sua truculência vilipendiando as nações vizinhas à base da força e da opressão, extrapolando todos os limites da racionalidade e do direito, transformando homens livres em escravos, roubando a pureza das crianças que habitavam em paz nos seus redutos agrícolas, humilhando-as e coisificando-as. O mal deveria ser contido. A Babilônia segura e intocável seria inquietada pelo próprio Deus . A segurança construída sobre a ganância e ódio seria desestruturada. Deus inquietaria a Babilônia, com toda sua luxúria e inescrupulosidade.
Esta dialética divina precisa acontecer. Os acomodados com aquilo que deve incomodar. Aos incomodados com graça, descanso e serenidade.
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