O homem moderno ocidental perdeu
a arte da meditação, esta capacidade de refletir densamente sobre a vida, sobre
Deus, sobre uma frase, pensamento, conceito, deixando que a mente aprofunde, os
músculos relaxem e o coração descanse.
Muitos consideram a meditação uma
perda de tempo, afinal, nos tornamos experts em atividades, entretenimento,
planejamento. É a vitória do “homem de ação!”, marcado pela proatividade e
parar a vida para refletir, pode parecer piegas, coisa de gente religiosa, mera
distração burguesa ou até mesmo preguiça.
Vemos muitas pessoas hoje obcecadas por fisiculturismo, uma espécie de
culto ao corpo, como o próprio termo sugere; mas poucas pessoas interessadas em
reflexão.
Meditação, contudo, traz ótimos
benefícios para a vida, como a serenidade, descanso interior, quebra da rotina
e atividade, paz de espírito e equilíbrio emocional, por isto atividades
voltadas para este tema tem sido recomendadas por médicos e terapeutas como
meio de equilibrar as tensões.
Meditação e oração andam juntas,
mas possuem grandes diferenças no conteúdo e forma. Oração é um meio de falar
com um Ser que encontra-se “fora”, ela se dirige a Deus, há um diálogo
presumível com o Eterno. Na meditação, temos uma introspecção e reflexão: olhamos
para dentro, consideramos os eventos e refletimos. É possível meditar sem orar
e orar sem meditar. Qualquer uma destas práticas isoladas é capenga porque
considera apenas um aspecto da questão e por isto pode trazer sérias
distorções.
Por exemplo, podemos orar
irrefletidamente, balbuciar fórmulas ou mantras sem sentido, apenas para
atender um apelo neurótico e repetitivo de um ritual vazio. Neste caso não
conversamos com Deus; apenas tagarelamos. Jesus condenou as “vãs repetições” de
pessoas que presumiam que “pelo seu muito falar seriam ouvidas” (Mt 6.7). Isto
é oração sem reflexão, sem aprofundamento da alma, sem meditar no que faz ou
mesmo considerar Àquele a quem se dirige a prece.
Por outro lado, podemos meditar
sem orar. Neste caso, falamos apenas com nosso ser interior, e não consideramos
a dimensão da sobrenaturalidade, do Outro, do Eterno que nos ouve. Achamos que
a resposta está dentro de nós, uma espécie de auto-ajuda barata. Muitas vezes
não temos resposta alguma em nós, e isto gera mais pânico que solução, como bem
afirmou Lloyd Jones: “Reflexão é positiva, introspecção é mórbida”. Muitos
meditam para se esvaziar, quando já estão vazios – de sentido, propósito e
valor. O espaço vazio facilmente se torna um universo de confusão.
Meditação com oração, entretanto,
nos plenifica. O grande desafio é orar, meditando; e meditar, orando. Os
cristãos sempre usam os textos sagrados contidos nas Escrituras para refletir
sobre Deus e seus princípios, além de outros devocionais para orientar a
reflexão. Muitas vezes isto é transformador.
O Salmo 1 afirma: “Bem aventurado
é o homem que tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de
noite”. Meditar nas promessas de Deus, refletir sobre seu princípios é sempre
restaurador para a mente e emoções. Se você não tem ainda esta pratica, comece
em doses homeopáticas, com moderação. Quem sabe 10 minutos diários, sem barulho
ou intervenção de motores, conversas, celulares ou computadores. Considere
determinados pensamentos, peça a graça de Deus sobre seu coração agitado, eleve
sua mente à Deus, leve sua família e negócios ao Pai celestial. Descanse. Não
tenha pressa. Sossegue. Deixa sua alma fecundar. Muito de sua esterilidade e
ausência de sentido tem a ver com o fato de que você perdeu o eixo central de
sua vida. Deixe seu coração ser fecundado no silêncio, oração e meditação. Há
muito barulho do lado de fora, e muito barulho interno. O profeta Isaias
afirmou: “em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação”.