quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Meditação


O homem moderno ocidental perdeu a arte da meditação, esta capacidade de refletir densamente sobre a vida, sobre Deus, sobre uma frase, pensamento, conceito, deixando que a mente aprofunde, os músculos relaxem e o coração descanse.
Muitos consideram a meditação uma perda de tempo, afinal, nos tornamos experts em atividades, entretenimento, planejamento. É a vitória do “homem de ação!”, marcado pela proatividade e parar a vida para refletir, pode parecer piegas, coisa de gente religiosa, mera distração burguesa ou até mesmo preguiça.  Vemos muitas pessoas hoje obcecadas por fisiculturismo, uma espécie de culto ao corpo, como o próprio termo sugere; mas poucas pessoas interessadas em reflexão.
Meditação, contudo, traz ótimos benefícios para a vida, como a serenidade, descanso interior, quebra da rotina e atividade, paz de espírito e equilíbrio emocional, por isto atividades voltadas para este tema tem sido recomendadas por médicos e terapeutas como meio de equilibrar as tensões. 
Meditação e oração andam juntas, mas possuem grandes diferenças no conteúdo e forma. Oração é um meio de falar com um Ser que encontra-se “fora”, ela se dirige a Deus, há um diálogo presumível com o Eterno. Na meditação, temos uma introspecção e reflexão: olhamos para dentro, consideramos os eventos e refletimos. É possível meditar sem orar e orar sem meditar. Qualquer uma destas práticas isoladas é capenga porque considera apenas um aspecto da questão e por isto pode trazer sérias distorções.
Por exemplo, podemos orar irrefletidamente, balbuciar fórmulas ou mantras sem sentido, apenas para atender um apelo neurótico e repetitivo de um ritual vazio. Neste caso não conversamos com Deus; apenas tagarelamos. Jesus condenou as “vãs repetições” de pessoas que presumiam que “pelo seu muito falar seriam ouvidas” (Mt 6.7). Isto é oração sem reflexão, sem aprofundamento da alma, sem meditar no que faz ou mesmo considerar Àquele a quem se dirige a prece.
Por outro lado, podemos meditar sem orar. Neste caso, falamos apenas com nosso ser interior, e não consideramos a dimensão da sobrenaturalidade, do Outro, do Eterno que nos ouve. Achamos que a resposta está dentro de nós, uma espécie de auto-ajuda barata. Muitas vezes não temos resposta alguma em nós, e isto gera mais pânico que solução, como bem afirmou Lloyd Jones: “Reflexão é positiva, introspecção é mórbida”. Muitos meditam para se esvaziar, quando já estão vazios – de sentido, propósito e valor. O espaço vazio facilmente se torna um universo de confusão.
Meditação com oração, entretanto, nos plenifica. O grande desafio é orar, meditando; e meditar, orando. Os cristãos sempre usam os textos sagrados contidos nas Escrituras para refletir sobre Deus e seus princípios, além de outros devocionais para orientar a reflexão. Muitas vezes isto é transformador.

O Salmo 1 afirma: “Bem aventurado é o homem que tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite”. Meditar nas promessas de Deus, refletir sobre seu princípios é sempre restaurador para a mente e emoções. Se você não tem ainda esta pratica, comece em doses homeopáticas, com moderação. Quem sabe 10 minutos diários, sem barulho ou intervenção de motores, conversas, celulares ou computadores. Considere determinados pensamentos, peça a graça de Deus sobre seu coração agitado, eleve sua mente à Deus, leve sua família e negócios ao Pai celestial. Descanse. Não tenha pressa. Sossegue. Deixa sua alma fecundar. Muito de sua esterilidade e ausência de sentido tem a ver com o fato de que você perdeu o eixo central de sua vida. Deixe seu coração ser fecundado no silêncio, oração e meditação. Há muito barulho do lado de fora, e muito barulho interno. O profeta Isaias afirmou: “em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação”.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Pensamentos... quando não estou pensando.


Rubem Alves, filósofo e professor na Unicamp, escreveu um livro com o titulo para lá de exótico: “Pensamentos que Penso Quando Não Estou Pensando”, com suas tiradas geniais, o autor comentou em entrevista sobre o título do livro: “Parece um título doido’'. Sem dúvida, pelo menos instigante é.

Alves explica suas reflexões: “Há os pensamentos diurnos, aqueles que a gente pensa porque tem de pensar. Incluem obrigações, raciocínios matemáticos, históricos, conjunturais. Análise das circunstâncias em que estamos mergulhados no dia-a-dia, esforços variados para compreender os outros e suas atitudes. Mas, felizmente, há também aqueles pensamentos que surgem do nada. Em geral, além de imprevistos, eles são divertidos, frutos de uma observação de um outro Eu que vive escondido dentro de nós. São imagens que nos levam por caminhos nunca dantes trilhados, que tangenciam nossa atenção desperta”.

Na verdade, muitas ideias criativas, surgiram quando as pessoas se “desligaram” da obrigatoriedade de pensar.

Segundo a lenda, A lei da gravitação universal foi formulada pelo físico Isaac Newton quando  uma maçã caiu sobre sua cabeça e, por observar que a maçã caiu por algum motivo, concluiu que alguém a estaria “puxando” e este alguém seria a terra. Mas ele foi mais além e sugeriu que os corpos se atraem, ou seja, não é somente a Terra que atrai todos os corpos do universo, mas todos os corpos do universo que possui massa atraem outros corpos que também possuem massa.

Muitos negócios bem-sucedidos surgem por causa de uma boa ideia. Algumas parecem tão simples que nos perguntamos por que ninguém havia pensado antes sobre isto, outras são tão revolucionárias que fica difícil imaginar como uma pessoa tenha pensado sobre o tema e o processo. Seja como for, fica sempre a pergunta sobre a origem de tais inspirações.

Casos de sucesso tem sido estudados e debatidos, e muitos empreendedores têm escrito suas próprias histórias, afirmando que ainspiração pode vir de qualquer lugar — situações do dia a dia, paixões e do próprio subconsciente. E que é preciso estar atento ao que acontece ao redor.

o jornal The Wall Street Journal foi atrás de especialistas para ouvir o que eles tinham a dizer, e eis algumas de suas observações:

Primeiro, “Preste atenção ao que está te incomodando”-   “Ideias para startups muitas vezes surgem a partir de um simples problema que precisa ser resolvido. E elas não costumam vir apenas quando você está sentado tomando um cafezinho e contemplando a vida. (David Cohen)

A segunda dica é “Você nunca está velho demais” (Vivek Wadhwa) — “o empresário típico da área de tecnologia é um profissional de meia-idade... a idade média de um empreendedor de sucesso em indústrias de alto crescimento é de 40 anos”.

Em terceiro lugar, “Esteja presente e viva a vida” - (Angela Bento,) —“É fácil perder uma parte potencial de ideias inovadoras quando estas estão bem debaixo do seu nariz se você não estiver presente”.

Em quarto lugar, Deixe seu subconsciente fazer o trabalho (Ben Baldwin) — “Quando a mente está ocupada com uma tarefa monótona, pode estimular o subconsciente a ter um 'click'. O subconsciente trabalha em segundo plano e afeta silenciosamente o resultado de muitos outros pensamentos”.

Quinto, Pense em coisas e lugares estranhos (Victor W. Hwang) — “Caminhe em lugares estranhos: faça caminhadas em bairros escondidos dos subúrbios, Quando você está andando sem propósito, vê as coisas com outros olhos, de maneira nova, porque tem o luxo de estar ali, atento a detalhes diferentes”.

Sexto, Ouça aqueles que sabem das coisas (Dave Lavinsky) — “Os empresários podem ter grandes ideias simplesmente ouvindo outras pessoas”.

Diante disto considere que, se você está num momento pouco produtivo da vida, não se assuste: a ausência de um pensar sistemático e rotineiro, pode abrir espaço para aqueles pensamentos que surgem do nada, e que além de imprevistos, são divertidos e em muitos casos, extremamente produtivos e revolucionários. 

sábado, 14 de janeiro de 2017

Otimismo



Recentemente o escritor e historiador sueco Johan Norberg escreveu o livro “Progresso: dez motivos para olhar para frente” defendendo que apesar dos políticos populistas afirmarem e a maioria acreditar que o mundo está piorando os dados indicam que a humanidade vive o melhor momento da sua história. “O mundo está melhorando rapidamente. Na verdade, nunca antes o mundo melhorou tão rápido. A cada minuto desta conversa, cem pessoas saem da pobreza”, argumenta.

O cientista cognitivo Steven Pinker, professor de Harvard, também defende a mesma tese, demonstrando que apesar das barbáries e contradições da raça humana, vivemos na época mais pacífica e próspera da história. “As pessoas, em todos os cantos do mundo, estão mais ricas, gozam de mais saúde, são mais livres, têm mais educação, estão mais pacíficas e desfrutam de uma maior igualdade do que nunca antes... Todas as estatísticas indicam que melhoramos. Em geral, a humanidade se encontra melhor que nunca.”

Os adultos desfrutam de vidas mais longas, a mortalidade infantil caiu a um quarto do que era há algumas décadas. Em 1960, de cada cinco crianças nascidas uma morria antes de completar cinco anos; agora, 19 de cada 20 sobrevivem. A riqueza também se multiplicou. Desde 1980, o percentual de pessoas que vivem na pobreza extrema foi reduzido em 75%. Apesar da violência no Brasil, a violência retrocede estatisticamente no mundo. Durante o século XX, ela provocou 5% das mortes, e hoje só é responsável por 1% da mortalidade global. A porcentagem de pessoas que não sabia ler em 1900 era de 80%, hoje apenas 17%. A pobreza extrema em 1980 era de 41%, hoje 12%.

Segundo Norberg por termos mais acesso às notícias e à comunicação, e as más notícias serem vendidas mais facilmente, ficamos sabendo de um novo incidente a cada minuto. Assim, as crises econômicas e de migração, bem como os horrores do Estado Islâmico entram quase diariamente nos nossos lares através de inúmeros e diversificados canais, dando-nos a impressão de caos.

Talvez esta questão possa ser analisada por ângulos diferentes:  Podemos dizer que econômica e tecnologicamente o mundo é muito melhor, embora não o seja moral e espiritualmente. Apesar dos avanços da genética na pecuária, e da mecanização das lavouras e o tecnicismo na indústria, é inconcebível imaginar que com tanta abundância, cerca de 500 milhões de pessoas hoje dormirão com fome em algum lugar do planeta.

A verdade é que a natureza humana essencialmente é a mesma: regida pela ambição, egoísmo, auto glorificação, luxo patético, corrupção e acúmulo exagerado de bens. Neste sentido, o homem continua sendo o mesmo.

Jesus descreveu assim o coração do homem: “Porque, de dentro do coração dos homens é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, a blasfêmia, as malicia, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vem de dentro e contaminam o homem” (Mc 7.21-23).

Por conhecer a natureza humana e seus desvarios, Jesus propôs algo radical. Não uma reforma social, tecnológica ou política, mas algo estranho, do tipo “nascer de novo”, uma ação do Espírito de Deus que tocaria na essência e no ser mais profundo do homem, e por ser algo tão revolucionário e radical, apenas Deus seria capaz de fazer: “Quem é nascido de carne é carne, não admires de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo”. Somente a obra profunda de Deus no ser humano é capaz de resgatar o propósito original para o  qual ele nos criou, ou seja, sermos sua imagem e semelhança. 

sábado, 7 de janeiro de 2017

Desapego




Uma das palavras de ordem do tempo presente é “desapego”. Trata-se da necessidade de não se prender a coisas que já foram necessárias, mas que no momento só ocupam espaço. Pesquisadores, estudiosos e até mesmo o presidente da Ikea, que é uma das lojas mais incríveis de venda de tudo quanto é útil e inútil, de essenciais e supérfluos, veio a público recentemente criticar a atitude de pessoas que compram muitas coisas que nunca usarão.

Milton Jung, um dos comentaristas da rede CBN de notícias, afirmou recentemente que resolveu limpar os armários e gavetas de sua casa e para seu espanto descobriu que encontrou, nada menos, que trinta fones de ouvido. Aproveitou para perguntar aos seus colegas, o que eles tirariam de sua casa para entrar na onda do desapego, e as respostas foram as mais variadas, desde camisas, roupas, fitas de VHS, filmes, móveis, quadros e livros. E você, o que tiraria?

A tendência minimalista e a cultura do desapego, tem chega à conclusão que ter menos pode significar ter mais, e pode ajudar até mesmo na felicidade humana. Pessoas acumuladoras tendem a ser mais egoístas, narcisistas e depressivas que as pessoas que aprendem a repartir e desapegar.

Infelizmente, muitas pessoas tem assumido a postura de, não havendo espaço na casa ou no apartamento, fazer closets maiores ou, até mesmo, guardar objetos não utilizáveis num depósito, pagando alugueis e esperando que, em algum momento, venham a utilizar seus pertences. O resultado geralmente é mais traça, cupim, acúmulo de coisas e mais despesas. Determinados objetos já foram ou até podem ser importantes  no momento, mas eventualmente nunca mais serão usadas.

No extremo de reter, existe uma doença psiquiatricamente analisada que é característica dos acumuladores, que guardam objetos, souvenirs, lembranças e até tranqueiras, entulhando suas casas, mas não são capazes de doar ou abrir mão de absolutamente nada. Esta incapacidade de se livrar, só serve mesmo para gerar mais ansiedade, tensão e preocupação.

Experts sugerem que se temos tendência a tais atitudes, é importante tomar algumas precauções: primeiramente, não compre aquilo que não é essencial; segundo, se já tem demais, aprenda a dividir; terceiro, não construa mais armários, para ter mais espaço. Você não precisa de mais, mas é fundamental simplificar seu estilo de vida; quarto, aprenda que doar é uma benção para quem recebe, mas uma benção para quem dá. Hans Burke afirma: “Mais da mesma coisa nos leva para o mesmo lugar”. Quinto, cuidado com o auto-engano: acumuladores nunca acham que tem demais. Amigos ou cônjuges, podem ajudar a superar este perigoso ciclo de acúmulos.

Quando Rockefeller se tornou o homem mais rico do planeta, um jornalista lhe perguntou quanto de dinheiro a mais ele queria. Sua resposta é clássica: “ Só um pouquinho a mais”.